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Rio de Lama, Rio de Lágrimas.


Ainda aturdida por duas imensas tragédias sem conserto para vidas e lugares atingidos, escrevo sobre uma, na Europa, que assusta o mundo e outra, no Brasil, que deveria nos assustar especialmente. Vejo em capitais brasileiras vigílias pela carnificina em Paris. São justas, não só porque qualquer cidade assim ferida merece homenagens, mas porque para muitíssimos Paris é uma cidade especial. E esse foi anunciado pelos autores como sendo apenas um primeiro golpe na tempestade. Pela extensão e sofisticação de sua capacidade destrutiva, e pelos locais de preparação antes nunca imaginados, mas que começam a ser descobertos, outros países estão na mira, pela Europa inteira. Sem falar na Olimpíada do ano próximo, no Brasil.

Todos alertas, todos assustados, todos um tanto perplexos com essa tragédia - e outra ainda maior e mais complexa se anuncia, ou já começou: a chegada de milhões de refugiados, migrantes sofridos e necessitados, parece ser cavalo de Troia com que se movem facilmente bandos de terroristas assassinos. O que fazer, como fazer, perguntam-se os líderes dos países envolvidos. Mesmo quem recebia os migrantes com alguma boa vontade começa a rever sua postura, pensar em mudar leis, levantar muros de toda sorte: pagarão inocentes por alguns culpados. “A vida não é justa”, suspiramos.

Mas esperei entre nós vigília e lágrimas pelo Brasil por este que é um dos maiores crimes ambientais do mundo: protesto e pranto pela morte do Rio Doce, miseravelmente envenenado e travado pela lama, que mata as águas do Doce e de seus afluentes, os peixes, os bichos, os campos cultivados, as pastagens, as plantações, as pessoas - quantas de verdade? Que providências se tomam? O que se faz para encontrá-las, além de urubus, cães e paus enfiados na lama repulsiva para ver se dali sai “odor”?

Morrem também profissões na região, como as de agricultor e pescador: um velho pescador declara aos prantos que sua profissão não existe mais por ali. A extensão é vastíssima, quilômetros de esterilização, envenenamento, em suma, assassinato. Pois o desastre era previsível: laudos anteriores alertavam para a fragilidade das barragens, e aparentemente nada foi feito, além de negar, desviar os olhos, e de novo negar. “Nada de barulho, pois podemos ter problemas.” E os trágicos problemas chegaram: segundo Sebastião Salgado, a “cura” das águas e terras levará de vinte a trinta anos.

O grande fotógrafo e humanista (sim) internacionalmente admirado nasceu e cresceu junto ao Doce, onde criou com sua parceira, Lélia, o maravilhoso projeto de revitalização de zonas quase mortas décadas atrás, o Instituto Terra. Agora, tudo está pior do que antes dos esforços deles. Recuperar toda aquela região, que vai de Mariana ao mar no Espírito Santo, onde certamente haverá muita contaminação, custará não apenas somas incríveis - projeto que ele já tinha proposto ao BNDES algum tempo atrás foi aprovado, mas não houve o repasse do dinheiro -, como terá de manter aceso por décadas o interesse num país de momento tão superficial, tão desinteressado, tão focado em poder, poder, e fuga à responsabilidade, ocultamento de crimes, e salvação das próprias feias peles. Não sou otimista. Até aqui só vi, como em geral neste país, promessas de planos, projetos, eternas comissões ineficientes e mornas, pouquíssima ação concreta, também nesta crise: mesmo na busca de mortos, lenta e atrasada. Ficarão emparedados na lama que, ao secar, parece cimento. Homens, mulheres, crianças, velhos, eternamente ocultos, a não ser para os corações que por eles choram. O que está fazendo o Brasil para compensar todo esse sofrimento, cada vez menos mencionado?

Precisamos de lágrimas e vigílias pelos inocentes chacinados na França, mas de movimentos vibrantes pelo que, aqui entre nós, vem sendo lentamente assassinado, e agora foi brutalmente soterrado pelo rio de lama, de lágrimas, de pouca esperança. Vamos trabalhar, e nos manifestar, e chorar, com Sebastião Salgado.

Fonte: Lya Luft - 25 de novembro de 2015)

Antes dos atentados, a chegada de migrantes não era bem aceita. Isso fica claro em:

Alternativas

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A alternativa correta é a B, que diz "(...) com alguma boa vontade (...)".

Vamos entender o porquê.

O tema da questão aborda a aceitação de migrantes antes dos atentados em Paris, contidos no texto de Lya Luft. Para responder corretamente, é necessário realizar uma interpretação cuidadosa do texto, observando os sentimentos e as ações dos personagens em relação à chegada dos migrantes.

Alternativa B: "(...) com alguma boa vontade (...)"

Essa alternativa é a correta porque, ao analisar o trecho completo do texto, "Mesmo quem recebia os migrantes com alguma boa vontade começa a rever sua postura.", entendemos que havia uma aceitação parcial e com certa relutância por parte de algumas pessoas. A expressão “alguma boa vontade” indica que, mesmo antes dos atentados, a aceitação dos migrantes não era plena e havia resistência.

Agora, vamos explicar as alternativas incorretas:

Alternativa A: "(...) pensarem mudar leis (...)"

Esse trecho sugere uma reação posterior aos atentados, onde os países começam a considerar mudanças nas leis para lidar com a nova realidade. Ele não se refere diretamente à aceitação dos migrantes antes dos atentados.

Alternativa C: "(...) perguntam-se os líderes (...)"

Esse trecho reflete a incerteza e a dúvida dos líderes sobre como agir diante da nova situação, mas não fornece informação direta sobre a aceitação dos migrantes antes dos atentados.

Alternativa D: "(...) pagarão inocentes (...)"

Essa alternativa se refere às consequências das ações tomadas após os atentados, indicando que inocentes sofrerão pelas ações dos culpados. Não fala sobre a aceitação dos migrantes anteriormente.

Alternativa E: "(...) suspiramos (...)"

Esse trecho é uma expressão de resignação e tristeza, mas não fornece informações sobre a aceitação ou o tratamento dos migrantes antes dos atentados.

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