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Q574524 Português

                                                              FESTA

Uma explicação simples para a proliferação nas favelas e nos subúrbios de campinhos de terra batida: o futebol, no Brasil, é esse fenômeno que leva à gloria e à fortuna um menino pobre, quase sempre negro ou mulato, o que já o situa em um país que aboliu a escravidão mas não a sua herança.

Pelé ou Neymar, esse menino serve de espelho às esperanças de um povo inteiro a quem o futebol oferece uma oportunidade — rara, quase única — de se sentir o melhor do mundo. A centralidade do futebol na vida dos brasileiros é razão de sobra para vivermos este mês em estado de euforia como se na Copa do Mundo estivesse em jogo a nossa identidade. (...)

A Copa do Mundo revela ambiguidades de nosso tempo. Um bilhão e meio de pessoas assistem às mesmas imagens confirmando o avanço da globalização. Mas o conteúdo das imagens a que todos assistem afirma os pertencimentos nacionais, expressos com símbolos ancestrais, bandeiras, emblemas, hinos entoados com lágrimas nos olhos. O nosso é cantado a capela pelos jogadores e uma multidão em verde e amarelo desafiando o regulamento da FIFA, entidade sem pertencimento que salpica no espetáculo, em poucas notas mal tocadas, o que para cada povo é a evocação emocionada de sua história. No mundo de hoje comunicação e mobilidade se fazem em escala global, mas os sentimentos continuam tingidos pelas cores da infância.

O respeito às regras, saber ganhar e saber perder, são conquistas de um pacto civilizatório cuja validade se testa a cada jogo. (...)

O futebol é useiro e vezeiro em contrariar cenários previsíveis. O acaso pode ser um desmancha-prazeres. A multidão que se identifica com os craques e que conta com eles para realizar o gesto de grandeza que em vidas sem aventuras nunca acontece, essa massa habitada pela nostalgia da glória deifica os jogadores e esquece — e por isso não perdoa — que deuses às vezes tropeçam nos próprios pés, na angústia e no medo.

É essa irrupção do acaso que faz do futebol mais do que um esporte, um jogo, cuja emoção nasce de sua indisfarçada semelhança com a própria vida, onde sucesso ou fracasso depende tanto do imponderável. Não falo de destino porque a palavra tem a nobreza das tragédias gregas, do que estava escrito e fatalmente se cumprirá. O acaso é banal, é próximo do absurdo. É, como poderia não ter sido. Se o acaso é infeliz chamamos de fatalidade. Feliz, de sorte. O acaso decide um jogo. Nem sempre a vida é justa, é o que o futebol ensina.

(...)

A melhor técnica, o treino mais cuidadoso estão sujeitos aos deslizes humanos.

(...)

O melhor do futebol é a alegria de torcer. Essa Copa do Mundo vem sendo uma festa vivida nos estádios, nas ruas e em cada casa onde se reúnem os amigos para misturar ansiedades. A cada gol da seleção há um grito que vem das entranhas da cidade. A cidade grita. Nunca tinha ouvido o Rio gritar de alegria. Um bairro ou outro, talvez, em decisões de campeonato. Nunca a cidade inteira, um país inteiro. Em tempos de justificado desencanto e legítimo mau humor, precisamos muito dessa alegria que se estende noite adentro nas celebrações e na confraternização das torcidas. 

Passada a Copa, na retomada do cotidiano, é provável que encontremos intactos o desencanto e o mau humor, já que não há, à vista, sinais de mudança no que os causou. Uma razão a mais para valorizar esse tempo de alegria na vida de uma população que, no jogo da vida, sofre tantas faltas.

                                    (OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. Festa. Seção: Opinião. O Globo, 21.6.2014, p. 20). 

Assinale a passagem do texto que exemplifica uma estrutura passiva pronominal (também chamada de passiva sintética):
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Dica:Na alternativa, tem que ter o SE partícula apassivadora. Transforme-o em verbo SER, mantendo o sentido original da frase.  Resposta letra B: comunicação e mobilidade são feitas

Fonte: http://espacohebervieira.net/informativos/2014/09/25/183/

Sempre que pedirem voz passiva sintética, querem uma frase que tenha um "se" na função de partícula apassivadora. Para que isso ocorra, faz-se necessário que o verbo ligado ao si seja transitivo direto ou transitivo indireto. Quando isso ocorrer, o objeto direto da frase deixará de exercer função sintática de OD para ser sujeito.

Reparem que é o que ocorre na letra "b", na qual temos um verbo VTD (fazer, quem faz, faz algo). Por esse motivo, "comunição e mobilidade" exercem  a função de sujeito da oração. Repare que se tirassemos um deles, deixando, por exemplo, apenas "comunicação", o verbo passaria para o singular, o que prova que são sujeitos.

Letra B.

 

 a)  oportunidade (...) de se sentir o melhor do mundo (2º §); - Oportunidade de quê? Então é verbo VTI, portanto o "se" é Índice de indeterminação do sujeito.

 b) comunicação e mobilidade se fazem em escala global (3º §); - Fazem o quê? Verbo VTD, portanto o "se" é Partícula apassivadora.

 c) o nosso [hino] é cantado a capela pelos jogadores (...) (3º §); - Cantado nesse caso só indica passado, está na forma de particípio.

 d) a multidão que se identifica com os craques (...) (5º §); - Identifica com quem? Então é verbo VTI, portanto o "se" é Índice de indeterminação do sujeito.

 e) é, como poderia não ter sido (8º §). Ser nesse caso só indica passado, está na forma de particípio.

Gabarito B. Primeiro de tudo, tem que see VTD ou VTDI. Caso nao consiga com apenas essa análise, veja a concordancia, passando para o plural ou vice-versa, pois na PA há concordancia.

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