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Q2397822 Português
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      Entre as sugestões que vieram da editora sobre meu novo livro, havia a de trocar “índios” por “indígenas”. Sempre fui um defensor do politicamente correto. Algumas mudanças na ética verbal, porém, me parecem contraproducentes. Em certos momentos dos anos 90, “favela” virou “comunidade”. “Favelado” era um termo pejorativo e é compreensível que os moradores dessas áreas não quisessem ser chamados assim, mas mudar para “morador de comunidade”. Mas embora a mudança amacie na semântica, não leva água encanada, esgoto e luz para ninguém. Pelo contrário.

     A gente ouve “comunidade” e dá a impressão de que aquelas pessoas estão todas de mãos dadas fazendo uma ciranda em torno da horta orgânica, não apinhando-se em condições sub-humanas, sem esgoto, asfalto, educação, saúde. Talvez fosse bom deixarmos o incômodo nos tomar toda vez que disséssemos ou ouvíssemos “favela” ou “favelados”. Nosso objetivo deveria ser dar condições de vida decente para aquela gente, não nos sentirmos confortáveis ao mencioná-la.

    O mesmo vale para “morador em situação de rua”. Parece que o cara teve um problema pra voltar pra casa numa terça, dormiu “em situação de rua” num ponto de ônibus e na quarta vai retornar ao conforto do lar. É mentira. A pessoa que mora na rua tá ferrada, é alguém que perdeu tudo na vida, até virar “mendigo”. “Mendigo” é um termo horrível não porque as vogais e consoantes se juntem de forma deselegante, mas pelo que ele nomeia: gente que dorme na calçada, revira lixo pra comer, não tem sequer acesso a um banheiro. Mas quando a gente fala “morador em situação de rua” vem junto o mesmo morninho no coração de “comunidade”: essa situação, pensamos, é temporária. Vai mudar. Logo, logo, ele estará em outra.

     Não, não estará se não nos indignarmos com a indigência, e agirmos. Algumas palavras têm que doer, porque a realidade dói. Do contrário, a linguagem deixa de ser uma ferramenta que busca representar a vida como ela é e se torna um tapume nos impedindo de enxergá-la. Sobre “índios” e “indígenas”, li alguns textos. Os argumentos giram em torno do fato de “índio” ter se tornado um termo pejorativo, ligado aos preconceitos que os brancos sempre tiveram com os povos originários da América: preguiçosos, atrasados, primitivos. Tá certo. Mas o problema, pensei, não está no termo “índio”, mas no preconceito do homem branco.



(PRATA, Antonio. As palavras e as coisas. Folha de São
Paulo, 03.07.2022. Adaptado).
Assinale a alternativa cuja reescrita do texto emprega a vírgula de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa.
Alternativas

Gabarito comentado

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Alternativa correta: D

Vamos entender por que a alternativa D está correta e por que as outras opções estão incorretas.

D - Em relação aos moradores de rua, sua condição é mais delicada que a definição que lhes damos.

Essa alternativa é correta porque a vírgula foi usada de maneira apropriada para separar o adjunto adverbial "Em relação aos moradores de rua" do restante da frase. Esse uso da vírgula está de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa.

Agora, vejamos por que as outras alternativas estão incorretas:

A - Podemos até mesmo entender a recusa, de alguns moradores que se sentem ofendidos com o termo.

Nesta alternativa, a vírgula está separando indevidamente o sujeito "a recusa" do predicado "de alguns moradores que se sentem ofendidos com o termo". A vírgula não deve ser usada para separar o sujeito do predicado.

B - A linguagem busca retratar, a vida como ela se apresenta em nosso cotidiano social.

Aqui, a vírgula está separando o verbo "retratar" do complemento "a vida como ela se apresenta em nosso cotidiano social". A vírgula não deve ser usada para separar o verbo de seu complemento.

C - Alguns termos mudados após certo tempo, não alteraram a situação das pessoas.

Nesta alternativa, a vírgula está separando o sujeito "Alguns termos mudados após certo tempo" do predicado "não alteraram a situação das pessoas". Assim como na alternativa A, a vírgula não deve ser usada para separar o sujeito do predicado.

Portanto, a única alternativa que emprega a vírgula corretamente, de acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa, é a alternativa D.

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