Leia o trecho abaixo, retirado do texto. “Talvez, posta no ...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2023
Banca:
Nosso Rumo
Órgão:
Prefeitura de São Carlos - SP
Prova:
Nosso Rumo - 2023 - Prefeitura de São Carlos - SP - Procurador Municipal |
Q2160502
Português
Texto associado
Leia o texto abaixo para responder à questão.
Sozinhos
Esta ideia para um conto de terror é tão terrível que, logo
depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava
mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui,
e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir.
Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez,
posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto.
Mas não posso garantir nada. É assim:
Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram
os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um
com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga.
Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.
– Ronca.
– Não ronco.
– Ele diz que não ronca – comenta ela, impaciente, como
se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente
visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o
almoço, deixa o jantar e sai cedo.
Ficam os dois sozinhos.
– Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer –
diz ela. E em seguida tem a ideia infeliz. – É o que eu vou fazer!
Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os
seus roncos.
– Humrfm – diz o velho.
Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer.
Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. As ideias não
podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a
vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado
com suas próprias ideias e deixado de escrevê-las, por puro
comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare.
Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este
ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me
acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das
maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os
escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão
malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior
do que eu, leitor. Você tinha escolha.
Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a
cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em
poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado,
gravando. Pouco depois a fita acaba.
Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita.
Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.
– Rarrá! – diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha
também ronca!
– Rarrá! – diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se
um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida.
Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio – por
causa dos roncos – não se distingue o que ela diz. Mas aos
poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes.
É um diálogo sussurrado.
“Estão prontos?”
“Não, acho que ainda não…”
“Então vamos voltar amanhã…”
VERÍSSIMO, Luís Fernando – Comédias para se Ler na Escola. Rio de
Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
Leia o trecho abaixo, retirado do texto.
“Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada.”
É correto afirmar que o verbo em destaque está conjugado no
“Talvez, posta no papel, a ideia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada.”
É correto afirmar que o verbo em destaque está conjugado no