Qual é o processo de formação de palavras que embasa a cons...
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Ano: 2024
Banca:
IBADE
Órgão:
Prefeitura de São Felipe D`Oeste - RO
Prova:
IBADE - 2024 - Prefeitura de São Felipe D`Oeste - RO - Pregoeiros / Agente de Contratação |
Q2488755
Português
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Você amou de verdade?
Lógico que não falo aqui do amor que circula pelas redes,
volátil e preguiçoso, dançando uma coreografia pobre ao
ritmo dos cliques e algoritmos. A questão é mais profunda.
Renato de Faria | 18/03/2024
De todas as questões humanas, essa é aquela nos
pega, sem avisar, em um domingo qualquer, em uma
segunda sem razão ou naquela quarta insossa. Repare que
o ponto central não é, como parece, a capacidade
filosófica de encontrar a verdade, mas a disposição para a
nobreza de amar.
Sei que a filosofia, a sociologia e a ciência política
tentam separar as coisas de uma forma conceitual:
esquerda e direita, materialistas e espiritualistas,
proletariado e burguesia. Porém, acredito que, no fim das
contas, a separação mais fundamental é entre aqueles que
amam e os outros que dispensaram o sopro divino do
amor.
Cansamos da política, das análises científicas, das
pesquisas acadêmicas. Mas nunca ouvi ninguém revestido
da empáfia de “se cansar de amar”. Isso se dá pelo efeito
renovador que esse sentimento é capaz de gerar nos
sujeitos que decidem carregá-lo. O amor é aquele
sentimento fundamental que nos autoriza a viver a vida
com certa elegância existencial. Aqueles que amam são
percebidos à distância, como ilhas de sabedoria diante do
caos.
Do lado daqueles e daquelas capazes de amar, o
mundo se abre diante de um convite à renovação diária,
como salienta Hannah Arendt em sua tese sobre Santo
Agostinho. Ao contrário de seu mestre, Heidegger, para
quem o homem é um “ser-para-a-morte”, tendo a finitude
diante de si, a filósofa destaca que somos destinados a
“nascer”, o “amor mundi”, pois cada vida que surge traz
consigo a possibilidade de uma mudança substancial na
escrita da história.
Lógico que não falo aqui do amor que circula pelas
redes, volátil e preguiçoso, dançando uma coreografia
pobre ao ritmo dos cliques e algoritmos. A questão é mais
profunda, pois se trata de uma busca que contorna a vida
inteira, no fluxo incerto de uma realidade que está sempre
disposta a nos mostrar a desvantagem na qual se
encontram aqueles que decidem amar.
Como nos lembra o próprio Agostinho, retomando
João, o Apóstolo, não podemos pensar no amor como o
fim da existência, pois ele é, ao contrário, o princípio de
tudo: “Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás
com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se
perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor
enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os
teus frutos”.
Acredito que, quando a aventura terrena
terminar, se alguma divindade estiver realmente nos
esperando do lado de lá, talvez a única pergunta relevante
seja - você amou de verdade? E ela não se importará em
qual templo você fez isso, a partir de qual ideologia ou
para quem você direcionou essa força criadora, pois o
amor nada mais é que a transgressão divina diante de um
mundo caduco, acelerado e perdido.
No fim das contas, o importante mesmo será o
fato de ter experimentado, em vida, o único sentimento
reservado aos deuses, que sabiamente conseguimos
roubar do Olimpo. Só assim seremos capazes de entender
a linguagem da eternidade.
Fonte: FARIA, Renato de. Você amou de verdade? Estado de Minas, 18 de
março de 2024. Disponível em:
https://www.em.com.br/colunistas/filosofiaexplicadinha/2024/03/6820298-voce-amou-de-verdade.html. Acesso em:
10 abr. 2024. Adaptado.
Qual é o processo de formação de palavras que embasa a
construção do vocábulo ser-para-a-morte?