Em “Nós vivemos, e vivíamos no passado, e ainda vivemos hoj...
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Ano: 2016
Banca:
INSTITUTO AOCP
Órgão:
EBSERH
Provas:
INSTITUTO AOCP - 2016 - EBSERH - Técnico em Enfermagem (Nacional)
|
INSTITUTO AOCP - 2016 - EBSERH - Técnico em Radiologia - Radioterapia (Nacional) |
INSTITUTO AOCP - 2016 - EBSERH - Técnico em Radiologia (Nacional) |
Q687717
Português
Texto associado
Desenvolver habilidades para o bem estar é tão importante
quanto construir pontes
O especialista em educação emocional e social
João Roberto de Araújo, criador da campanha
Ribeirão Pela Paz, defende prioridade de um ensino
cidadão: “É preciso ensinar para a vida”.
Para o Mestre em Psicologia Social e fundador
da organização Inteligência Relacional, pode-se
e deve-se aprender na escola, além de Matemática
e Português, como ter tolerância, desenvolver
diálogos e ter controle dos estados emocionais: “É
preciso criar condições para que não se formem
apenas pessoas que passem no vestibular e tenham
sucesso socioprofissional, mas que sejam pessoas
que possam aprender a conviver em sociedade”.
João Roberto teve esta clareza maior quando
trabalhou pela ação Ribeirão Pela Paz, no começo
dos anos 2000, e tentou encontrar outras formas de
combater a violência por outro caminho, não o já
sempre pensado da repressão.
Na cidade ideal do psicólogo, os filhos dos pobres
e dos ricos seriam acolhidos da mesma forma para
ter as mesmas oportunidades de desenvolvimento e
de compreensão do sentido da vida.
O Ribeirão Pela Paz foi uma audaciosa ação para
enfrentar a questão da violência urbana na cidade.
Quais os caminhos hoje em dia?
João Roberto de Araújo: O fenômeno da violência
sempre incomodou muito a todos, as famílias, as
lideranças e, até hoje, é um tema central entre os
grandes flagelos da sociedade. No entanto, sempre
houve muita desinformação sobre as causas da
violência e poucas reflexões consistentes sobre esse
fenômeno. Nós vivemos, e vivíamos no passado, e
ainda vivemos hoje, uma ênfase muito grande nas
respostas de repressão: pena de morte, respostas
fortes de armamentos, mecanismos de segurança
pública, aperfeiçoamento penal, agilidade da justiça,
questão da maioridade, entre outras. Enfim, esse
eixo da repressão no passado sempre foi muito forte
e ainda continua hoje. E é fácil em uma análise mais
criteriosa verificar que a repressão é necessária
desde que legítima, não é a violência pela violência,
mas a legitimidade do estado de responder pela
proteção da sociedade usando a força legalmente. A
repressão legítima é absolutamente necessária, mas
não é suficiente.
Nesse sentido, o Ribeirão Preto Pela Paz foi
a primeira iniciativa que procurou despertar nas
lideranças e na comunidade a consciência sobre
o fenômeno da violência, trazendo as dimensões
sociais, sociológicas, psicológicas do fenômeno
da violência. Foi um marco que se revelou pioneiro
para ação da própria mídia que, antes, diante de um
fato criminoso da violência na sociedade procurava,
unilateralmente, os depoimentos policiais. Após o
Ribeirão Preto Pela Paz, passou a ouvir sociólogos,
historiadores, psicólogos e antropólogos, que
começaram a colocar o seu olhar maior sobre esse
fenômeno. Nesse sentido, houve um grande avanço
na compreensão do fenômeno da violência a partir do
Ribeirão Pela Paz e uma melhoria também nos tipos de
resposta oferecidas. Esta foi uma das contribuições
do Ribeirão Pela Paz que, depois, naturalmente,
em seu processo evolutivo, acabou por chegar a
trabalhos mais profundos de desenvolvimento de
Cultura de Paz e Não Violência, até culminar em
uma metodologia de educação emocional e social
que torna essa abordagem regular e permanente na
escola e na sociedade.
Que tipos de políticas e ações precisariam, agora,
ser implementadas numa cidade como Ribeirão?
Não só para uma cidade como Ribeirão Preto, mas
para qualquer agrupamento humano, para as vilas,
para as cidades pequenas, para as cidades grandes,
enfim para todo aglomerado humano, é preciso
transitar de ações de sensibilização para ações mais
regulares e permanentes junto à sociedade. De forma
muito especial, em dois segmentos fundamentais:
na escola, na formação de nossas crianças e dos
nossos jovens, e nas famílias. É preciso que as
famílias compreendam o fenômeno da violência, as
consequências de estilos parentais inadequados
na relação com seus filhos, seus parentes, com seu
grupo familiar. E é fundamental que nas escolas não
fiquemos apenas nessa dimensão convencional,
da lógica matemática, linguística, memória, mas
que se recupere a importância do ensino, das
humanidades. Ensinar para a vida, educar para
as relações, criar as condições para que não se
formem apenas pessoas que passem no vestibular
e tenham sucesso socioprofissional, mas que
sejam pessoas que possam aprender a conviver
em sociedade, desenvolvendo diálogo, tolerância
e, principalmente, desenvolvendo competência em
relação aos seus estados emocionais. Por exemplo,
ter autonomia emocional para ficar menos vulnerável
ao estado emocional do entorno, desenvolver
regulação emocional para aprender o que fazer com a sua raiva, com o seu ciúme, com sua ansiedade,
desenvolver competências sociais e, principalmente,
a competência do bem viver, a competência do
bem-estar, a competência para além da dimensão
material, do status, para as pessoas aprenderem a
ser feliz. Isto é um desafio do futuro. Transitar de
uma sensibilização prática e eventual para uma ação
consistente regular e permanente na escola e na
família.
O que você considera uma cidade justa e
sustentável, solidária e humana?
Antes de tudo, é uma cidade que educa e a que
educa em um sentido de que oferece oportunidade de
desenvolvimento para todas as pessoas, das famílias
ricas, das famílias da classe média e das famílias
pobres. Há muitos pobres materiais profundamente
evoluídos, como há ricos materiais e plenamente
inferiores. Não é uma questão material, é uma
questão de oportunidade de desenvolvimento mental.
Uma cidade justa, sustentável, solidária e humana é
uma cidade que acolhe os filhos dos pobres tanto
quanto os filhos dos ricos, para que eles possam
compreender melhor o sentido de viver, o sentido da
vida, para que eles possam ter oportunidades iguais
de desenvolvimento.
O que não pode faltar em um bom projeto de
cidade?
As cidades já estão, convencionalmente,
focadas em necessidades muito conhecidas:
asfalto, ponte, saneamento básico, trânsito, enfim,
toda essa dimensão da infraestrutura, que é, sem
dúvida, importante. Mas tão importante quanto é
também trabalhar num nível mental das pessoas.
Tão importante quanto fazer pontes é desenvolver
competências nas pessoas para as habilidades
do bem-estar, para as habilidades das relações.
Portanto, o que não pode faltar em uma liderança
política ou em uma cidade é esse olhar da educação
para a vida, educação que vai além dessa abordagem
convencional, mas que também agrega competências
para conviver com o outro, para a família funcionar
melhor. Enfim, uma educação para ser cidadão,
uma educação para a paz, uma educação para o
aprendizado das emoções, uma educação para a
vida.
Fonte: http://www.inteligenciarelacional.com.br/noticia/14-12-2015-
desenvolver-habilidades-para-o-bem-estar-e-tao-importante-quantoconstruir-pontes
Em “Nós vivemos, e vivíamos no passado,
e ainda vivemos hoje, uma ênfase muito
grande nas respostas de repressão: pena
de morte, respostas fortes de armamentos,
mecanismos de segurança pública,
aperfeiçoamento penal, agilidade da justiça,
questão da maioridade, entre outras”, os
dois pontos foram empregados para