Segundo a autora, o olhar da futura humanidade para o nosso ...
Quando no futuro eles olharem para nós
Vivemos numa época assustadora, em que é difícil imaginar os seres humanos como criaturas racionais. Onde quer que estejamos, deparamo-nos com a brutalidade e a estupidez, a tal ponto que nada mais há para se ver: retornamos ao barbarismo, processo que somos incapazes de deter. Contudo, embora isso seja real, creio que se deu um agravamento generalizado; e, exatamente porque as coisas estão tão assustadoras, ficamos paralisados, e não percebemos – ou, se percebemos, não lhes damos a devida atenção – as forças igualmente poderosas que existem do outro lado: a razão, a sanidade e a civilidade.
Creio que, quando a futura humanidade olhar para o nosso tempo, ficará espantada, particularmente, com o fato de que nos conhecemos mais agora do que nossos ancestrais se conheciam. Mas muito pouco do que sabemos foi posto em prática. Houve uma explosão de informações a nosso respeito, informações resultantes da capacidade ainda infantil da humanidade de se observar objetivamente. Isso diz respeito aos nossos padrões de comportamento. As ciências em questão são às vezes chamadas de ciências do comportamento e estudam como nos comportamos como indivíduos e em grupo, e não como imaginamos que nos comportamos e, agimos. Estudam nosso comportamento da mesma maneira que estudamos, imparcialmente, o comportamento de outras espécies. Essas ciências sociais ou comportamentais são precisamente o resultado de nossa capacidade de agirmos de maneira imparcial em relação a nós mesmos. Uma enorme gama de novas informações é obtida através de universidades, institutos de pesquisa e talentosos diletantes. Entretanto, nossa maneira de nos governarmos não se modificou.
Nossa mão esquerda não sabe – não quer saber – o que faz a direita.
Creio que essa seja a coisa mais extraordinária que há para ser estudada a nosso respeito, como espécie. E a humanidade do futuro irá se admirar disso, assim como nos admiramos da cegueira e da inflexibilidade de nossos ancestrais.
LESSING, Doris. Prisões que escolhemos para viver. Trad. Jacqueline K. G. Gama. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. Adaptado
Segundo a autora, o olhar da futura humanidade para o nosso tempo será marcado pelo espanto diante da barbárie imperante, porque constatará que
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Alternativa correta: A - apesar da ampliação de conhecimentos sobre o comportamento humano, não aplicamos essas descobertas em benefício próprio.
A questão em foco explora um tema importante relacionado à capacidade da humanidade de entender e aplicar seu próprio conhecimento para melhorar a sociedade. O texto descreve como, apesar de toda a informação disponível sobre o comportamento humano, ainda não conseguimos aplicá-la para resolver problemas contemporâneos.
Vamos analisar por que a alternativa A é a correta:
O texto de Doris Lessing destaca que, embora tenhamos um vasto conhecimento sobre o comportamento humano, resultante das chamadas "ciências do comportamento", nós falhamos em aplicar esses conhecimentos para o bem comum. Este ponto é crucial: a autora acredita que a futura humanidade ficará espantada com a nossa capacidade de entender nosso comportamento, mas não de utilizar este entendimento para melhorar nossas condições. Por isso, a alternativa A é a correta, pois reflete com precisão essa ideia central do texto.
Agora, vejamos por que as outras alternativas estão incorretas:
Alternativa B: A afirmação de que as informações científicas sobre comportamento foram tratadas de forma subjetiva está incorreta. O texto menciona explicitamente que essas ciências estudam o comportamento de maneira imparcial, o que contradiz a ideia de subjetividade apresentada nesta opção.
Alternativa C: Esta alternativa sugere que nos mantivemos infantilizados, apesar de sermos racionais e cientificamente avançados. Embora o texto comente sobre nossa "capacidade ainda infantil" de auto-observação, o foco principal não está na infantilização, mas sim na incapacidade de aplicar o conhecimento adquirido. Portanto, a alternativa desvia-se do ponto central discutido pela autora.
Alternativa D: A ideia de que as universidades e institutos não produziram resultados imparciais é incorreta. O texto de Lessing enfatiza que as ciências do comportamento são uma expressão da nossa habilidade de sermos imparciais sobre nós mesmos. Logo, esta alternativa não reflete o conteúdo do texto.
Compreender o texto e suas nuances é essencial para identificar a alternativa correta. A autora foca na dicotomia entre conhecimento e prática, o que evidencia a falha em utilizar nossas descobertas para avanços sociais significativos.
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