1. Leia o texto de Paulo Franchetti, apresentado originalmen...
1. Leia o texto de Paulo Franchetti, apresentado originalmente no V Congresso de Pesquisa em Literatura “Estudos literários: permanência e literatura”, em outubro de 2014:
(...) o que me parece mais notável é a perda do lugar central ocupado pela literatura nos estudos das Humanidades, em todos os níveis.
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É verdade que a perda da relevância pública da literatura pode, por um lado, ser explicada pela implacável crítica ao caráter ideológico dos cânones que se processou ao longo da segunda metade do século passado. (...) Mas creio que igual ou maior peso têm, para o tom deste momento, as alterações nas formas de produção da cultura e de sociabilidades, derivadas do enorme desenvolvimento da indústria cultural e das redes sociais informáticas. E ainda a facilidade de acesso à informação, que traz, na ponta dos dedos, o que antes apenas o longo trato erudito e a familiaridade com os textos permitia compilar.
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Ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos cursos graduação e pós-graduação foi bastante grande, nas últimas décadas. Um sistema de bolsas de estudo e um investimento notável na pós-graduação formou centenas de mestres e doutores. Esse grande contingente de intelectuais preparados para a desconstrução dos cânones ou para o trabalho especializado com arquivos, autores ou temas, por sua vez, não tem campo de atuação na escola básica e média, na qual a literatura tem espaço cada vez menor e importância quase só garantida pela permanência das obras canônicas nos vestibulares das universidades que ainda não adotaram o Sistema de Seleção Unificada (SISU). E sua atuação como professores de universidade, para os que o conseguiram, tem como público estudantes que também não terão lugar como docentes de literatura no ensino médio.
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A solução para o que entendo como impasse não me parece que resida na maior especialização do crítico e do professor, consubstanciada num discurso autorreferenciado e hermético para os não especialistas. Tampouco creio que passe pelo que me parece ser hoje um movimento curioso e forte: o de a crítica ocupar o lugar da literatura, seja como prática seja como interesse crítico. Passaria, isso sim, pela busca de um lugar novo para a literatura, no âmbito de uma formação humanística ampla, em que a preocupação central não fosse a formação de professores de português ou de literatura.
Para a conquista desse lugar, a erudição do professor e do crítico, a multiplicidade dos seus interesses e o ecletismo das suas perspectivas de aproximação ao texto seriam de primeira importância, pois ele seria antes de tudo um professor de leitura, um profissional capaz de obter o maior rendimento da leitura de um texto literário com vistas à formação de um público culto, capaz de extrair do passado o diferente, o que ainda permanece vivo e o que já morreu, e também capaz de perceber no presente o que já está em vias de deixar de ser ou de se renovar, ou ainda, com sentido diverso, ressuscitado do passado. (FRANCHETTI, Paulo. O que fica do que passa: considerações sobre o estudo e o ensino de literatura. In: CECHINEL, André (Org.). O lugar da teoria literária. Florianópolis: EdUFSC; Criciúma: Ediunesc, 2016. p.429- 431. Adaptado)
Observe as afirmativas:
I. O professor de literatura deve visar à formação do leitor, instrumentalizando-o para que este, via texto literário elaborado em outros tempos e/ou contextos, seja capaz de observar e analisar criticamente o próprio presente.
II. A perda da relevância pública pela qual passa a literatura tem relação predominante com a denúncia do caráter ideológico, de classe, etnocêntrico, falocêntrico etc. que o cânone promoveu.
III. Uma nova proposta para o ensino de literatura deve considerar a inserção de tecnologias, múltiplas linguagens e a compilação das informações sobre obras. Nesse sentido, a sobrevivência do ensino de literatura na escola será assegurado na medida em que a centralidade dos estudos esteja organizada em torno de outros objetos de ensino, que não o texto literário.
IV. A presença do cânone nas leituras obrigatórias dos vestibulares é o que garante a importância do ensino de literatura na educação básica hoje.
Considerando o texto acima, de Paulo Franchetti, assinale a alternativa que apresenta a(s)
afirmação/afirmações) incoerente(s) com a leitura: