O texto, apesar de leve e bem-humorado, tece severa crítica ao
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Data show
Sempre que vou falar em algum lugar, o pessoal técnico me pergunta, com antecedência, se vou usar data show.
Se você não sabe, data show é uma expressão americana. Falar inglês é mais adequado tecnologicamente. Show
quer dizer mostrar. E data quer dizer dados. Trata-se de um artifício para mostrar dados, que são projetados em
uma tela numa sala escura. Acho que o data show pode ser útil para mostrar dados. Mas o uso que dele se faz é
horrível: os palestrantes o usam para projetar na tela o esboço da sua fala, eliminando dela qualquer surpresa,
pois é claro que os ouvintes, de saída, leem o esboço até o fim. É como contar o fim da piada no início...
Apagam-se as luzes, o palestrante e os ouvintes olham todos para a tela, e ele vai falando. Ninguém presta
atenção. Mas todos acham que usar data show é prova de ser avançado, tecnologicamente. Quem não usa é
atrasado. Quem leva suas notas num caderninho é como alguém que anda de carro de boi num mundo de
Fórmula Um. Assim vão os palestrantes, todos com seus laptops, para a sessão de cineminha sem graça.
Falando sobre isso, uma mulher que trabalha numa firma promotora de eventos contou-me qual a maior
vantagem dos data show, uma coisa em que eu não havia pensado: com as luzes apagadas, longe do olhar do
palestrante, os ouvintes podem dormir à vontade. Contou-me de uma ocasião em que um homem dormiu e
roncou tão alto que chegou a perturbar palestrante e ouvintes. Todo mundo se pôs a rir. Barulho de ronco é
muito divertido... Mas ela foi obrigada a tomar providências. E o que ela fez, sádica e humoristicamente, foi
colocar um microfone perto da boca do roncador. Aí ele acordou-se a si mesmo.
(Ostra feliz não faz pérolas. São Paulo: Planeta, 2008.)
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