Conforme o autor, Ruy Castro, a substituição da máquina de ...

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Q847997 Português

                                               O substituto da vida


      Quando meu instrumento de trabalho era a máquina de escrever, eu me sentava a ela, escrevia o que tinha de escrever, relia para ver se era aquilo mesmo, fechava a máquina, entregava a matéria e ia à vida.

      Se trabalhasse num jornal, isso incluiria discutir futebol com o pessoal da editoria de esporte, ir à esquina comer um pastel ou dar uma fugida ao cinema.

      Se já trabalhasse em casa, ao terminar de escrever eu fechava a máquina e abria um livro, escutava um disco ou dava um pulo rapidinho à praia. Só reabria a máquina no dia seguinte.

      Hoje, diante do computador, termino de produzir um texto, vou à lista de mensagens para saber quem me escreveu, deleto mensagens inúteis, respondo às que precisam de resposta, eu próprio mando mensagens inúteis. Quando me dou conta, já é noite lá fora e não saí da frente da tela.

      Com o smartphone seria pior ainda. Ele substituiu a caneta, o bloco, a agenda, o telefone, a banca de jornais, a máquina fotográfica, o álbum de fotos, a câmera de cinema, o DVD, o correio, a secretária eletrônica, o relógio de pulso, o despertador, o gravador, o rádio, a TV, o CD, a bússola, os mapas, a vida. É por isso que nem lhe chego perto – temo que ele me substitua também.

                                                                (Ruy Castro. Folha de S.Paulo. 02.01.2016. Adaptado)

Conforme o autor, Ruy Castro, a substituição da máquina de escrever pelo computador fez com que ele
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