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Q1922659 Psicologia

Caso clínico 4A2-I


    Maria, de 65 anos de idade, é diabética e foi diagnosticada com depressão há 40 anos. Faz uso de medicação para ambas as doenças desde o diagnóstico inicial. Relata períodos muito difíceis de tristeza, baixa autoestima e ideação suicida. Diz: “Eu me sinto OK. Nunca fui feliz. Sempre estive OK. Nunca soube o que é felicidade. Minha vida sempre foi muito difícil. Precisei trabalhar desde cedo. Perdi meu pai e minha mãe quando muito pequena. Fui morar na rua. Experimentei tudo quanto foi coisa. Chegava a perder as forças. Tinha tontura; tremores; ficava lerda. Meu corpo não respondia direito. Mas era muito louco... Eu ficava eufórica e meio descoordenada também. Chegava a passar dias desaparecida. Tinha uma raiva dentro de mim. Sempre me perguntei o porquê de ser comigo, de ser logo com minha mãe e meu pai. Vi os dois serem mortos na minha frente. Nunca vou esquecer. Lembro de tudo, como se fosse hoje. Tudo por causa de droga. Meu pai sempre bateu em mim e na minha mãe. Eu tinha muita raiva. Ainda tenho. Só de pensar nisso meu coração dispara e eu sou tomada por um manto de fogo. Minhas pernas até adormecem. Meu rosto fica quente. Saí do buraco quando conheci meu companheiro. Só aí vi que poderia ser cuidada por alguém. Mas foi duro. Demorei a acreditar. Mas meu companheiro me ajudou a enxergar minhas dificuldades e doença. Fiquei OK por anos. Mas parece uma coisa... nada pode dar certo pra mim. Há 10 dias fiquei sabendo que tenho um câncer no estômago. Quis me entregar. Mas meu companheiro e meus filhos disseram que farão de tudo por mim e que preciso ser forte. Mas tenho a impressão que a tristeza voltou com tudo de novo.” (sic). 

Levando em consideração o caso clínico 4A2-I, o processo saúde-doença, as contribuições da psicologia da saúde e da psicopatologia e o papel do psicólogo, julgue o item que se segue. 


Nesse caso hipotético, cabe ao psicólogo levar em consideração a crença, os sentimentos que Maria possui a respeito da doença, evitando propostas adaptativas à situação para que a paciente acredite em seu processo de cura.

Alternativas

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Gabarito: E - Errado

Vamos entender por que a alternativa correta é "Errado" e como a psicologia da saúde e a psicopatologia são relevantes neste contexto.

Para começar, o papel do psicólogo na psicologia da saúde é bastante abrangente e envolve não apenas a compreensão das doenças físicas e mentais, mas também a forma como os pacientes percebem e reagem a essas condições. No caso de Maria, há uma combinação de doenças crônicas (diabetes e câncer) com um histórico de depressão e traumas significativos.

O enunciado da questão sugere que o psicólogo deve evitar "propostas adaptativas à situação" para que a paciente acredite em seu processo de cura. Isso está errado porque vai contra uma das principais funções do psicólogo da saúde: ajudar o paciente a desenvolver estratégias adaptativas para lidar com a doença e suas implicações emocionais e físicas.

Vamos detalhar por que a alternativa está errada:

  • Compreensão e Validação: O psicólogo precisa compreender e validar as crenças e sentimentos do paciente a respeito de sua doença. Isso faz parte do processo terapêutico e ajuda na construção de uma aliança terapêutica.
  • Propostas Adaptativas: Propostas adaptativas são essenciais para ajudar o paciente a lidar com o estresse e a ansiedade que acompanham doenças crônicas e terminais. Essas estratégias podem incluir técnicas de relaxamento, reestruturação cognitiva, e intervenções psicodinâmicas ou comportamentais.
  • Empoderamento do Paciente: Ao ajudar Maria a encontrar formas de lidar com suas condições de saúde, o psicólogo promove o empoderamento do paciente, fazendo com que ela se sinta mais capaz de enfrentar os desafios que a doença impõe.

Portanto, a alternativa apresentada na questão está incorreta porque ela sugere que o psicólogo deve evitar justamente o que é essencial: oferecer ferramentas adaptativas que ajudem Maria a lidar melhor com suas condições de saúde, promovendo seu bem-estar emocional e físico.

Em resumo:

O papel do psicólogo inclui validar os sentimentos do paciente e, ao mesmo tempo, propor estratégias adaptativas que melhorem a capacidade do paciente de lidar com a doença. Ignorar essa abordagem seria contraproducente e não estaria alinhado com as melhores práticas da psicologia da saúde.

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Comentários

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Em relação aos processos de saúde-doença, é importante pensar na atuação da psicologia não como proposta de cura (que pode ser possível), mas de cuidado, de qualidade de vida no adoecimento. Em se tratando de câncer, que é uma doença com potencial ameaça de vida, essa paciente está também sob os cuidados paliativos (mesmo que se tenha cura, ou até ser curada). Como evitar propostas adaptativas?

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