Adjetivos frequentemente são empregados nos textos como moda...

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Q3056116 Português
Abaixo a norma curta do português!


   “Norma curta” é o excelente nome que o linguista Carlos Alberto Faraco dá a certo conjunto dogmático de regrinhas gramatiqueiras, vetos arbitrários, apego acrítico à variedade lusitana da língua e pegadinhas em geral.

  Repare que não falo da norma culta, registro da língua de fato usado pelas camadas de maior escolaridade da população. Esta tem papel social imprescindível e deveria ser ensinada com mais eficiência – não menos – na escola.

   Me refiro à norma curta, que ninguém de fato fala, mas fingimos que sim, e que vem a ser uma versão idealizada, caricatural, burra e mesquinha daquela. No fim das contas, sua inimiga, pois transforma o estudo da língua portuguesa em território hostil para uma imensa maioria da população.

   “Ai, como é difícil a nossa língua!”, dizemos quase todos. Difícil nada, ou não teríamos aprendido a falá-la na primeira infância. Tem seus caprichos, como toda língua, e desvelá-los carinhosamente deveria ser um prazer. Insana de tão difícil é a norma curta, que tira seu sustento dessa dificuldade.

   Reacionária a ponto de fazer um gramático conservador como Napoleão Mendes de Almeida parecer às vezes um Marcos Bagno, amante do é-porque-é, a norma curta tem, infelizmente, imenso poder.

   É ela que move a indústria do português concurseiro e dos consultórios gramaticais da internet. É ela que, via Enem, obriga adolescentes a encher suas redações de “outrossim” e outros entulhos juridiquentos.

   A norma curta não quer saber se você consegue ler e interpretar um texto. Que importância tem isso? Fundamental é que recite a lista das “figuras de linguagem” em ordem alfabética enquanto equilibra uma bola no nariz. Vai me dizer que não manja de zeugma?

   Os estudantes capazes de memorizar os truques e evitar as armadilhas que a norma curta chama de provas de português entram para um grupo privilegiado de norma-curtistas.

   Seu esforço é então recompensado e eles, mesmo os que são incapazes de interpretar um parágrafo simples, ganham o direito de oprimir outros falantes e humilhar quem não alcançou o paraíso do norma-curtismo.

   A norma curta é inculta. Nunca leu Graciliano Ramos, Rubem Braga, Rachel de Queiroz e tantos outros estilistas do brasileiro que, ao longo do século passado, moldaram um jeito de escrever que soa como música aos ouvidos de quem nasceu aqui. Os autores contemporâneos também brilham pela ausência. A norma curta nunca leu nada.

  Leram por ela, é verdade. Isso foi muito tempo atrás: um Alexandre Herculano aqui, um Almeida Garrett acolá. Todos portugueses. Nesses clássicos, leitores mortos desde o pré-modernismo pinçaram arbitrariamente só o que confirmava seus dogmas. Estavam prontas – pela eternidade – as tábuas da lei.

   A norma curta engana muita gente com sua pose de defensora do “bom português”. Tudo mentira. Ela ignora mais de um século de conhecimento teórico e prático sobre a matéria, desprezando grandes gramáticos e zombando de nossos maiores escritores.

   Ontem me deparei com um caso demencial de norma-curtismo: na página internética de “dicas de português”, o cartum de traço fofo mostra o rapaz se declarando para a moça (“Te amo!”) e sendo corrigido por ela: “Não se pode começar frase com pronome oblíquo átono”. Sim, ela queria ouvir um “Amo-te!” lusitano, acredite quem quiser. A página tem quase um milhão de seguidores. Me parece que estamos lascados.


(RODRIGUES, Sérgio. Abaixo a norma curta do português! Folha de S. Paulo, 2024. Adaptado.)
Adjetivos frequentemente são empregados nos textos como modalizadores para expressar juízos de valor do enunciador acerca de seu discurso. Com base nessas informações, analise o emprego dos adjetivos destacados a seguir:

I. “[...] ao longo do século passado [...]” (10º§) II. “Esta tem papel social imprescindível [...]” (2º§) III. “[...] ‘figuras de linguagem’ em ordem alfabética [...]” (7º§) IV. “[...] apego acrítico à variedade lusitana da língua [...]” (1º§)

Está correto o que se afirma apenas em
Alternativas

Comentários

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Gab: B.

1. Enunciado I - “[...] ao longo do século passado [...]”: O adjetivo “passado” não expressa um juízo de valor, mas sim um aspecto temporal, indicando apenas uma localização no tempo (o século que se passou).

2. Enunciado II - “Esta tem papel social imprescindível [...]”: O adjetivo “imprescindível” expressa um juízo de valor, indicando que o enunciador considera o papel social mencionado como algo de extrema importância e necessidade.

3. Enunciado III - “[...] ‘figuras de linguagem’ em ordem alfabética [...]”: O adjetivo “alfabética” apenas descreve uma característica objetiva da ordem, sem indicar juízo de valor.

4. Enunciado IV - “[...] apego acrítico à variedade lusitana da língua [...]”: O adjetivo “acrítico” reflete um juízo de valor, pois o enunciador está emitindo uma avaliação sobre o apego mencionado, sugerindo que ele é realizado sem uma reflexão crítica.

A alternativa correta é: B- II e IV.

I. “[...] ao longo do século passado [...]” (10º§)

  • O adjetivo “passado” aqui é um adjetivo temporal, não expressando juízo de valor.

II. “Esta tem papel social imprescindível [...]” (2º§)

  • O adjetivo “imprescindível” expressa um juízo de valor positivo, indicando a importância e a necessidade da norma culta.

III. “[...] ‘figuras de linguagem’ em ordem alfabética [...]” (7º§)

  • O adjetivo “alfabética” é uma descrição neutra, não expressando juízo de valor sobre as figuras de linguagem.

IV. “[...] apego acrítico à variedade lusitana da língua [...]” (1º§)



  • O adjetivo “acrítico” expressa um juízo de valor negativo, indicando a falta de reflexão e crítica em relação à norma.

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