FANTASIA E se, de repente, a gente não sentisse...
FANTASIA
E se, de repente,
a gente não sentisse
a dor que a gente finge
e sente
se, de repente,
a gente distraísse
o ferro do suplício
ao som de uma canção,
então, eu te convidaria
pra uma fantasia
do meu violão.
Canta, canta uma
esperança,
canta, canta uma alegria
canta mais,
revirando a noite,
revelando o dia,
noite e dia, noite e dia...
Canta a canção do homem,
canta a canção da vida,
canta mais,
trabalhando a terra,
entornando o vinho,
canta, canta, canta,
canta...
Canta a canção do gozo,
canta a canção da graça,
canta mais,
preparando a tinta,
enfeitando a praça,
canta, canta, canta,
canta...
Canta a canção de glória,
canta a santa melodia,
canta mais,
revirando a noite,
revelando o dia,
noite e dia, noite e dia,
noite e dia, noite e dia...
(Chico Buarque)
I. Deve-se fazer da composição, criada em tempo de ditadura, uma leitura política.
II. O poeta convida cada ouvinte a agir, além de cantar.
III. A repetição de gerúndios e da expressão “noite e dia” sugere que as atitudes e ações têm de ser sempre retomadas.
IV. A conjugação e, que inicia o texto, sugere que os interlocutores já tinham começado uma conversa de lamentação.
É correto afirmar, que: