“No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfarelar do b...
“No aluir das paredes, no ruir das pedras, no esfarelar do barro, havia um longo gemido. Era o gemido lamentoso do Passado, do Atraso, do Opróbrio. A cidade colonial, imunda, retrógrada, emperrada nas suas velhas tradições, estava soluçando no soluçar daqueles apodrecidos materiais que desabavam. Mas o hino claro das picaretas abafava esse protesto impotente. Com que alegria cantavam elas — as picaretas regeneradoras! E como as almas dos que ali estavam compreendiam bem o que elas diziam, no seu clamor incessante e rítmico, celebrando a vitória da higiene, do bom gosto e da arte!”
BILAC, Olavo. Crônica. Revista Kosmos, Rio de Janeiro, mar.1904.
“De uma hora pra outra, a antiga cidade desapareceu e outra surgiu como se fosse obtida por uma mutação de teatro. Havia mesmo na cousa muito de cenografia.”
BARRETO, Afonso Henriques de Lima. Os Bruzundangas. São Paulo: Brasiliense, 1956.
Observadores de sua época e partícipes do novo jornalismo que se levantava com toda a força no início do século XX, os cronistas Olavo Bilac e Lima Barreto comentavam a nova era de metamorfoseamento material e imaterial pela qual passava o Rio de Janeiro com posições diametralmente opostas. Quanto as perspectivas adotadas por estes autores, é correto afirmar que
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Olavo Bilac, em sua crônica, celebra o processo de modernização pelo qual passava a cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Ele descreve as antigas estruturas da cidade como representantes de um passado de atraso e opressão, e apoia entusiasticamente a demolição dessas estruturas como um símbolo de progresso e renovação. Bilac percebe o som das picaretas que derrubam as velhas paredes não como um ruído perturbador, mas como um "hino claro" que canta a vitória da higiene, do bom gosto e da arte.
Por outro lado, Lima Barreto olha para as mesmas mudanças urbanas com um olhar crítico e cético. Em sua obra "Os Bruzundangas", ele compara a transformação da cidade a uma peça de teatro, sugerindo uma certa superficialidade e artifício nas novas fachadas e estruturas. Barreto destaca, dessa forma, a preocupação com as desigualdades sociais que continuavam a persistir, mesmo em meio a essa modernidade cosmética. Ele duvida que as reformas urbanas trouxessem benefícios reais para a população mais pobre e marginalizada.
Portanto, a alternativa correta é a letra B, que afirma que Lima Barreto encarava as metamorfoses urbanas com desconfiança, uma vez que percebia a manutenção e o acirramento das desigualdades sociais que essa modernidade acarretava. Esta alternativa destaca a perspectiva de Barreto sobre as mudanças urbanas com um olhar crítico, em contraste com a visão de Bilac que via o progresso com otimismo e apoio.
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