Atualmente, verifica-se um aumento do número de diagnósticos...
Atualmente, verifica-se um aumento do número de diagnósticos médicos e de subsequente ingestão de medicação por crianças e jovens em idade escolar. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno desafiador opositivo, transtorno obsessivo compulsivo e mesmo obesidade e dislexia constituem uma parte substancial das patologias ou distúrbios que ocupam as salas de aula das nossas escolas. A emergência desses diagnósticos de significado expressivo no universo da saúde pública – que, em certos casos, podem considerar-se mais ou menos nebulosos, pois, não raras vezes, revelam desinformação generalizada, quer do ponto de vista dos discursos, quer do ponto de vista das práticas a eles associada – tende a estar, efetivamente, relacionada com a ideia de uma crescente medicalização da educação e da sociedade.
PAIS, S. C.; MENEZES, I.; NUNES, J. A. Saúde e escola: reflexões em torno da medicalização da educação, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 15 jul. 2019.
Pensando na problemática da medicalização, tratada no fragmento acima, analise as afirmativas a seguir:
I. O campo da educação se configura como um primeiro lugar em que emerge um olhar mais atento
para potenciais problemas que as crianças e jovens possam estar enfrentando. Por isso, os
profissionais da educação precisam estar familiarizados com o discurso médico, já que, com base
em um diagnóstico bem estabelecido, qualquer comportamento inesperado da criança é justificado
pela doença que ela apresenta. A localização de um problema na criança não é capaz de produzir
efeitos excludentes no seu processo de ensino e aprendizagem.
II. A educação produz uma atuação inclusiva e de remediação dos problemas de aprendizagem, ao acionar o saber médico ali onde o ensino fracassou.
III. O fenômeno da medicalização no discurso escolar acaba por reforçar potenciais fragilidades vivenciadas pelas crianças e suas famílias, aumentando a dimensão segregadora do espaço escolar, além de provocar uma desresponsabilização da instituição escolar.
Assinale a alternativa que indica a(s) afirmativa(s) que corresponde(m) à visão dos autores sobre a questão.
Gabarito comentado
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A alternativa correta é a D.
Vamos entender a questão abordada. A discussão aqui gira em torno da medicalização da educação, um fenômeno observado quando há um aumento nos diagnósticos médicos de crianças em idade escolar, levando a um maior uso de medicação. Este processo pode ter impactos significativos no ambiente escolar e na forma como os problemas de comportamento e aprendizagem são tratados.
Análise das afirmativas:
I. Localização de problemas na criança e justificativa pelo diagnóstico: Esta afirmativa sugere que qualquer comportamento inesperado é justificado pela doença que a criança apresenta e que isso não produz efeitos excludentes no ensino. Entretanto, o entendimento crítico dos autores é justamente o contrário: a medicalização pode levar à exclusão e ao estigma, ao atribuir problemas exclusivamente à criança, desconsiderando fatores contextuais e sociais. Portanto, esta afirmativa está incorreta segundo a visão dos autores.
II. Educação como atuação inclusiva ao acionar o saber médico: A afirmativa indica que a educação busca incluir ao utilizar o saber médico onde há falhas no ensino. Na realidade, os autores argumentam que ao recorrer demasiado ao discurso médico, a escola pode estar escapando de sua responsabilidade educacional e não promovendo necessariamente uma atuação inclusiva. Assim, esta afirmativa também não está alinhada com a visão crítica dos autores.
III. Medicalização reforça fragilidades e provoca desresponsabilização escolar: Esta afirmativa está correta segundo os autores, pois reflete a visão crítica deles sobre a medicalização. Eles ressaltam que o fenômeno pode exacerbar as fragilidades das crianças e suas famílias, além de aumentar a segregação no ambiente escolar. Além disso, a medicalização pode levar a uma desresponsabilização por parte das instituições escolares, que passam a depender do diagnóstico médico em vez de buscar soluções educacionais.
Os autores fazem uma crítica ao uso excessivo e descontextualizado da medicalização na educação, enfatizando que isso pode aumentar a exclusão e reduzir a responsabilidade das escolas em lidar com questões educacionais de maneira eficaz e inclusiva.
Por isso, a corretíssima é a alternativa D, que reflete a visão de que a medicalização pode reforçar fragilidades e provocar desresponsabilização.
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