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“Uma das maiores vedetas de então estava em excursão pelo interior de São Paulo com uma pequena companhia. Sabia o texto de cor, mas gostava de introduzir novas frases todos os dias, dependendo da plateia e de como decorria o espetáculo. O público deliciava-se. Os outros atores, ao contrário, perdiam a sua segurança e alguns riam em cena, pelo que eram imediatamente censurados. No elenco havia um jovem ator que estava a dar os primeiros passos e que se entusiasmava com as novas piadas que a vedeta introduzia no espetáculo. Certa noite, muito estimulado pelo patrão, o jovem ator decidiu imitá-lo de algumas hesitações e largou também a sua improvisação, por certo uma piada muito grosseira. O resultado foi sensacional e todo o público e os seus colegas começaram a rir; só a vedeta ficou muito séria e compenetrada. No fim do espetáculo, os atores esperavam a mais feroz censura para o jovem estreante, mas a vedeta fechou-se no seu camarim e não disse nada, absolutamente nada. No outro dia, quando todos se preparavam já para entrar em cena, a vedeta mandou ir ao seu camarim o jovem ator, morto de medo pela sua ousadia da véspera. Foi recebido com grande amabilidade. A vedeta falou-lhe da sua arte, dos anos que já tinha de palco etc. etc. Após um longo discurso perguntou-lhe:
– Lembras-te da improvisação de ontem?
– Sim, sim – respondeu o jovem. – Não gostou?
– Gostei muitíssimo, parece-me uma piada muito boa.
– Obrigado – suspirou, aliviado, o jovem. – Muito obrigado. Parece-me que o público gostou. Riram-se muito. Os meus colegas felicitaram-me. Foi um êxito.
– Sim, sim – disse a vedeta. O público riu-se muito porque é realmente uma ótima piada. Mas hoje quem a diz sou eu e não tu, porque sou eu o dono da companhia. Compreendido?”
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 11. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 30.
O caso contado por Augusto Boal refere-se a um momento importante na história do teatro brasileiro, mas o autor conta essa história para fazer uma crítica à
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Vamos analisar a questão apresentada sobre a crítica de Augusto Boal relacionada ao teatro brasileiro. A alternativa correta é a Alternativa A.
Tema Central: A questão aborda a crítica de Augusto Boal à maneira como o teatro brasileiro era percebido em uma determinada época, ressaltando a valorização excessiva dos atores, conhecidos como "monstros sagrados", em detrimento da própria história ou mensagem dos espetáculos.
Justificativa para a Alternativa Correta (A): Boal critica a ideia de "monstros sagrados" populares, ressaltando que, nos anos 1950-1960, muitas pessoas iam ao teatro mais para ver o ator em cena do que para acompanhar a história contada. Essa percepção pode ser entendida como uma crítica à cultura teatral onde a presença e o carisma do intérprete tinham mais peso que o conteúdo dramático. Boal, um grande teórico do teatro, frequentemente discutia como o teatro deveria ser um espaço de transformação social e reflexão, não apenas de entretenimento.
Análise das Alternativas Incorretas:
Alternativa B: Embora Boal criticava a falta de compromisso político no teatro, a questão não foca na noção equivocada de comédia ou nos "cacos" como sendo o principal problema. A crítica central aqui não está na estrutura humorística, mas sim no desequilíbrio de importância entre ator e narrativa.
Alternativa C: Esta alternativa menciona a hierarquia nas relações de poder entre os atores. Embora Boal também abordasse questões de poder em suas obras, o foco da crítica aqui não é sobre hierarquia de poder dentro do elenco, mas sim sobre o impacto disso na percepção teatral do público.
Alternativa D: A alternativa fala sobre a construção dos textos baseada no riso e no improviso. No entanto, a crítica de Boal destaca mais a questão dos atores serem vistos como "vedetas" que ofuscam a profundidade das histórias, em vez de questionar diretamente a seriedade do texto teatral.
Estratégias para Interpretação: Ao enfrentar questões como esta, é importante identificar o foco da crítica no texto de apoio. Palavras-chave como "monstros sagrados" e "vedeta" indicam uma crítica voltada para a percepção dos atores versus a narrativa, ajudando a eliminar alternativas que desviem desse tema.
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