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Q574514 Português

                                                              FESTA

Uma explicação simples para a proliferação nas favelas e nos subúrbios de campinhos de terra batida: o futebol, no Brasil, é esse fenômeno que leva à gloria e à fortuna um menino pobre, quase sempre negro ou mulato, o que já o situa em um país que aboliu a escravidão mas não a sua herança.

Pelé ou Neymar, esse menino serve de espelho às esperanças de um povo inteiro a quem o futebol oferece uma oportunidade — rara, quase única — de se sentir o melhor do mundo. A centralidade do futebol na vida dos brasileiros é razão de sobra para vivermos este mês em estado de euforia como se na Copa do Mundo estivesse em jogo a nossa identidade. (...)

A Copa do Mundo revela ambiguidades de nosso tempo. Um bilhão e meio de pessoas assistem às mesmas imagens confirmando o avanço da globalização. Mas o conteúdo das imagens a que todos assistem afirma os pertencimentos nacionais, expressos com símbolos ancestrais, bandeiras, emblemas, hinos entoados com lágrimas nos olhos. O nosso é cantado a capela pelos jogadores e uma multidão em verde e amarelo desafiando o regulamento da FIFA, entidade sem pertencimento que salpica no espetáculo, em poucas notas mal tocadas, o que para cada povo é a evocação emocionada de sua história. No mundo de hoje comunicação e mobilidade se fazem em escala global, mas os sentimentos continuam tingidos pelas cores da infância.

O respeito às regras, saber ganhar e saber perder, são conquistas de um pacto civilizatório cuja validade se testa a cada jogo. (...)

O futebol é useiro e vezeiro em contrariar cenários previsíveis. O acaso pode ser um desmancha-prazeres. A multidão que se identifica com os craques e que conta com eles para realizar o gesto de grandeza que em vidas sem aventuras nunca acontece, essa massa habitada pela nostalgia da glória deifica os jogadores e esquece — e por isso não perdoa — que deuses às vezes tropeçam nos próprios pés, na angústia e no medo.

É essa irrupção do acaso que faz do futebol mais do que um esporte, um jogo, cuja emoção nasce de sua indisfarçada semelhança com a própria vida, onde sucesso ou fracasso depende tanto do imponderável. Não falo de destino porque a palavra tem a nobreza das tragédias gregas, do que estava escrito e fatalmente se cumprirá. O acaso é banal, é próximo do absurdo. É, como poderia não ter sido. Se o acaso é infeliz chamamos de fatalidade. Feliz, de sorte. O acaso decide um jogo. Nem sempre a vida é justa, é o que o futebol ensina.

(...)

A melhor técnica, o treino mais cuidadoso estão sujeitos aos deslizes humanos.

(...)

O melhor do futebol é a alegria de torcer. Essa Copa do Mundo vem sendo uma festa vivida nos estádios, nas ruas e em cada casa onde se reúnem os amigos para misturar ansiedades. A cada gol da seleção há um grito que vem das entranhas da cidade. A cidade grita. Nunca tinha ouvido o Rio gritar de alegria. Um bairro ou outro, talvez, em decisões de campeonato. Nunca a cidade inteira, um país inteiro. Em tempos de justificado desencanto e legítimo mau humor, precisamos muito dessa alegria que se estende noite adentro nas celebrações e na confraternização das torcidas. 

Passada a Copa, na retomada do cotidiano, é provável que encontremos intactos o desencanto e o mau humor, já que não há, à vista, sinais de mudança no que os causou. Uma razão a mais para valorizar esse tempo de alegria na vida de uma população que, no jogo da vida, sofre tantas faltas.

                                    (OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. Festa. Seção: Opinião. O Globo, 21.6.2014, p. 20). 

O elemento abaixo destacado que exerce uma função discursiva diferente das demais pelo fato de a referência não estar no texto (função anafórica), mas fora dele é:
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Comentários

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Letra C. Algumas palavras têm função exofórica (também chamada dêitica ou díctica), isto é, fazem referência a elementos que estão fora do texto, pois estão atrelados à situação estabelecida no momento de produção do texto. Essas expressões têm seu valor semântico dependente da situação geral em que o texto foi produzido. Normalmente são palavras dêiticas:

1. os pronomes pessoais de primeira pessoa, para o falante;

2. os pronomes pessoais de segunda pessoa e os pronomes de tratamento, para o ouvinte;

3. os referenciadores do momento da produção textual;

4. os referenciadores do local de produção textual.

A questão NÃO é difícil, mas que derruba por ser trabalhosa de buscar a resposta.  Vira e volta ao texto várias vezes. Quase 15minuts só pra responde-la e ainda acabar errando.

 a) (...) o futebol, no Brasil, é esse fenômeno que leva (1º §);

Qual fenômeno? O futebol!

 b) (...) Pelé ou Neymar, esse menino serve (...) ( 2º §); 

Qual menino? Neymar!

 c) (...) para vivermos este mês em estado de euforia (...) (2º §); 

Qual mês? O mês em que se escreve o texto. (Não está mencionado no texto, mas sabemos ser Junho/Julho por causa da Copa).

 d) (...) essa massa habitada pela nostalgia da glória (5º §);

Qual massa? A multidão que se identifica com os craques...

 e) (...) precisamos muito dessa alegria (...) (8º §).

Qual alegria? A alegria de torcer.

letra C é um DEITICO ...

uma dica para esta questão, é procura o pronome que não tem um referente anteriormente já citado.

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