A (in)segurança pública e os reflexos na sociedade
A cada dia que passa os cidadãos das grandes cidades e capitais brasileiras são obrigados a
conviver com a explosão de violência e criminalidade que assola o país. Balas perdidas, arrastões, roubos e
homicídios já não são surpresas em uma nação que tem a incrível taxa de mais de 60 mil assassinatos por
ano.
E, nessa esteira de violência, muitos políticos são eleitos. Infelizmente, exploram a bandeira da
repressão — a exemplo das últimas eleições — com um discurso muitas vezes demagógico e sem
profundidade. Falam coisas que o cidadão cansado e acuado espera ouvir. Mas, assim como os anteriores,
repetem as mesmas práticas de combate à criminalidade, que, por evidentes razões, não surtiram efeito.
A saber, nas últimas décadas, tornou-se prática obrigatória no Brasil combater a criminalidade por
meio do enfrentamento policial em detrimento de muitas outras medidas racionais e científicas que
poderiam trazer resultados sólidos.
Em uma caixa chamada segurança pública, onde existem diversas outras alternativas, a polícia é
única e tão somente uma das ferramentas no combate à criminalidade.
Apenas para ilustrar como os nossos governantes priorizam o enfrentamento policial, a primeira
grande operação no Brasil ocorreu no dia 21 de março de 1963 na “comunidade da favela”, hoje conhecida
como morro da Providência, no Rio. Com o apoio de um helicóptero, cerca de 500 policiais cercaram a
comunidade e fizeram 200 presos. Daí por diante, essa foi a política de segurança implementada por
praticamente todos os governadores do Brasil.
Entretanto, ao priorizar o enfrentamento policial, os efeitos colaterais são inevitáveis. Há morte de
inocentes, caos e transtornos nas grandes cidades e prejuízos ao comércio e turismo, além de graves
sequelas psicológicas provocadas naqueles que vivenciam a violência diariamente.
A segurança pública é uma ciência e, como tal, deve ser tratada e conduzida. Logo, a forma mais
eficiente de lidar com a violência nas grandes cidades é por meio de investimento em inteligência,
impedindo que drogas, armas e munições cheguem às comunidades dominadas pelo tráfico de drogas e
pelas organizações criminosas. Asfixia-se, assim, suas ações e corta-se seus recursos — sem drogas,
armas e munições, o crime naturalmente sucumbe.
Todavia, nesse critério, o governo federal sempre foi o grande vilão da segurança pública, pois
nunca impediu que drogas, armas e munições atravessassem fronteiras, percorressem estradas, portos e
aeroportos e chegassem às comunidades.
Em paralelo à aplicação das medidas de inteligência, é necessário também um grande projeto de
geração de emprego e renda em substituição ao dinheiro gerado pela narcoeconomia que circula nas
comunidades. Infelizmente, enquanto tais medidas não forem implementadas, continuaremos a velha
política de enfrentamento e com a triste classificação de termos a polícia que mais mata e que mais morre
no mundo.
Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 16 abr. 2019