“um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar” (1º §). ...
Vidinha
Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve; um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar, outro de igual natureza a fazia revoar, e voava e revoava na direção de quantos sopros por ela passassem; isto quer dizer, em linguagem chã e despida dos trejeitos da retórica, que ela era uma formidável namoradeira, como hoje se diz, para não dizer lambeta, como se dizia naquele tempo.
Portanto não foram de modo algum mal recebidas as primeiras finezas do Leonardo, que desta vez se tornou muito mais desembaraçado, quer porque já o negócio com Luisinha o tivesse desasnado, quer porque agora fosse a paixão mais forte, embora esta última hipótese vá de encontro à opinião dos ultrarromânticos, que põem todos os bofes pela boca pelo tal primeiro amor: no exemplo que nos dá o Leonardo aprendam o quanto ele tem de duradouro.
Se um dos primos de Vidinha, que dissemos ser o atendido naquela ocasião, teve motivos para levantar-se contra o Leonardo como seu rival, o outro primo, que dissemos ser o desatendido, teve dobrada razão para isso, porque além do irmão apresentava-se o Leonardo como segundo concorrente, e o furor de quem se defende contra dois é, ou deve ser sem dúvida, muito maior do que o de quem se defende contra um.
Declarou-se, portanto, desde que começaram a aparecer os sintomas do quer que fosse entre Vidinha e o nosso hóspede, guerra de dois contra um, ou de um contra dois. A princípio foi ela surda e muda; era guerra de olhares, de gestos, de desfeitas, de más caras, de maus modos de uns para com os outros; depois, seguindo o adiantamento do Leonardo, passou a dictérios, a chasques, a remoques.
Um dia finalmente desandou em descompostura cerrada, em ameaças do tamanho da Torre de Babel, e foi causa disto ter um dos primos pilhado o feliz Leonardo em flagrante gozo de uma primícia amorosa, um abraço que no quintal trocava ele com Vidinha.
(ALMEIDA, M. Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Editora FTD, 1996, p. 123.)
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Comentários
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✅ Gabarito: C
✓ “um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar” (1º §).
➥ A ideia passada é de concessão, podemos inserir uma conjunção subordiantiva concessiva para ter certeza: mesmo que fosse brando.
➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
Gab: C
Só complementando...vou colocar o raciocínio que segui. Qualquer equívoco da minha parte é só falar.
Um soprozinho = causa
por brando que fosse = concessão (embora, ainda que, conquanto, etc...)
a fazia voar = consequência
O trecho sublinhado passa uma ideia de contradição, mas não interrompe a ação.
TRECHO: Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve; um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar, outro de igual natureza.
REESCREVA COM UMA CONJUNÇÃO CONCESSIVA
Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve; um soprozinho, embora fosse brando, a fazia voar, outro de igual natureza.
Leiamos o trecho a fim de reconhecer o valor da expressão em destaque:
“um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar.”
Atente: o sopro brando não impediu o voo. Ora, essa característica de contraste que não impede a realização do ato reveste as conjunções e locuções concessivas. Para aclarar as ideais, leia nova estrutura, dessa vez escrita com um elemento concessivo mais usual:
"um soprozinho, apesar de ser brando, a fazia voar."
Letra C
um soprozinho, por brando que fosse, a fazia voar
= mesmo que fosse brando = concessão.
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