No período “O que levei para a parte final da minha palestr...
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Ano: 2020
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Formiga - MG
Prova:
Instituto Consulplan - 2020 - Prefeitura de Formiga - MG - Analista Fiscal Sanitário - Enfermeiro |
Q1817663
Português
Texto associado
Em maio, encerrei uma palestra sobre a Amazônia e a
criação de futuro, na universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, afirmando que a esperança, assim como o desespero, é um luxo que não temos. Com um planeta superaquecendo, não há tempo para lamentações e para melancolias.
Precisamos nos mover, mesmo sem esperança. Assim que
terminei, um grande empresário brasileiro fez uma manifestação em defesa da esperança e foi aplaudido entusiasticamente por parte da plateia. A esperança, e não a destruição
acelerada da Amazônia ou a emergência climática global, foi
o assunto do debate que veio a seguir. Alguns entenderam
que eu era uma espécie de inimiga da esperança e, portanto,
uma inimiga do futuro (deles). A reação é reveladora de um
momento em que a novíssima geração, a das crianças e
adolescentes, tem enfiado o dedo na cara dos adultos e mandado eles crescerem.
A esperança tem uma longa história, e espero que algum
dia alguém a escreva. Das religiões à filosofia, do marketing
político ao mundo das mercadorias do capitalismo. Num planeta com chão cada vez mais movediço, em que os estados-nação se desmontam, a esperança tem progressivamente
ocupado o lugar da felicidade como um ativo de mercado.
Lembram que até bem pouco tempo atrás todo mundo era
obrigado a ser feliz? E quem afirmava não ser tinha uma
deformação de alma ou estava doente de depressão?
A “felicidade” como mercadoria já foi bem dissecada por
diferentes áreas do conhecimento e pela experiência cotidiana de cada um. Convertida em produto do capitalismo,
no qual era objeto de consumo que supostamente se garantia
por mais consumo, hoje perdeu valor de mercado, ainda que
continue eventualmente a abarrotar as prateleiras de livros
de autoajuda. A esperança vai ocupando o seu lugar num
momento em que o futuro se desenha sombriamente como
um futuro num planeta pior.
O que levei para a parte final da minha palestra foi o que
me parece o mais fascinante desta época: aquela que talvez
seja a primeira geração sem esperança. Ao mesmo tempo, é
também a geração que rompeu o torpor desse momento
histórico marcado por adultos infantilizados, que alternam
paralisia e automatismo, também no ato de consumir. Ao
romper o torpor, essa geração deu esperança à geração de
seus pais. O impasse em torno da esperança é revelador do
impasse entre a geração que levou ao paroxismo o consumo
do planeta, a dos pais, e a geração que vai viver no planeta
esgotado por seus pais.
A geração sem esperança tem a imagem de Greta
Thunberg, a garota sueca que, em agosto do ano passado,
com apenas 15 anos, iniciou uma greve escolar solitária em
frente ao parlamento em Estocolmo. E, de lá para cá, já inspirou duas greves globais de estudantes pelo clima, levando para as ruas do mundo centenas de milhares de crianças e
adolescentes em cada uma delas. Greta, que se tornou uma
das pessoas mais influentes do planeta em menos de um ano,
comparando-se com as virtudes geralmente atestadas por
autoridades internacionais, é reconhecida por declarações
tão brilhantes quanto afiadas. Em uma delas, responde aos
adultos que olham extasiados para seu rosto de boneca de
souvenir e confessam de olhos úmidos que ela e sua geração
os enche de esperança. A adolescente, hoje com 16 anos, diz:
“Nossa casa está em chamas. Eu não quero a sua esperança,
não quero que vocês sejam esperançosos. Eu quero que vocês
entrem em pânico, quero que vocês sintam o medo que eu
sinto todos os dias. Eu quero que vocês ajam, que ajam como
se a casa estivesse em chamas, porque ela está”.
Em vez de recusar o que ela diz, os adultos deveriam
escutá-la com toda a atenção. O que testemunhamos é
talvez a primeira geração a perceber que não tem tempo
para esperar os pais resolverem o problema que até hoje só
agravaram – e muito. Penso que, diante do impossível, precisamos criar um ser novo, fazer algo que nunca fizemos, nos
arriscar a ser o que não sabemos. O futuro precisa também
se desinventar como conceito de futuro para voltar a ser
imaginado. Ou o futuro precisa se descolar dos conceitos
hegemônicos de futuro para se abrir a outras possibilidades
de ser pensado como futuro. Talvez não tenha nem mesmo
o nome de futuro, mas outros. Esse futuro desinventado de
futuro está sendo tecido por experiências de minorias vindas
de outros territórios cosmopolíticos. Entre tantas más notícias, há uma ótima: por caminhos surpreendentes, a nova
geração de suecas está vindo como índio.
(Texto especialmente adaptado para esta prova. Disponível em: https://
brasil.elpais.com/brasil/2019/06/05/politica/1559743351_956676.html.
Acesso em: 12/12/2019.)
No período “O que levei para a parte final da minha
palestra foi o que me parece o mais fascinante desta época:
aquela que talvez seja a primeira geração sem esperança.”
(4º§), se a palavra “levei” fosse flexionada no plural, quantas palavras ao todo (incluindo na contagem o termo a ser
flexionado por determinação do enunciado) precisariam
ter a grafia modificada para garantir a correta concordância
verbo-nominal?