Questões de Concurso
Para taquígrafo
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Não duvidamos, mesmo nas horas mais difíceis, que o nosso país já estivesse amadurecido suficientemente para que as regras e fundamentos da moral e do direito resistissem a toda sorte de desregramentos da paixão. O ato de hoje, neste Tribunal, fortalece o princípio de que não vinga mais entre nós o arbítrio e de que a lei é forte. Só se podem incluir, aliás, no número dos países civilizados aqueles em que as regras do jogo político são invioláveis, depois de aceitas. Só se podem considerar de fato constituídos em nação os povos para os quais a lei é objeto de acatamento, de limitação de sentimentos bruscos de desgoverno.
Juscelino Kubitschek. In: João Bosco Bezerra Bonfim. Op. cit., p. 266.
O governo não é uma entidade abstrata, um instrumento de coerção ou uma força extrínseca da comunidade nacional. Não é um agente de partidos, grupos, classes ou interesses. É a própria imagem refletida da pátria na soma das suas aspirações e no conjunto das suas afinidades. É emanação do povo e, como tal, servo da sua vontade, provedor de suas necessidades, a força humanizada e sensível que preside as relações e o desenvolvimento da sua vida social no sentido da cooperação e da harmonia das classes e dos interesses.
Getúlio Vargas. In: João Bosco Bezerra Bonfim. Palavra de presidente — Discursos de posse de Deodoro a Lula. Brasília: LGE Editora, 2004.p. 258.
O que há de política? É a pergunta que naturalmente ocorre a todos, e a que me fará o meu leitor, se não é ministro. O silêncio é a resposta. Não há nada, absolutamente nada. A tela da atualidade política é uma paisagem uniforme; nada a perturba, nada a modifica. Dissera-se um país onde o povo só sabe que existe politicamente quando ouve o fisco bater-lhe à porta.
O que dá razão a este marasmo? Causas gerais e causas especiais (...)
Não se admire, portanto, o leitor se não lhe dou notícias políticas. Política, como eu e meu leitor entendemos, não há. E devia agora exigir-se de um melro o alcance do olhar da águia e o rasgado do seu voo? Além de ilógico seria crueldade. Estamos muito bem assim.
Machado de Assis. Op. cit., p. 55 e 59 (com adaptações).
Poucos escritores terão acompanhado com tanto interesse e tanta acuidade a vida política brasileira como Machado de Assis. Nada lhe escapou. A pena do cronista, ou a pena do romancista e do contista, esteve sempre vigilante, não propriamente para combater, como os políticos exaltados, mas para esclarecer, para opinar. Para ser um estadista só faltou a ele o exercício da política, na Câmara, no Senado, no Ministério. Ele seria brilhante como soube ser no plano das letras. Certamente teria sido um grande estadista no plano da vida política efetiva, com a sua ampla visão do mundo.
Não farei uma afirmação temerária ao escrever que a história da política nacional não pode ser escrita, no espaço compreendido pela vida de Machado de Assis, sem o testemunho do mestre de Dom Casmurro. E com esta vantagem superior: ele pôs a compreensão no lugar da paixão, sempre que analisou um problema, retratou um político ou definiu uma situação, no curso de nossa história política.
José Sarney, In: Machado de Assis. O velho Senado. Brasília: Edições do Senado Federal, vol. 37, 2004, p. 15-6 (com adaptações)
Poucos escritores terão acompanhado com tanto interesse e tanta acuidade a vida política brasileira como Machado de Assis. Nada lhe escapou. A pena do cronista, ou a pena do romancista e do contista, esteve sempre vigilante, não propriamente para combater, como os políticos exaltados, mas para esclarecer, para opinar. Para ser um estadista só faltou a ele o exercício da política, na Câmara, no Senado, no Ministério. Ele seria brilhante como soube ser no plano das letras. Certamente teria sido um grande estadista no plano da vida política efetiva, com a sua ampla visão do mundo.
Não farei uma afirmação temerária ao escrever que a história da política nacional não pode ser escrita, no espaço compreendido pela vida de Machado de Assis, sem o testemunho do mestre de Dom Casmurro. E com esta vantagem superior: ele pôs a compreensão no lugar da paixão, sempre que analisou um problema, retratou um político ou definiu uma situação, no curso de nossa história política.
José Sarney, In: Machado de Assis. O velho Senado. Brasília: Edições do Senado Federal, vol. 37, 2004, p. 15-6 (com adaptações)
Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
Preserva-se o esquema de oposições observado em: “...oponha à casa a rua, e não a praça.” (§ 2) com a seguinte distribuição de acentos graves:
p: Luiza é bela. q: Marta é morena.
Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
A alternativa em que o adjunto adverbial expressa a mesma circunstância que DE TÉDIO, em “morreriam de tédio” (§ 4), é:
Mas mesmo a praça, na acepção de espaço em que as pessoas se socializam, se enfraqueceu. É significativo que Roberto DaMatta, ao analisar a oposição entre o mundo doméstico e o público na sociedade brasileira, oponha à casa a rua, e não a praça. A praça favorece a circulação, no sentido quase etimológico, do círculo, da ida e vinda, do encontro e reencontro: quem se lembra do que se chamava footing nas cidades do interior (os rapazes e moças dando voltas na praça, uns no sentido do relógio e outros no contrário, de modo a se cruzarem seguidas vezes) sabe do que falo. Já a rua é caminho de ida sem volta. Fica-se na praça, anda-se na rua. Vai-se, sai-se.
Ou tomemos outro lado da mesma questão. Como puxamos assunto com um estranho? Alfred Jarry, o autor de Ubu rei, dizia que um dia encontrou uma moça linda, na sala de espera de um médico. Não sabia como abordá-la – como iniciar a conversa. Sacou então de um revólver, deu um tiro no espelho que havia ali, voltou-se para ela e disse: Mademoiselle, agora que quebramos la glace (palavra que quer dizer tanto o gelo quanto o espelho)... É óbvio que era uma brincadeira; a piada valia mais para ele do que a conquista amorosa; imagino a moça gritando, fugindo; mas a questão fica: como quebrar o gelo, como criar um elo?
Stendhal, no seu ensaio “A comédia é impossível em 1836”, diz que os cortesãos, reunidos em Versalhes por Luís XIV, obrigados a ficar lá o dia todo, ou achavam assunto – ou morreriam de tédio. Assim, diz ele, nasceu a arte da conversa.Temas pequenos, leves, mas sobretudo agradáveis começaram a constituir um ponto de encontro de seus desejos e interesses. É nesse mesmo século XVII, segundo Peter Burke [...], que franceses, ingleses e italianos reivindicam a invenção da conversa como arte. Regra suprema: não falar de negócios ou trabalho. Regra suplementar: agradar às mulheres. A arte da conversa é uma retórica do dia a dia. Ela se abre até mesmo para uma dimensão segunda, que é a arte da sedução. Casanova era grande conversador e sedutor renomado.
Eis a questão: uma sociedade que se civiliza precisa de assuntos que sirvam de ponto de encontro para as pessoas, e sobretudo para os estranhos que assim entram em contato. No campo, conheço quase todos os vizinhos; na cidade grande, porém, a maioria é de estranhos. Sai-se do mundo rural quando se começa a conhecer o diferente, o outro – e a aceitá-lo. Isso se dá mediante a oferta de assuntos que abram uma conversa.
Daí a importância de expressões que minimizam ou mesmo aparentemente humilham essa conversa mole, como o small talk, o papo furado ou a bela expressão “jogar conversa fora”, que é muitíssimo sutil, porque dilapidamos palavras justamente para construir amizades, isto é, dissipamos nosso tempo, como num potlatch indígena, precisamente para criar o que há de melhor na vida.
(RIBEIRO, Renato J. <www.renatojanine.pro.br/FiloPol/elosocial.html>)
O pronome ou advérbio pronominal que faz referência, não a um segmento do texto, mas a algo que se encontra no universo fora dele, está destacado em: