No fragmento “E começou a descrever o avião incendiando, o ...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Q2088446 Português
Memórias de um aprendiz de escritor

    Escrevo há muito tempo. Costumo dizer que, se ainda não aprendi – e acho que não aprendi, a gente nunca para de aprender – não foi por falta de prática. Porque comecei muito cedo. Na verdade, todas as minhas recordações estão ligadas a isso, a ouvir e contar histórias. Não só as histórias dos personagens que me encantam, o Saci-Pererê, o Negrinho do Pastoreio, a Cuca, Hércules, Teseu, os Argonautas, Mickey Mouse, Tarzan, os Macabeus, os piratas, Tom Sawyer, Sacco e Vanzetti. Mas também as minhas próprias histórias, as histórias de meus personagens, estas criaturas reais ou imaginárias com quem convivi desde a infância.

    Na verdade, eu escrevi acima. Verdade é uma palavra muito relativa para um escritor de ficção. O que é verdade, o que é imaginação? No colégio onde fiz o segundo grau, o Júlio de Castilhos, havia um rapaz que tinha fama de mentiroso. Fama, não; ele era mentiroso. Todo mundo sabia que ele era mentiroso. Todo mundo, menos ele. 

    Uma vez, o rádio deu uma notícia alarmante: um avião em dificuldade sobrevoava Porto Alegre. Podia cair a qualquer momento. Fomos para o colégio, naquele dia, preocupados; e conversávamos sobre o assunto, quando apareceu ele, o mentiroso. Pálido:

     – Vocês não podem imaginar! 

    Uma pausa dramática, e logo em seguida:

     – Sabem este avião que estava em perigo? Caiu perto da minha casa. Escapamos por pouco. Gente, que coisa horrível! E começou a descrever o avião incendiando, o piloto gritando por socorro... Uma cena impressionante. Aí veio um colega correndo, com a notícia: o avião acabara de aterrizar, são e salvo. Todo mundo começou a rir. Todo mundo, menos o mentiroso:

    – Não pode ser! – Repetia, incrédulo, irritado. – Eu vi o avião cair!

     Agora, quando lembro este fato, concluo que não estava mentindo. Ele vira, realmente, o avião cair. Com os olhos da imaginação, decerto; mas para ele o avião tinha caído, e tinha incendiado, e tudo mais. E ele acreditava no que dizia, porque era um ficcionista. Tudo que precisava, naquele momento, era um lápis e papel. Se tivesse escrito o que dizia, seria um escritor; como não escrevera, tratava-se de um mentiroso. Uma questão de nomes, de palavras.

(SCLIAR, Moacyr. Memórias de um aprendiz de escritor. Editora Ibep Nacional. 2005.)
No fragmento “E começou a descrever o avião incendiando, o piloto gritando por socorro...” (7º§), as reticências foram empregadas para:
Alternativas

Gabarito comentado

Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores

Gabarito: Alternativa D.

Vamos analisar porque a alternativa D é a correta e entender o uso das reticências no fragmento apresentado.

Tema da questão: A questão aborda o uso das reticências na língua portuguesa, especificamente em um texto narrativo. Para resolvê-la, é necessário compreender as diferentes funções das reticências, como indicar uma interrupção, sugerir continuidade, demonstrar hesitação ou criar suspense.

No trecho "E começou a descrever o avião incendiando, o piloto gritando por socorro...", as reticências foram empregadas para:

Justificativa da alternativa D: As reticências aqui são utilizadas para que o leitor imagine o desenrolar da ideia textual. Elas sugerem que a descrição poderia continuar, permitindo ao leitor completar mentalmente os detalhes do que aconteceu. Essa função é comum em narrativas, pois promove a interação e a imaginação por parte do leitor.

Agora, vamos entender porque as outras alternativas estão incorretas:

A - Enfatizar um esclarecimento: As reticências não têm a função de reforçar ou esclarecer um ponto específico no texto. Sua função principal, neste caso, é criar uma pausa que permite ao leitor imaginar o desenrolar da cena.

B - Marcar uma indecisão no conto: As reticências podem ser usadas para marcar indecisão, mas não é o caso aqui. O contexto mostra que o narrador está descrevendo uma ação contínua, não uma indecisão.

C - Estabelecer uma pausa de longa duração: Embora as reticências criem uma pausa, essa pausa não é necessariamente "de longa duração". Sua função principal é sugerir que a descrição continua além do texto, permitindo que o leitor imagine os detalhes adicionais.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

Clique para visualizar este gabarito

Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

GAB: D

As reticências, portanto, marcam interrupções que refletem dúvidas, timidez, gagueira e estados semelhantes.

GABARITO: D

Reticências [ ... ] é um sinal de pontuação que marca uma interrupção, indicando uma suspensão na melodia frásica.

As reticências são usadas para:

  • Indicar a suspensão ou interrupção de uma ideia ou pensamento:

EX: Está na hora de ir embora, porque…

  • Indicar que uma ação ainda não acabou:

EX: Os dias passavam…

  • Transmitir na linguagem escrita sentimentos e sensações típicas da linguagem falada, como hesitações, dúvidas, surpresa, ironia, suspense, tristeza, ironia

EX: Eu… eu não sei… não sei o que podemos fazer agora…

  • Indicar uma ideia que se prolonga, deixando que a conclusão do sentido da frase seja feita conforme a interpretação pessoal dos leitores

EX: O homem soube que tudo já tinha sido dito e que agora era sua vez de agir…

  • Realçar um palavra ou expressão, dando maior ênfase à mesma:

EX: Seu presente é… uma bicicleta!

  • Indicar uma interrupção nos diálogos, provocada pelo próprio emissor ou provocada pela interferência de algo ou alguém na fala do emissor:

EX: Passei pelo centro da cidade e fui…

  • Indicar que uma citação está incompleta, havendo partes da mesma que não foram transcritas.

EX: “ Houve momentos de alegria e de tristeza, havendo também […] experiências inesquecíveis […]”

Tnc que gabarito ridículo

LETRA D

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo