Na passagem “Nas caras não há senão a inexpressão.” (3º par...
O Líder
O sono do líder é agitado. A mulher sacode-o até acordá-lo do pesadelo. Estremunhado, ele se levanta, bebe um gole de água. Diante do espelho refaz uma expressão de homem de meia-idade, alisa os cabelos das têmporas, volta a se deitar. Adormece e a agitação recomeça. “Não, não!” debate-se ele com a garganta seca.
O líder se assusta enquanto dorme. O povo ameaça o líder? Não, pois se líder é aquele que guia o povo exatamente porque aderiu ao povo. O povo ameaça o líder? Não, pois se o povo escolheu o líder. O povo ameaça o líder? Não, pois o líder cuida do povo. O povo ameaça o líder?
Sim, o povo ameaça o líder do povo. O líder revolve-se na cama. De noite ele tem medo. Mas o pesadelo é um pesadelo sem história. De noite, de olhos fechados, vê caras quietas, uma cara atrás da outra. E nenhuma expressão nas caras. É só este o pesadelo, apenas isso. Mas cada noite, mal adormece, mais caras quietas vão se reunindo às outras, como na fotografia de uma multidão em silêncio. Por quem é este silêncio? Pelo líder. É uma sucessão de caras iguais como na repetição monótona de um rosto só. Nas caras não há senão a inexpressão. A inexpressão ampliada como em fotografia ampliada. Um painel e cada vez com maior número de caras iguais. É só isso. Mas o líder se cobre de suor diante da visão inócua de milhares de olhos vazios que não pestanejam. Durante o dia o discurso do líder é cada vez mais longo, ele adia cada vez mais o instante da chave de ouro. Ultimamente ataca, denuncia, denuncia, denuncia, esbraveja e quando, em apoteose, termina, vai para o banheiro, fecha a porta e, uma vez sozinho, encosta-se à porta fechada, enxuga a testa molhada com o lenço. Mas tem sido inútil. De noite é sempre maior o número silencioso. Cada noite as caras aproximam-se um pouco mais. Cada noite ainda um pouco mais. Até que ele já lhes sente o calor do hálito. As caras inexpressivas respiram – o líder acorda num grito. Tenta explicar à mulher: sonhei que... sonhei que... Mas não tem o que contar. Sonhou que era um líder de pessoas vivas.
(LISPECTOR, Clarice. Para não esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992.)
- Gabarito Comentado (1)
- Aulas (3)
- Comentários (7)
- Estatísticas
- Cadernos
- Criar anotações
- Notificar Erro
Gabarito comentado
Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores
Alternativa Correta: A - derivação prefixal
Vamos entender melhor por que esta é a alternativa correta.
A palavra inexpressão apresenta o prefixo in- adicionado à palavra expressão. A derivação prefixal ocorre quando um prefixo é adicionado ao radical de uma palavra, modificando seu sentido original.
No caso de inexpressão, temos:
- Prefixo: in-
- Radical: expressão
Portanto, ao adicionarmos o prefixo in- à palavra expressão, formamos uma nova palavra que indica a ausência de expressão, ou seja, inexpressão.
Agora, vamos analisar por que as outras alternativas estão incorretas:
B - derivação prefixal e sufixal: Esta alternativa sugere que a palavra foi formada pela adição de um prefixo e um sufixo ao mesmo tempo, o que não é o caso aqui. A palavra inexpressão só possui um prefixo.
C - derivação parassintética: A derivação parassintética ocorre quando uma palavra é formada simultaneamente pela adição de um prefixo e um sufixo ao radical. Exemplo: entardecer (prefixo en- + radical tarde + sufixo -ecer). No caso de inexpressão, não há adição simultânea de prefixo e sufixo.
D - derivação sufixal: A derivação sufixal ocorre quando um sufixo é adicionado à palavra base. Exemplo: felicidade (radical feliz + sufixo -dade). A palavra inexpressão não foi formada dessa maneira, pois possui um prefixo (in-).
E - derivação deverbal: Esta derivação ocorre quando um verbo é transformado em outra classe de palavra (substantivo, adjetivo, etc.). Exemplo: amamento (do verbo amamentar). A palavra inexpressão não deriva de um verbo, mas sim de um substantivo (expressão).
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!
Clique para visualizar este gabarito
Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo
Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
INEXPRESSÃO -> IN + EXPRESSÃO
Derivação Prefixal -> o afixo vem antes do radical da palavra.
Radical: componente primitivo de qualquer palavra. Ex.: expressão/expresso/expressar/expressivo
Derivação Sufixal: o afixo vem após o radical. Ex.: felizmente/ felicidade/ felicitar
Gabarito A
INEXPRESSÃO -> IN + EXPRESSÃO
Derivação Prefixal -> o afixo vem antes do radical da palavra.
Radical: componente primitivo de qualquer palavra. Ex.: expressão/expresso/expressar/expressivo
Derivação Sufixal: o afixo vem após o radical. Ex.: felizmente/ felicidade/ felicitar
Gabarito A
GABARITO: LETRA A
PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Há dois processos mais fortes (presentes) na formação de palavras em Língua Portuguesa: a composição e a derivação. Vejamos suas principais características.
Composição: é muito mais uma criação de vocábulo. Pode ocorrer por:
*Justaposição (sem perda de elementos):
Guarda-chuva, girassol, arranha-céu, passatempo, guarda-noturno, flor-de-lis.
*Aglutinação (com perda de elementos):
Embora (em + boa + hora) | Fidalgo (filho de algo) | Aguardente (agua + ardente).
Hibridismo: consiste na união de radicais oriundos de línguas distintas:
Alcoômetro – Álcool (árabe) + metro (grego) | Burocracia – Buro (francês) + cracia (grego).
Derivação: é muito mais uma transformação no vocábulo, não se trata necessariamente da criação de uma palavra nova. Ela pode ocorrer das seguintes maneiras:
Pelo acréscimo de um prefixo (antes da raiz da palavra). Chamaremos de derivação PREFIXAL.
Reforma, anfiteatro, desfazer, reescrever, ateu, infeliz.
Pelo acréscimo de um sufixo (após a raiz da palavra). Chamaremos de derivação SUFIXAL.
Formalmente, fazimento, felizmente, mocidade, teísmo.
Pelo acréscimo de um sufixo e de um prefixo ao mesmo tempo (com possibilidade de remoção).
Chamaremos de derivação PREFIXAL E SUFIXAL.
Infelizmente, ateísmo, desordenamento.
Pelo acréscimo simultâneo e irremovível de prefixo e sufixo. É o que se convencionou chamar de PARASSÍNTESE ou DERIVAÇÃO PARASSINTÉTICA.
Avermelhado, anoitecer, emudecer, amanhecer.
Pela regressão de uma forma verbal. É o que chamaremos de derivação regressiva ou deverbal: advinda de um verbo. Essa derivação usualmente dá origem a substantivos abstratos.
Abalo (proveniente do verbo “abalar”) | Agito (proveniente do verbo “agitar”).
Luta (proveniente do verbo “lutar”) | Fuga (proveniente do verbo “fugir”).
Pelo processo de alteração classe gramatical. Convencionalmente chamada de CONVERSÃO OU “DERIVAÇÃO IMPRÓPRIA”.
O jantar – “jantar” é um verbo, mas aqui foi transformado em substantivo.
Um não – “não” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.
O seu sim – “sim” é um advérbio, mas foi transformado em substantivo.
Estrangeirismo:
Pode-se entender como um tipo de empréstimo linguístico. Ele pode ocorrer de duas maneiras:
*Com aportuguesamento: abajur (do francês "abat-jour"), algodão (do árabe "al-qutun"), lanche (do inglês "lunch") etc.
*Sem aportuguesamento: networking, software, pizza, show, shopping etc.
RESUMO RETIRADO DE AULA DO PROFº PABLO JAMILK.
GABARITO A
Revisando..
Derivação - 1 só radical
Prefixal - Afixo antes do radical
inapto, infeliz....
Sufixal - Após
lealdade, deslocamento, felizmente, idiotismo.....
Derivação Prefixal e Sufixal
União de dois afixos e a retirada de um deles não compromete a existência da palavra..
Exemplos: deslealdade, infelizmente, etc.
Derivação Parassintética Forma-se palavra pela anexação SIMULTÂNEA de prefixo e sufixo à palavra primitiva.
A retirada de um dos afixos compromete a existência da palavra.
Exemplos: a + noite + ecer = anoitecer
Bons estudos!
Clique para visualizar este comentário
Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo