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Q1968897 Português

Melancolia e criatividade


     Desde sempre o sentimento da melancolia gozou de má fama. O melancólico é costumeiramente tomado como um ser desanimado, depressivo, “pra baixo”, em suma: um chato que convém evitar. Mas é uma fama injusta: há grandes melancólicos que fazem grande arte com sua melancolia, e assim preenchem a vida da gente, como uma espécie de contrabando da tristeza que a arte transforma em beleza. “Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza”, já defendeu o poeta Vinícius de Moraes, na letra de um conhecido samba seu.

         Mas a melancolia não para nos sambas: ela desde sempre anima a literatura, a música, a pintura, o cinema, as artes todas. Anima, sim: tanto anima que a gente gosta de voltar a ver um bom filme melancólico, revisitar um belo poema desesperançado, ouvir uma vez mais um inspirado noturno para piano. Ou seja: os artistas melancólicos fazem de sua melancolia a matéria-prima de uma obra-prima. Sorte deles, nossa e da própria melancolia, que é assim resgatada do escuro do inferno para a nitidez da forma artística bem iluminada.

        Confira: seria possível haver uma história da arte que deixasse de falar das grandes obras melancólicas? Por certo se perderia a parte melhor do nosso humanismo criativo, que sabe fazer de uma dor um objeto aberto ao nosso reconhecimento prazeroso. Charles Chaplin, ao conceber Carlitos, dotou essa figura humana inesquecível da complexa composição de fracasso, melancolia, riso, esperteza e esperança. O vagabundo sem destino, que vive a apanhar da vida, ganhou de seu criador o condão de emocionar o mundo não com feitos gloriosos, mas com a resistente poesia que o faz enfrentar a vida munido da força interior de um melancólico disposto a trilhar com determinação seu caminho, ainda que no rumo a um horizonte incerto.


(Humberto Couto Villares, a publicar)

As normas de concordância verbal encontram-se plenamente observadas na frase:
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Comentários

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b)Convém evitar os chatos, mas é justo que não se os confundam com os melancólicos criativos.

Convém isso. Terceira pessoa do singular.

questão pra poucos.

Gabarito na alternativa A

A questão em tela quer que o candidato assinale a alternativa que as normas de concordância verbal encontram-se plenamente observadas, vejamos:

A) Aos melancólicos, a menos que fossem grandes artistas, ninguém perdoava sua condição infeliz. 

B) Convêm evitar os chatos, mas é justo que não se os confundam com os melancólicos criativos.

C) Nas mais variadas artes destacam-se o desempenho superior dos grandes criadores melancólicos.

D) A realização plena das formas artísticas trazem consigo o prazer estética, que se sobrepõe à melancolia de fundo. 

E) Chaplin encarnou-se em Carlitos, e à poesia de ambos vieram-se render-se a plateia de todos os cinemas. 

 

Gab: A

A) Aos melancólicos, a menos que fossem grandes artistas, ninguém perdoava sua condição infeliz. Correta

B) Convêm evitar os chatos, mas é justo que não se os confundam com os melancólicos criativos. Convém

C) Nas mais variadas artes destacam-se o desempenho superior dos grandes criadores melancólicos. O desempenho destaca-se..

D) A realização plena das formas artísticas trazem consigo o prazer estética, que se sobrepõe à melancolia de fundo. A realização traz...

E) Chaplin encarnou-se em Carlitos, e à poesia de ambos vieram-se render-se a plateia de todos os cinemas. Veio

Sinalizem qualquer erro, por favor.

Apesar de óbvio, muitos alunos desprezam o que está expresso no enunciado: CONCORDÂNCIA VERBAL. Qualquer outro assunto deve ser preterido. É imprescindível analisar exclusivamente os verbos e/ou as locuções verbais e sua relação com o(s) núcleo(s) a que se referem.

a) Aos melancólicos, a menos que fossem grandes artistas, ninguém perdoava sua condição infeliz.  

Correto. O verbo "ser", na forma verbal "fossem", concorda com o sujeito semântico "eles", que por sua vez reporta ao núcleo "melancólicos"; à frente, o verbo "perdoar" concorda com pronome indefinido "ninguém". Toda a concordância verbal está absolutamente correta.

b) Convêm evitar os chatos, mas é justo que não se os confundam com os melancólicos criativos.

Incorreto. O sujeito do verbo "convir" é oracional (oração reduzida de infinitivo "evitar os chatos"), de modo que o verbo "convir" flexiona-se apenas na terceira pessoa do singular, com acento agudo (convém). Note que foi posta a forma verbal "convêm", com acento circunflexo, que denota terceira pessoa do plural, daí o erro.

Correção: "Convém evitar os chatos..."

Obs.: em "se os confundam", embora estranha à língua falada, essa construção, na escrita, é recorrente. O "se" marca a voz passiva sintética, ao passo que o pronome "os" é objeto direto do verbo "confundir".

c) Nas mais variadas artes destacam-se o desempenho superior dos grandes criadores melancólicos.

Incorreto. O verbo "destacar" deve concordar com o núcleo "desempenho", no singular.

Correção: "Nas mais variadas artes destaca-se o desempenho..."

d) A realização plena das formas artísticas trazem consigo o prazer estética, que se sobrepõe à melancolia de fundo. 

Incorreto. O núcleo do sujeito é "realização" e com ele deve o verbo "trazer" concordar, no singular.

Correção: "A realização plena das formas artística traz..."

e) Chaplin encarnou-se em Carlitos, e à poesia de ambos vieram-se render-se a plateia de todos os cinemas. 

Incorreto. O núcleo do sujeito do verbo "vir" é o substantivo "plateia" e com ele deve concordar, no singular.

Correção: "Chaplin encarnou-se em Carlitos, e à poesia de ambos veio render-se a plateia de todos os cinemas".

Letra A

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