Quanto ao gênero textual, é correto afirmar que se trata de ...
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Q606195
Comunicação Social
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As guerras do Brasil
Às vezes se diz que nossa característica essencial é a cordialidade, que faria de nós um povo por
excelência gentil e pacífico. Será assim? A feia verdade é que conflitos de toda ordem dilaceram a história
brasileira, étnicos, sociais, econômicos, religiosos, raciais etc. O mais assinalável é que nunca são conflitos
puros. Cada um se pinta com as cores dos outros.
O importante, aqui, é a predominância que marca e caracteriza cada conflito concreto. Assim, a luta dos
Cabanos, contendo, embora, tensões inter-raciais (brancos versus caboclos) ou classistas (senhores versus
serviçais), era, em essência, um conflito inter-étnico, porque ali uma etnia disputava hegemonia, querendo dar
sua imagem étnica à sociedade. O mesmo ocorre em Palmares, tida frequentemente como uma luta classista
(escravos versus senhores), que se fez, no entanto, no enfrentamento racial, que por vezes se exibe como seu
componente principal. Também os quilombolas queriam criar uma nova forma de vida social, oposta àquela de
que eles fugiam. Não chegaram a amadurecer como uma alternativa viável ao poder e à regência da sociedade,
mas suas lutas chegaram a ameaçá-las.
Um terceiro exemplo é Canudos, que também mostra essas três ordens de tensão. A classista prevalece
porque os sertanejos, sublevados pelo Conselheiro, combatiam, de fato, a ordem fazendeira, que, condenando o
povo a viver num mundo todo dividido em fazendas, os compelia a servir a um fazendeiro ou a outro, sem
jamais ter seu pé de chão. Em consequência, não tinham qualquer possibilidade de orientar seu próprio trabalho
para o atendimento de suas necessidades. Mas lá estavam pulsando os conflitos raciais e outros, inclusive o
religioso.
O processo de formação do povo brasileiro, que se fez pelo entrechoque de seus contingentes índios,
negros e brancos, foi, por conseguinte, altamente conflitivo. Pode-se afirmar, mesmo, que vivemos em estado
de guerra latente, que, por vezes, e com frequência, se torna cruente, sangrento.
(O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. In
DE NICOLA, J. et al. Práticas de linguagem. São Paulo: Scipioni, 2008.)
Quanto ao gênero textual, é correto afirmar que se trata de gênero argumentativo, visto que o autor