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Q2042124 Português
Fazer nada


     Como a visita de um pássaro nos fez pensar no tempo.

        Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro. No hotel, em Itatiba, deram-nos o quarto 37, que se abre para um mar de morros verdes, com plantações, pastos, florestas. Fica no piso superior, tem pé-direito alto e uma varanda abraçada por árvores repletas de pássaros. À noite, entrou pela janela um passarinho. Minúsculo, branco no peito e na parte inferior da face, preto no dorso e na metade de cima da cabeça. Entrou pelo quarto, acelerado. Voava junto ao teto e não conseguia baixar até a altura da porta por onde havia entrado. Temíamos que se machucasse. Apagamos as luzes. Ele se acalmou e parou para descansar no toucador. Pulou em pé, no chão. Caminhou um pouco, ofegante. Usamos um chapéu para levá-lo à varanda, onde ficou ainda um tempo, refazendo-se. 
     Depois, vimos que deixou de lembrança um cocozinho na nossa cama. De onde teria vindo essa ave? Qual o significado do carimbo de passarinho sobre o lençol? Resisti à ideia de lembrar que excremento de pássaro é sinal de boa fortuna em antigas tradições. Augúrio? Sinal? Ali não havia mistério. Era apenas um bichinho assustado, acelerado demais. Talvez apenas apavorado por haver entrado em um lugar de onde parecia impossível sair. Mais do que um significado oculto, sua visita pode é nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem não se debate, na ilusão de que está acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que está saturado por estímulos que ele próprio foi buscar? A sensação de que seu tempo é estrangulado, sem se dar conta de que é ele quem cultiva desassossego para si. Um amigo, sobrinho de um sábio do interior, costuma usar a imagem da trajetória errática e vã das formigas para ilustrar a ilusão que acomete o homem em movimentos inócuos e sem sentido, o esforço inútil. Não é à toa que se fale tanto na necessidade de ir com mais calma.
       Afinal, nós nunca aceleramos tanto. Na ilusão de anteciparmos o futuro, roubamos o momento seguinte e deixamos de vivê-lo. Convivemos sem prestar atenção no outro, respiramos com sofreguidão, comemos sem sentir o sabor. Fugimos do presente, o único tempo que existe e sobre o qual criamos a referência para um passado reconstruído na memória e um futuro sonhado. Como parar e fazer nada? Como apenas ser, sem se debater por ter entrado em uma porta estranha? Há quem não consiga relaxar e, simplesmente, fazer nada. Alguém já disse que fazer nada não é a completa falta de ação, mas a ação feita com desapego, sem visar resultado para si mesmo. Há algo de bom em atingir esse momento em que só se é parte da paisagem e não um observador separado. Se ainda quiséssemos procurar um significado para a visita da pequena ave, poderíamos dizer que ela veio trazer o tema para estas linhas que você lê agora. Como se nos dissesse: que bom que vocês conseguiram uns dias de folga e vieram aqui, cuidar um do outro. Sejam bem-vindos a este momento e esqueçam o resto. Fui.

(NOGUEIRA, Paulo. Vida Simples, ed. 37. São Paulo: Abril, 2006. Disponível em http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/. Edições/037/caminho/conteúdo_237474.shtml. Acesso em: 13/07/2019.)
Considerando que o sujeito é a parte da oração sobre a qual a restante oração se refere, ou seja, de quem ou do que se fala, assinale a afirmativa transcrita do texto que evidencia um sujeito simples.
Alternativas

Gabarito comentado

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Tema Central da Questão: A questão aborda o conceito de sujeito simples dentro da sintaxe da língua portuguesa. Para resolvê-la, é necessário compreender o que é o sujeito simples: um sujeito que possui apenas um núcleo, ou seja, um único elemento sobre o qual o predicado diz algo.

Alternativa Correta: B - “Ele se acalmou e parou para descansar no toucador.” (1º§)

Na frase da alternativa B, o sujeito é “Ele”. Este é um exemplo claro de sujeito simples, pois há apenas um núcleo: o pronome "ele". Toda a ação descrita no predicado refere-se a este único sujeito.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - “Como parar e fazer nada?” (3º§)
Esta frase não contém um sujeito simples. Aqui, estamos diante de uma estrutura interrogativa que não apresenta um sujeito definido. A frase foca na ação e não em um sujeito específico.

C - “Não é à toa que se fale tanto na necessidade de ir com mais calma.” (2º§)
Nesta sentença, o sujeito é indeterminado. A expressão “se fale” indica um caso de verbo na terceira pessoa do singular com partícula apassivadora ou índice de indeterminação do sujeito, não caracterizando um sujeito simples.

D - “Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro.” (1º§)
Aqui, o sujeito da oração é “nós” (implícito em "conseguimos" e "fomos"), caracterizando um sujeito elíptico ou desinencial, pois não está expresso na frase. Por isso, não é classificado como sujeito simples.

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LETRA B

QUEM SE ACALMOU E PAROU ? ELE

SUJEITO SIMPLES

Sempre pergunte ao verbo:¨Quem se acalmou e parou para descansar no toucador ?¨

Ele se acalmou e parou! - Sujeito Simples.

[GABARITO: LETRA B]

A afirmativa que evidencia um sujeito simples é:

B) “Ele se acalmou e parou para descansar no toucador.” (1º§)

Nesse caso, o sujeito da oração é "Ele", que realiza as ações de acalmar-se e parar para descansar.

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