“Quando o doente se acostuma ao seu estado de vigília, come...
“Quando o doente se acostuma ao seu estado de vigília, começavam a apagar-se da sua memória as lembranças da infância, em seguida o nome e a noção das coisas, e por último a identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio ser, até se afundar numa idiotice sem passado.”
MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem anos de solidão. – 59ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 47-48.
“Um novo regime de historicidade, centrado sobre o presente, estaria se formulando no Ocidente? A partir da Queda do Muro de Berlim (1989), ocorreu um crescimento rápido da categoria do presente e se impôs a evidência de um presente onipresente, nomeado de presentismo, onde se vive entre a amnésia e a vontade de nada esquecer.”
HARTOG, François. Tempo e patrimônio. Varia História, Belo Horizonte, vol.22, nº36, p.261-273, jul./dez., 2006. (com adaptações)
Relacionando as consequências da epidemia de insônia que acometeu a Macondo de Cem anos de solidão com as implicações que o presentismo traz para a nossa experiência histórica atual, é correto afirmar que a função social do historiador na sociedade atual deve ser:
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A alternativa correta é a alternativa D.
Vamos entender o porquê, começando com uma breve contextualização do tema abordado na questão:
A questão relaciona dois conceitos importantes: a epidemia de insônia na fictícia Macondo, do romance Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez, e o conceito de presentismo discutido por François Hartog. Ambos os textos abordam como a perda de memória afeta a compreensão e a vivência do presente.
No romance, a epidemia de insônia resulta na perda gradual da memória e da identidade dos personagens, ilustrando uma sociedade que se desconecta de seu passado. Já o conceito de presentismo, segundo Hartog, é uma condição contemporânea em que a sociedade vive um presente contínuo, muitas vezes desprovida de um vínculo significativo com o passado.
A função do historiador, nesse contexto, é essencial para mediar a relação entre passado e presente, evitando que a sociedade perca esse vínculo crucial. A alternativa D reflete essa ideia ao afirmar que o papel do historiador é "impedir que o presente seja vivido solitária e silenciosamente, estabelecendo-se como mediador de um diálogo entre os homens do presente e os do passado".
Agora, vamos analisar as alternativas incorretas:
A - Empreender um mapeamento científico dos acontecimentos passados de modo a orientar seguramente os homens no caminho a ser trilhado no futuro.
Essa alternativa se concentra excessivamente em uma abordagem científica e preditiva da história, não destacando a importância do diálogo entre passado e presente.
B - Extrair dos fatos, através dos documentos, as leis que regem os grupos humanos, explicando assim a configuração atual da sociedade.
Embora relevante, essa opção enfatiza a busca de leis universais a partir dos fatos históricos, não abordando a mediação entre passado e presente como função principal do historiador.
C - Fornecer à sociedade uma análise do passado eficiente para impedir futuras guerras e crises, bem como capaz de evitar catástrofes sociais.
Essa alternativa sugere que a história pode ser usada para prevenir crises futuras, o que é uma visão reducionista e instrumentalista do papel do historiador.
E - Promover uma reconstituição fiel do passado através do colecionamento de datas e fatos dispostos em ordem cronológica.
Esta opção reduz o trabalho do historiador a uma simples cronologia de eventos, sem considerar a interpretação e a mediação necessárias para conectar passado e presente.
Em resumo, a alternativa D está correta porque destaca a função mediadora do historiador, essencial para manter a conexão entre o passado e o presente em nossa experiência histórica atual. As demais alternativas, embora abordem aspectos da prática histórica, não capturam a profundidade dessa mediação necessária no contexto do presentismo.
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Comentários
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O historiador não é um futurólogo, ou seja, ele não tem o dever de preocupar-se com o futuro. Esse é um ser do presente que tenta explicar o passado sem se desprender de suas idiossincrasias.
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