Mais um desastre
Ainda demorará um tanto até que o impacto humano e
ambiental do rompimento da barragem em Brumadinho (MG)
possa ser propriamente avaliado. Algumas lições preliminares,
entretanto, já podem ser extraídas desse lamentável desastre.
A primeira deriva do fato acabrunhante de que não se trata de tragédia inédita no gênero. Há apenas três anos o país
consternou-se diante das 19 mortes e da incrível devastação
desencadeadas pelo colapso de uma barragem da Samarco,
que varreu do mapa a localidade de Bento Rodrigues (MG).
Pouco ou quase nada se fez desde então. A não ser, por
óbvio, as suspeitas medidas usuais: instalaram-se comissões
para tratar do assunto. Resultado? Nenhum.
Segundo relatório da Agência Nacional de Águas, ao
menos 45 barragens estão vulneráveis no país. Rachaduras,
infiltrações e ausência de documentos que comprovem a segurança são algumas das irregularidades identificadas.
Torna-se claro que há uma falha coletiva, institucional.
Autoridades estaduais e federais não atuaram como deveriam, e o mesmo se diga da Vale, sobretudo pela reincidência
– a mineradora foi corresponsável pela tragédia da Samarco.
Diante da nova catástrofe consumada, o Ibama multou
a Vale – a conferir se a penalidade será paga –, enquanto a
Justiça determinou o bloqueio de bilhões de reais para garantir reparação de danos. Ao mesmo tempo, Polícia Federal e
Ministério Público mostram-se empenhados em investigar as
causas e identificar os culpados.
Tais iniciativas, porém, serão inúteis se perderem ímpeto
com o tempo. Elas precisam ser efetivas e exemplares, pois
só assim ajudarão a impedir um terceiro desastre.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 28.01.2019. Adaptado)