Leia o texto a seguir para responder a questão.
Educação profissional para o século XXI
Novo Ensino Médio facilitará a integração dos jovens à
sociedade do trabalho, com impactos sociais relevantes.
*Por Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro
Wongtschowski
05/08/2023
O Novo Ensino Médio (NEM) entrou no debate público
neste ano e foi alçado a um patamar compatível a sua
importância. A etapa final da educação básica é complexa
por muitas razões, sendo momento delicado de transição à
vida adulta. É também a etapa que tem os piores
resultados de aprendizagem e índices altos de evasão. Não
há bala de prata em políticas públicas; não se chega
facilmente a consensos em problemas complexos. Mas há
um ponto específico que merece atenção redobrada nas
alterações que podem ser feitas após a conclusão da
acertada consulta pública realizada pelo Ministério da
Educação (MEC), que ouviu estudantes e professores.
Primeiramente, vale dizer que o NEM traz avanços que não
podem retroceder. Destacamos aqui três pilares
importantíssimos: a ampliação da carga horária, a
flexibilização curricular para atender à diversidade de
anseios de aprofundamento e vocações das juventudes e a
expansão da Educação Profissional e Tecnológica (EPT),
modalidade possível de ser mais conectada com as
demandas do século XXI que podem impulsionar a inserção
profissional e a renda dos jovens.
A EPT não pode ser vista como ponto de chegada da
formação, mas como opção que precede e cria
oportunidades para o ingresso no ensino superior ou no
mercado de trabalho. Isso é fundamental para um país
mais próspero e justo. E também urgente para uma
geração inteira de jovens que hoje ainda vê poucas opções
para seu futuro.
Dada a relevância que a formação técnica e profissional
pode ter para o ensino médio e para o país, são
preocupantes algumas propostas apresentadas no debate
público, por serem capazes de impor um freio relevante na
expansão do ensino técnico. Elas dizem respeito à
mudança na divisão de tempos entre a parte do ensino
médio comum a todos (chamada de “formação geral
básica”) e a constituída por opções de trilhas formativas
(“chamada de itinerários formativos”).
Há um consenso expressivo de que a regra atual, que
restringe a parte comum do currículo ao máximo de 1.800
horas (das 3 mil horas totais ao longo dos três anos), é um
equívoco. Dependendo de como esse número for
ampliado, pode causar grandes prejuízos à articulação da
EPT com o ensino médio. Isso porque pode impedir que os
cursos técnicos de nível médio sejam trabalhados na carga
horária total de 3 mil horas. Caso exija-se um mínimo de
2.400 horas para a parte comum a todos os estudantes,
restariam apenas 600 horas para os itinerários formativos,
inviabilizando um curso técnico dentro das 3 mil horas.
Há soluções no debate que dão conta de superar os
desafios atuais, sem prejudicar o avanço do EPT. E,
também importante, dando flexibilidade aos estados para
que possam pensar diferentes arranjos para seu ensino
médio. As propostas do Conselho Nacional de Secretários
de Educação (Consed) têm ido nesta linha.
O NEM representa uma grande oportunidade para a
valorização da formação profissional dos jovens e,
portanto, para o desenvolvimento inclusivo do país que
não podemos perder. Mais que atender às demandas de
um setor industrial e de serviços ávidos por jovens de boa
formação, na sua busca contínua por aumento de
produtividade, facilitará a integração dos jovens à
sociedade do trabalho, com impactos sociais relevantes e
redução do grave problema do desemprego nessa faixa
etária.
Na reta final do debate sobre o NEM, o Brasil tem a chance
de alcançar um desenho de política muito melhor que o
originalmente proposto, mas mantendo os avanços
trazidos. Em especial, a possibilidade de expandirmos para
valer as oportunidades oferecidas aos jovens de cursar a
EPT ao longo do ensino médio. O MEC acertou em abrir
uma consulta pública e ampliar o diálogo. O mais
importante, porém, reside na forma como a concluirá.
Disso depende o futuro de milhões de estudantes. E,
também, do próprio país.
Fonte: *Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski
são empresários.
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