Sobre a Lei nº 9.296/1996, assinale a alternativa correta.

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Ano: 2021 Banca: NC-UFPR Órgão: PC-PR Prova: NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia |
Q1825527 Direito Processual Penal
Sobre a Lei nº 9.296/1996, assinale a alternativa correta.
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A Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 5º, XII que: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal", e os requisitos estão previstos na lei para a realização da interceptação telefônica (lei 9.296/96). 

A lei 9.296/96 traz em seu artigo 2º as hipóteses em que NÃO poderá ser feita a interceptação telefônica, ou seja, quando:

1) não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal;

2) a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

3) o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.
 

A referida lei traz ainda que a interceptação telefônica poderá ser determinada pelo juiz: 1) de ofício; 2) mediante representação da autoridade policial durante a investigação criminal; 3) mediante requerimento do Ministério Público durante a investigação criminal ou instrução processual penal; pelo prazo de 15 (quinze) dias, renovável por igual período, desde que seja imprescindível.   

Vejamos outras teses referente a interceptação telefônica:


1) “É possível a determinação de interceptações telefônicas com base em denúncia anônima, desde que corroborada por outros elementos que confirmem a necessidade da medida excepcional." (edição nº 117 do Jurisprudência em Teses do STJ).


2) “A alteração da competência não torna inválida a decisão acerca da interceptação telefônica determinada por juízo inicialmente competente para o processamento do feito." (edição nº 117 do Jurisprudência em Teses do STJ).


3) “É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida" (edição nº 117 do Jurisprudência em Teses do STJ).


4) “Em razão da ausência de previsão na Lei n. 9.296/1996, é desnecessário que as degravações das escutas sejam feitas por peritos oficiais" (edição nº 117 do Jurisprudência em Teses do STJ).


5) “É legítima a prova obtida por meio de interceptação telefônica para apuração de delito punido com detenção, se conexo com outro crime apenado com reclusão" (edição nº 117 do Jurisprudência em Teses do STJ)


A) INCORRETA: o artigo 2º, III, da lei 9.296/96 veda a interceptação telefônica para investigação de infração penal punida com pena máxima de detenção, vejamos:


“Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

(...)

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção."


B) INCORRETA: A jurisprudência do STF é no sentido de que a interceptação telefônica poderá ser renovada enquanto for necessária para o prosseguimento das investigações, vejamos o RHC 88371:


“RHC 88371

Órgão julgador: Segunda Turma

Relator(a): Min. GILMAR MENDES

Julgamento: 14/11/2006

Publicação: 02/02/2007

Ementa

EMENTA: Recurso Ordinário em Habeas Corpus. 1. Crimes previstos nos arts. 12, caput, c/c o 18, II, da Lei nº 6.368/1976. 2. Alegações: a) ilegalidade no deferimento da autorização da interceptação por 30 dias consecutivos; e b) nulidade das provas, contaminadas pela escuta deferida por 30 dias consecutivos. 3. No caso concreto, a interceptação telefônica foi autorizada pela autoridade judiciária, com observância das exigências de fundamentação previstas no artigo 5º da Lei nº 9.296/1996. Ocorre, porém, que o prazo determinado pela autoridade judicial foi superior ao estabelecido nesse dispositivo, a saber: 15 (quinze) dias. 4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento segundo o qual as interceptações telefônicas podem ser prorrogadas desde que devidamente fundamentadas pelo juízo competente quanto à necessidade para o prosseguimento das investigações. Precedentes: HC nº 83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim, Pleno, maioria, DJ de 04.03.2005; e HC nº 84.301/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 2ª Turma, unanimidade, DJ de 24.03.2006. 5. Ainda que fosse reconhecida a ilicitude das provas, os elementos colhidos nas primeiras interceptações telefônicas realizadas foram válidos e, em conjunto com os demais dados colhidos dos autos, foram suficientes para lastrear a persecução penal. Na origem, apontaram-se outros elementos que não somente a interceptação telefônica havida no período indicado que respaldaram a denúncia, a saber: a materialidade delitiva foi associada ao fato da apreensão da substância entorpecente; e a apreensão das substâncias e a prisão em flagrante dos acusados foram devidamente acompanhadas por testemunhas. 6. Recurso desprovido."


C) INCORRETA: A Autoridade Policial irá conduzir os procedimentos da interceptação telefônica, após a autorização judicial, e dará ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização, artigo 6º, caput, da lei 9.296/96:


Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização."


D) CORRETA: A fundamentação per relationem, que não se trata de ausência de fundamentação, é aceita pelo STJ para a prorrogação de interceptação telefônica, vejamos julgado do Superior Tribunal de Justiça (STJ) nesse sentido no AgInt no REsp 1390751 / PR:


“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. EVASÃO DE DIVISAS. DECISÃO MONOCRÁTICA. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO  OCORRÊNCIA.  APLICAÇÃO  DE JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ.  PRORROGAÇÕES  DAS  INTERCEPTAÇÕES  TELEFÔNICAS  POR MAIS DE UM PERÍODO.  POSSIBILIDADE.  FUNDAMENTAÇÃO  PER  RELATIONEM.  VALIDADE. COMPARTILHAMENTO  DE  DADOS  SIGILOSOS.  INSTITUIÇÕES  DE  CONTROLE. POSSIBILIDADE.  ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO. REEXAME DE PROVAS. FIXAÇÃO DA PENA ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL E REDUÇÃO DA MULTA. REPARAÇÃO DE  DANOS. SENTENÇA PROFERIDA APÓS A VIGÊNCIA DA LEI N. 11.719/2008.  AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 

1. Não se caracteriza a alegada ofensa ao princípio da colegialidade diante  da  existência  de  previsão  legal  e regimental para que o relator  julgue,  monocraticamente,  recurso especial, com esteio em óbices  processuais  e  na  jurisprudência  dominante  desta  Corte, hipótese ocorrida nos autos.   
2.  É  firme  a  jurisprudência  desta Corte de que a prorrogação da interceptação  telefônica não está limitada a apenas um período, mas pode   ocorrer   por   mais   vezes,  bastando  que  haja  a  devida fundamentação.
3.  A  fundamentação  per  relationem,  devidamente justificada pelo Magistrado  de  primeiro  grau  diante  do  caso concreto, constitui medida  de  economia  processual e não malfere os princípios do juiz natural e da fundamentação das decisões."
(...)"

E) INCORRETA: O acesso as mensagens trocadas em aplicativos de conversas ou trocadas através de email dependem de prévia autorização judicial, vejamos decisão do STJ nesse sentido no AgRg no AREsp 1708679:


“AgRg no AREsp 1708679

(ACÓRDÃO)

Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ

DJe 04/11/2021

Decisão: 26/10/2021

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. QUEBRA DE SIGILO DE MENSAGENS (WHATSAPP). AUTORIZAÇÃO JUDICIAL.         IMPRESCINDIBILIDADE DA MEDIDA. VERIFICAÇÃO. SÚMULA N. 7 DO STJ. JUNTADA EXTEMPORÂNEA DE DOCUMENTOS.AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO CONCRETO. OITIVA DE TESTEMUNHA DA ACUSAÇÃO. NÃO IMPUGNAÇÃO... CRIMINAIS. SÚMULA N. 7 DO STJ. ATIPICIDADE DAS CONDUTAS. SÚMULA N. 7 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 
1. O acesso aos dados constantes de aplicativos de mensagens instalados em telefones celulares é legítimo mediante prévia autorização judicial e demonstrada a imprescindibilidade da medida."


Resposta: D

 

DICA: Atenção com relação a leitura dos julgados, informativos e súmulas do STF e STJ.


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GABARITO: D

Assertiva A. Incorreta. Art. 2°, L. 9.296/96. Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

Assertiva B. Incorreta. (...) Não há falar em violação ao disposto na Lei 9.296/1996, uma vez que o Plenário desta Suprema Corte já decidiu que 'é possível a prorrogação do prazo de autorização para a interceptação telefônica, mesmo que sucessivas, especialmente quando o fato é complexo a exigir investigação diferenciada e contínua. Não configuração de desrespeito ao art. 5º, caput, da Lei 9.296/1996' (HC 83.515/RS, Rel. Min. Nelson Jobim). (...) (STF - 2ª Turma - HC 180.905 AgR/SP - Rel. Min. Ricardo Lewandowski - j. 13/03/2020)

Assertiva C. Incorreta. Art. 6°, L. 9.2.96/96. Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.

Assertiva D. Correta. Jurisp. em Teses 117, STJ: tese nº 2: É admissível a utilização da técnica de fundamentação p er relationem para a prorrogação de interceptação telefônica quando mantidos os pressupostos que autorizaram a decretação da medida originária.

Assertiva E. Incorreta. CF, Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

GABARITO - D

A) Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção.

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B)

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou que é possível a prorrogação da escuta, mesmo que sucessivas vezes, especialmente quando o caso é complexo e a prova indispensável.

(HC 143.805/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), Rel. p/ Acórdão Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 14/02/2012, DJe 09/05/2012)

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C) Será dada ciência ao MP.

Art. 6° Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público, que poderá acompanhar a sua realização.

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D) É admissível a utilização da técnica de fundamentação _____________

para a prorrogação de interceptação telefônica quando mantidos os pressupostos que autorizaram a decretação da medida originária.

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E) As quebras de sigilo tanto de estação de rádio base (ERB) quanto de mensagens trocadas por e-mails ou por aplicativos de mensagens não dependem de prévia autorização judicial.

Fundamento constitucional:

Art. 5º, XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; 

E) As quebras de sigilo tanto de estação de rádio base (ERB) quanto de mensagens trocadas por e-mails ou por aplicativos de mensagens não dependem de prévia autorização judicial.

LEI Nº 12.965/2014

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos:

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;

III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial;

Dizendo de outro modo, posso utilizar para fins de prorrogação da interceptação, os mesmos fundamentos que justificaram a interceptação inicial

Algumas considerações sobre a interceptação telefônica:

1- Meio subsidiário de obtenção de provas;

2- Pena mínima de reclusão, contudo a jurisprudência admite seu uso em infrações com pena de detenção descobertas fortuitamente durante a interceptação;

3- O prazo de 15 dias se inicia a partir da efetiva implementação da medida e não de sua decretação, não havendo restrição legal quanto ao número de renovações;

4- Representada a medida pela autoridade policial, esta dará ciência ao MP que acompanhará sua realização;

5- Não é necessária sua transcrição integral.

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