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Q3158006 História
Sobre os fundamentos teóricos e metodológicos da historiografia ocidental, analise as afirmativas com base nos postulados de Auguste Comte (Curso de Filosofia Positiva), Marx (O Capital), Braudel (O Mediterrâneo), e Ginzburg (O Queijo e os Vermes):

I. A historiografia positivista prioriza a neutralidade do historiador, buscando os fatos “tal como ocorreram”, conforme a máxima de Leopold von Ranke, mas ignora a subjetividade intrínseca ao processo de seleção documental.

II. O materialismo histórico marxista compreende a história como um processo dialético, fundamentado nas contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, o que explica a transformação dos modos de produção ao longo do tempo.

III. A Escola dos Annales propõe uma ruptura com a história factual e política ao enfatizar o estudo das estruturas econômicas e sociais de longa duração, abordando também as mentalidades coletivas.

IV. A Nova História, influenciada por perspectivas antropológicas e sociológicas, desloca o foco para os sujeitos anônimos, explorando as práticas cotidianas e as experiências de grupos marginalizados.

V. A história cultural, segundo Peter Burke, reforça a centralidade dos grandes eventos políticos na construção da cultura, ignorando as práticas culturais de grupos subalternos.

Assinale a alternativa correta:
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Sobre os fundamentos teóricos e metodológicos da historiografia ocidental, vamos definir se as afirmativas são corretas ou incorretas:


I. Correta - O positivismo histórico, influenciado por Auguste Comte, estabeleceu uma abordagem baseada na ideia de que a história deveria ser estudada como uma ciência exata, com fatos objetivos e verificáveis. Leopold von Ranke, uma das principais referências dessa corrente, defendia que o papel do historiador era narrar os fatos "wie es eigentlich gewesen" ("como realmente aconteceu"), enfatizando a busca pela neutralidade e pelo distanciamento do historiador em relação ao objeto de estudo. No entanto, essa visão foi amplamente criticada, pois ignora a influência da subjetividade na seleção e interpretação das fontes. A escolha de documentos, o recorte do tema e o próprio posicionamento do historiador são fatores que inevitavelmente influenciam a construção da narrativa histórica.


II. Correta - Karl Marx, em O Capital e outras obras, formulou o materialismo histórico como um método para compreender o desenvolvimento das sociedades ao longo do tempo. Segundo essa perspectiva, a história é impulsionada pelas relações de produção e pelas contradições entre as classes sociais. A dialética marxista demonstra que a luta entre classes antagônicas — como senhores feudais e servos, burgueses e proletários — resulta na transformação dos modos de produção, levando a mudanças estruturais na sociedade. Essa abordagem permite compreender a história como um processo dinâmico, determinado pelas relações materiais e pelas disputas pelo controle dos meios de produção.


III. Correta - A Escola dos Annales, iniciada por Lucien Febvre e Marc Bloch e consolidada por historiadores como Fernand Braudel, redefiniu os rumos da historiografia no século XX. Em O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II, Braudel introduziu a noção de tempo histórico em três níveis: curta duração (eventos políticos e acontecimentos pontuais), média duração (conjunturas econômicas e sociais) e longa duração (estruturas persistentes que moldam as sociedades). Essa abordagem rompe com a tradicional história política baseada em eventos e personagens centrais, enfatizando fatores econômicos, sociais e culturais. Além disso, os Annales incorporaram o estudo das mentalidades coletivas, explorando aspectos como crenças, imaginário social e práticas culturais ao longo do tempo.


IV. Correta - A Nova História surge como um desdobramento da Escola dos Annales, incorporando influências da antropologia cultural e da sociologia. Carlo Ginzburg, em O Queijo e os Vermes, exemplifica essa abordagem ao reconstruir a visão de mundo de Menocchio, um moleiro do século XVI, utilizando fontes inquisitoriais para investigar como indivíduos comuns interpretavam o universo ao seu redor. A Nova História ampliou o escopo da historiografia, explorando temas antes considerados secundários, como cultura popular, cotidiano, marginalidade e subjetividade dos agentes históricos. Essa perspectiva permitiu uma leitura mais ampla e complexa da experiência humana ao longo da história.


V. Incorreta - Peter Burke é um dos principais nomes da história cultural e, em sua obra, argumenta justamente o contrário do que essa afirmativa sugere. Ele destaca que a cultura não se limita aos eventos políticos ou às elites, mas inclui práticas culturais variadas, como rituais, festividades, costumes e expressões artísticas de diferentes camadas sociais. A história cultural contemporânea busca compreender tanto a cultura erudita quanto a popular, considerando os grupos marginalizados e suas formas de resistência, adaptação e produção cultural.


Gabarito – Letra E


Indicação Bibliográfica:


De Araujo, Valdei Lopes. "História da historiografia como analítica da historicidade." História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography 6.12 (2013): 34-44.

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