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Para prefeitura de porto feliz - sp
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No sábado, às 10 horas em ponto, seu amigo está à porta, quando seu filho, absolutamente estarrecido, lhe pergunta: “Pai, você esqueceu o nosso filme?” O que você faz numa situação dessas? 1. Você diz que não irá ao futebol. Pede mil desculpas ao amigo, diz que não poderá jogar conforme o prometido, pede que ele explique o ocorrido ao seu chefe, e fim de papo. 2. Você pede mil desculpas aos seus filhos, explica a situação, diz que o chefe vai estar lá, que você os levará no sábado que vem, com direito a pipoca em dobro. E tudo se resolverá a contento, sem prejuízo a ninguém. Qual das duas opções você escolhe? Se respondeu que é a primeira, lamento dizer que você está mentindo. Todo mundo escolhe a segunda opção. Afinal, é sua carreira que poderia estar em jogo. Você bem que podia se tornar mais amigo da turma do trabalho, você está inseguro. Aliás, quem não está?
O que quero discutir aqui é a razão por trás da sua escolha, o raciocínio que determinou a decisão de postergar o cinema com os filhos. Você fez essa decisão porque no fundo sabe que seus filhos o amam. E, porque o amam, eles entenderão. Sem dúvida, eles ficarão desapontados, mas não para sempre. Afinal, você conseguiu conciliar a agenda de cada um, só vai demorar mais um pouquinho.
Porém, com esse tipo de raciocínio, você acaba colocando as pessoas que o amam para trás. Justamente as pessoas que nos amam é que acabamos decepcionando, vítimas dos nossos erros do dia-a-dia. Que recompensa é essa que dispensamos àqueles que nos amam e que nos são leais? Por quanto tempo eles continuarão nos amando diante de atitudes assim?
Eu não tenho a menor dúvida que você escolheu jogar futebol porque sabe muito bem que seu chefe não o ama. Muito pelo contrário, ele não está nem aí para você. Ele pode substituí-lo na hora que quiser, sem um pingo de remorso. Você aceitou jogar com os colegas para que eles gostem um pouco mais de você. E com os seus filhos, que já o adoram, você aproveitou para negociar. Eles não vão dizer nada, vão entender, mas sentirão calados uma punhalada nas costas. A lógica diz que deveríamos ser leais com as pessoas que nos amam, mas na prática fazemos justamente o contrário.
Se acha que ninguém o ama ou que não é amado o suficiente, talvez isso ocorra porque você não tem sido leal com as pessoas a quem ama, achar que elas serão sempre compreensivas e razoáveis é seguramente o caminho para o desastre. Seus filhos acreditarão em você na próxima vez que lhes fizer uma promessa? Eles aprenderão o significado da palavra lealdade?
Seu chefe vai esquecê-lo totalmente um mês depois de você se aposentar, bem como os seus colegas de trabalho. Os únicos que jamais vão esquecê-lo são seus filhos, pela sua lealdade ou pelas pequenas decepções e infidelidades cometidas por você ao longo da vida.
(Stephen Kanitz é administrador (www.Kanitz.com.br) Revista Veja, Editora Abril, ed. 2053, ano 41, n° 12, 26 de março de 2008, página 22)
O texto “Amor e lealdade” leva o leitor à reflexão de que:
Estou na Avenida 23 de Maio, na pista do meio. Engarrafamento. De repente, a da direita anda. A da esquerda também. A minha não. Fico contando os carros que passam. Começo a ranger os dentes. Imagino: "Deve haver um acidente nesta pista". Dou seta à esquerda. Atiro meu carro na pista do lado. Ouço buzinadas. Consegui! Agora vou andar! Puro engano. Imediatamente, a da esquerda pára. A pista onde eu estava se desafoga. Todos os veículos que se encontravam atrás de mim me ultrapassam. Permaneço imóvel. Lamento-me: "Por que fui mudar de pista?".
É um mistério do trânsito. A pista do lado sempre anda mais que a minha! Pior. Há dias em que todos os semáforos ficam vermelhos quando me aproximo. Sem exceção. Isso costuma acontecer quando tenho algum compromisso inadiável. Tipo reunião com o chefe. Consulta médica. Canal do dente latejando. Pagar imposto no último dia de prazo!
Viajo muito de avião. O tamanho dos bancos diminuiu. Minha barriga aumentou. Todas as vezes o passageiro da frente reclina o banco, me deixando entalado. Com freqüência, ninguém mais, em todo o avião, reclina o assento. Só o da minha frente! Se vou a um teatro lotado, vira e mexe sento atrás de um gigante! Passo o espetáculo inteiro entortando o pescoço!
E caixa eletrônico de posto de gasolina? Quando chega a minha vez, há sempre um quebrado e no outro alguém lento. A pessoa tecla, tecla. Bota o cartão. Tira. Tecla de novo. Quando o caixa é ao ar livre, em geral cai um chuvisco. Fico com os óculos gotejando, durante séculos! Passo semanas planejando ir a determinado restaurante do qual falam de um bacalhau fantástico. Cinqüenta minutos de espera. Mal pego o cardápio, anuncio: – Vou querer o bacalhau. O garçom sorri: – O bacalhau hoje saiu todo...
(...)
Eu poderia escrever livros inteiros sobre filas. No embarque do aeroporto as duas pessoas à minha frente costumam ter problemas, com muitas idas e vindas das atendentes, enquanto meu vôo está sendo chamado! Nas lojas, sempre há um obstáculo. Como uma senhora que pede dez pacotes de presente, todos com lacinhos, enquanto espero! Ou na livraria um senhor resolve contar a vida para o caixa, em detalhes!
Há dias que são assim, tortos. Tudo conspira para dar errado. Mas, felizmente, outros são o contrário. Acordo feliz sem saber por quê. Os semáforos estão verdes. Não há filas! A mocinha do caixa sorri e tenho vontade de bater papo com ela!
Será coisa do destino? Meu humor atrai um dia ruim, outro melhor? Será que todos os dias são iguais, com coisas desagradáveis ou não? Serei eu que em alguns dias acho tudo péssimo e em outros, maravilhoso? Talvez seja essa a grande questão!
(Walcyr Carrasco. Texto adaptado:http://vejasaopaulo.abril.com.br/revista/vejasp/edicoes/2010/m0129855.html)
“A pessoa tecla, tecla.” Em relação ao trecho destacado, no contexto, a repetição do vocábulo indica: