O narrador mostra que Kazukuta
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Q2307855
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Kazukuta
Nós estávamos sempre atentos à queda das nêsperas,
das pitangas e das goiabas, e era mesmo por gritarmos ou
por corrermos que o Kazukuta acordava assim no modo lento
de vir nos espreitar, saía da casota dele a ver se alguma fruta
ia sobrar para a fome dele.
Normalmente ele comia as nêsperas meio cansadas ou de
pele já escura que ninguém apanhava. Mexia-se sempre devagarinho, bocejava, e era capaz de ir procurar um bocadinho
de sol para lhe acudir as feridas, ou então mesmo buscar regresso na casota dele. Às vezes, mesmo no meio das brincadeiras, meio distraído, e antes de me gritarem com força para
eu não estar assim tipo estátua, eu pensava que, se calhar, o
Kazukuta naquele olhar dele de ramelas e moscas, às vezes,
ele podia estar a pensar. Mesmo se a vida dele era só estar ali
na casota, sair e entrar, tomar banho de mangueira com água
fraca, apanhar nêsperas podres e voltar a entrar na casota
dele, talvez ele estivesse a pensar nas tristezas da vida dele.
Acho que o Kazukuta era um cão triste. Nós não lhe ligávamos nenhuma. Ninguém brincava com ele, nem já os mais velhos lhe faziam só uma festinha de vez em quando.
Mesmo nós só queríamos que ele saísse do caminho e não
nos viesse lamber com a baba dele bem grossa de pingar
devagarinho e as feridas quase a nunca sararem. Acho que
o Kazukuta nunca apanhou nenhuma vacina, se calhar ele
tinha alergia ou medo de vacina, não sei, devia perguntar
ao tio Joaquim. Também o Kazukuta não passeava na rua e
cada vez andava só a dormir mais.
(Ondjaki, Os da minha rua, 2007. Fragmento)
O narrador mostra que Kazukuta