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Q2887697 Português

Texto I


Por que cometemos atos falhos?


Por que você trocou o nome da namorada na hora H? Freud explica, mas é bom já saber que a neurociência discorda dele. Segundo a psicanalista Vera Warchavchik, a primeira explicação veio no livro Psicopatologia da vida cotidiana, de 1901, em que Freud descreveu o ato falho como uma confusão com um sentido maior por trás. Ou seja, para Freud, você fala “sem querer querendo”. Isso aí: todos temos nossos momentos Chaves.

Já a neurociência considera esse deslize um esquecimento corriqueiro sem nenhum significado especial. Ele acontece porque, ao contrário de uma filmadora, o cérebro não grava todos os mínimos detalhes dos acontecimentos, mas apenas as informações principais. Quando ativamos nosso banco de dados para buscar a situação completa, ele monta esses dados como se editasse um filme. E, para ligar uma coisa a outra, preenche as lacunas com algumas invenções. Pronto! É exatamente nesse momento que surgem as confusões, que, se pegarem mal, serão consideradas atos falhos. A contragosto dos psicanalistas, seriam simples e pequenos tilts na memória sem nenhuma razão oculta. Por isso, na próxima vez que der uma mancada na cama, diga que a culpa é do seu cérebro.


(Natália Kuschnaroff)

Com relação à pergunta do título, o texto I defende a seguinte resposta:

Alternativas
Q2887428 Administração Financeira e Orçamentária

A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/2000) tem como um de seus princípios a transparência administrativa. É(São) instrumento(s) de transparência da gestão fiscal:

Alternativas
Q2887427 Direito Constitucional

Pesquisas alarmantes acerca do aquecimento global demandam do Poder Público a implantação de políticas que visem a minimizar os efeitos negativos de tal fenômeno à vida. A este respeito, a Constituição do Estado de Rondônia, nos artigos que tratam da preservação do meio ambiente (Arts. 218 ao 232), estimula tomadas de decisão preventivas, sendo um dos deveres do Poder Público:

Alternativas
Q2887424 Meio Ambiente

O estabelecimento de uma agenda positiva, tendo em vista o desenvolvimento, supõe:

Alternativas
Q2887422 Administração Financeira e Orçamentária

Dentre as várias áreas que proporcionam o funcionamento das organizações governamentais, o orçamento configura-se como aquela que pode gerar uma melhora qualitativa da gestão pública. Contudo, segundo Cunha e Rezende (in Cavalcanti, Ruediger e Sobreira, 2005), a lógica que caracteriza a elaboração do orçamento obedece:

Alternativas
Q2887421 Administração Pública

As Organizações Não Governamentais (ONG) são uma expressão da sociedade civil, que atuam em diferentes esferas da vida pública. Tais Organizações podem estabelecer um encontro participativo com o Estado, o que implica:

Alternativas
Q2887419 Administração Pública

No ciclo de política, que compreende as fases de estruturação de políticas públicas, encontram-se as etapas de implementação e de avaliação. Tais etapas, de acordo com o conceito de redes de implementação, caracterizam-se por:

Alternativas
Q2887408 Geografia

Sobre o crescimento populacional de Rondônia, pode-se afirmar que:

I - nas décadas de 70 e 80 do século XX, o aumento da população coincidiu com o programa de colonização implantado pelo INCRA;

II - as políticas agrícolas implementadas no final do século XX aceleraram a urbanização no Estado de Rondônia;

III - logo após as duas guerras mundiais, muitos europeus decidiram deixar o continente arrasado e iniciar uma nova vida na América, especificamente no Estado de Rondônia;

IV - a presença de um sistema integrado de transporte, criado a partir da construção da BR-364, integrando a Amazônia ao Centro-Sul, facilitou a mobilidade espacial da população em direção a Rondônia.

Estão corretas, apenas, as afirmativas:

Alternativas
Q2887406 Geografia

Considera-se como um dos fatores determinantes da criação do Estado de Rondônia o(a):

Alternativas
Q2887402 História

Durante o desenrolar da chamada "questão acreana", alguns líderes defenderam a emancipação do Acre, tanto no que se refere à Bolívia, como em relação ao Brasil. Contudo, essa proposta não se concretizou, entre outros motivos, porque:

Alternativas
Q2887395 Português

Assinale a opção em que há uso INADEQUADO da regência verbal, segundo a norma culta da língua.

Alternativas
Q2887191 Português

A vida dos outros



Almoço fora todos os dias. Isso não é problema,

porque meu escritório fica em local muito movimenta-

do e com grande variedade de restaurantes. Em ge-

ral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa

5 maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser

invenção brasileira) que permite comer na medida cer-

ta, sem desperdícios, e observar os pratos antes de

fazer a escolha.

Mas gosto dos restaurantes a quilo também por

10 outra razão: são feitos sob medida para os solitários.

Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tími-

dos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga

e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar

com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só pa-

15 lavra.

Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam api-

nhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm

qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter compa-

nhia, nem nos fins de semana, que é tempo de famí-

20 lia, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são

também muito frequentados por turistas, pois é um

conforto para eles entrar e comer num lugar em que

não precisam tentar se entender com pessoas que só

falam essa língua secreta chamada português.

25___O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é

supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é –

deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E

por quê? Por culpa do telefone celular.

Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao

30 celular quando se sentam para comer. Resolvem as-

suntos pendentes, pedem informações, fazem enco-

mendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com

o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo

isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres

35 estômagos.

E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao

que está sendo dito nos celulares à minha volta. As-

sim que a conversa se estabelece, começo a prestar

atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, qua-

40 se sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.

Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de traba-

lho, marco reuniões, fico estressada com a mercado-

ria que não chegou – e tudo sem ter nada a ver com

isso.

45___Outro dia, durante um almoço, participei de duas

conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jo-

vem na mesa à minha esquerda atendeu um telefone-

ma a respeito de uma encomenda. Do outro lado do

fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmas-

50 se certas coisas. Não consegui entender a que produ-

to se referiam, mas sei que a moça parou de comer e,

segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou

na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a liga-

ção parecia estar ruim), números de série do artigo

55 encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato

esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer

sem ver aquele assunto resolvido?

Mal ela desligou e já tocava o celular de outra

senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava

60 encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompa-

nhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga inter-

nada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de

vez.

Com o advento do celular, minha vida ficou as-

65 sim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a

minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham

sido as pessoas que perderam esses limites. Porque

a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram

novas regras para acompanhar as transformações.

70 Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em

vigor, estabelecendo que é falta de educação falar

enquanto se almoça num restaurante (estando ou não

de boca cheia)? Espero que sim. Mas enquanto isso

não acontece, vou vivendo a vida dos outros.


SEIXAS, Heloisa. Disponível em: www.selecoes.com.br.

Acesso em: set. 2008. (Adaptado).

Qual das frases a seguir está corretamente pontuada?

Alternativas
Q2887190 Português

A vida dos outros



Almoço fora todos os dias. Isso não é problema,

porque meu escritório fica em local muito movimenta-

do e com grande variedade de restaurantes. Em ge-

ral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa

5 maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser

invenção brasileira) que permite comer na medida cer-

ta, sem desperdícios, e observar os pratos antes de

fazer a escolha.

Mas gosto dos restaurantes a quilo também por

10 outra razão: são feitos sob medida para os solitários.

Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tími-

dos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga

e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar

com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só pa-

15 lavra.

Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam api-

nhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm

qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter compa-

nhia, nem nos fins de semana, que é tempo de famí-

20 lia, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são

também muito frequentados por turistas, pois é um

conforto para eles entrar e comer num lugar em que

não precisam tentar se entender com pessoas que só

falam essa língua secreta chamada português.

25___O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é

supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é –

deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E

por quê? Por culpa do telefone celular.

Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao

30 celular quando se sentam para comer. Resolvem as-

suntos pendentes, pedem informações, fazem enco-

mendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com

o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo

isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres

35 estômagos.

E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao

que está sendo dito nos celulares à minha volta. As-

sim que a conversa se estabelece, começo a prestar

atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, qua-

40 se sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.

Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de traba-

lho, marco reuniões, fico estressada com a mercado-

ria que não chegou – e tudo sem ter nada a ver com

isso.

45___Outro dia, durante um almoço, participei de duas

conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jo-

vem na mesa à minha esquerda atendeu um telefone-

ma a respeito de uma encomenda. Do outro lado do

fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmas-

50 se certas coisas. Não consegui entender a que produ-

to se referiam, mas sei que a moça parou de comer e,

segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou

na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a liga-

ção parecia estar ruim), números de série do artigo

55 encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato

esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer

sem ver aquele assunto resolvido?

Mal ela desligou e já tocava o celular de outra

senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava

60 encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompa-

nhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga inter-

nada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de

vez.

Com o advento do celular, minha vida ficou as-

65 sim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a

minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham

sido as pessoas que perderam esses limites. Porque

a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram

novas regras para acompanhar as transformações.

70 Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em

vigor, estabelecendo que é falta de educação falar

enquanto se almoça num restaurante (estando ou não

de boca cheia)? Espero que sim. Mas enquanto isso

não acontece, vou vivendo a vida dos outros.


SEIXAS, Heloisa. Disponível em: www.selecoes.com.br.

Acesso em: set. 2008. (Adaptado).

Assinale a sentença em que há ERRO na concordância nominal.

Alternativas
Q2887189 Português

A vida dos outros



Almoço fora todos os dias. Isso não é problema,

porque meu escritório fica em local muito movimenta-

do e com grande variedade de restaurantes. Em ge-

ral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa

5 maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser

invenção brasileira) que permite comer na medida cer-

ta, sem desperdícios, e observar os pratos antes de

fazer a escolha.

Mas gosto dos restaurantes a quilo também por

10 outra razão: são feitos sob medida para os solitários.

Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tími-

dos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga

e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar

com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só pa-

15 lavra.

Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam api-

nhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm

qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter compa-

nhia, nem nos fins de semana, que é tempo de famí-

20 lia, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são

também muito frequentados por turistas, pois é um

conforto para eles entrar e comer num lugar em que

não precisam tentar se entender com pessoas que só

falam essa língua secreta chamada português.

25___O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é

supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é –

deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E

por quê? Por culpa do telefone celular.

Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao

30 celular quando se sentam para comer. Resolvem as-

suntos pendentes, pedem informações, fazem enco-

mendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com

o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo

isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres

35 estômagos.

E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao

que está sendo dito nos celulares à minha volta. As-

sim que a conversa se estabelece, começo a prestar

atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, qua-

40 se sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.

Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de traba-

lho, marco reuniões, fico estressada com a mercado-

ria que não chegou – e tudo sem ter nada a ver com

isso.

45___Outro dia, durante um almoço, participei de duas

conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jo-

vem na mesa à minha esquerda atendeu um telefone-

ma a respeito de uma encomenda. Do outro lado do

fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmas-

50 se certas coisas. Não consegui entender a que produ-

to se referiam, mas sei que a moça parou de comer e,

segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou

na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a liga-

ção parecia estar ruim), números de série do artigo

55 encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato

esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer

sem ver aquele assunto resolvido?

Mal ela desligou e já tocava o celular de outra

senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava

60 encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompa-

nhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga inter-

nada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de

vez.

Com o advento do celular, minha vida ficou as-

65 sim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a

minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham

sido as pessoas que perderam esses limites. Porque

a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram

novas regras para acompanhar as transformações.

70 Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em

vigor, estabelecendo que é falta de educação falar

enquanto se almoça num restaurante (estando ou não

de boca cheia)? Espero que sim. Mas enquanto isso

não acontece, vou vivendo a vida dos outros.


SEIXAS, Heloisa. Disponível em: www.selecoes.com.br.

Acesso em: set. 2008. (Adaptado).

Analise as frases a seguir, quanto ao uso do acento indicativo de crase.


I – Heloísa não sabe se a comida está à altura dos convidados.

II – Os telefones começaram a tocar à partir daquele momento.

III – Ao sair à rua, percebeu que esquecera o celular.

IV – A moça teria de informar se o pagamento seria feito à vista ou à prazo.


O acento indicativo de crase está empregado de forma totalmente correta APENAS nas frases

Alternativas
Q2887187 Português

A vida dos outros



Almoço fora todos os dias. Isso não é problema,

porque meu escritório fica em local muito movimenta-

do e com grande variedade de restaurantes. Em ge-

ral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa

5 maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser

invenção brasileira) que permite comer na medida cer-

ta, sem desperdícios, e observar os pratos antes de

fazer a escolha.

Mas gosto dos restaurantes a quilo também por

10 outra razão: são feitos sob medida para os solitários.

Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tími-

dos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga

e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar

com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só pa-

15 lavra.

Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam api-

nhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm

qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter compa-

nhia, nem nos fins de semana, que é tempo de famí-

20 lia, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são

também muito frequentados por turistas, pois é um

conforto para eles entrar e comer num lugar em que

não precisam tentar se entender com pessoas que só

falam essa língua secreta chamada português.

25___O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é

supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é –

deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E

por quê? Por culpa do telefone celular.

Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao

30 celular quando se sentam para comer. Resolvem as-

suntos pendentes, pedem informações, fazem enco-

mendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com

o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo

isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres

35 estômagos.

E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao

que está sendo dito nos celulares à minha volta. As-

sim que a conversa se estabelece, começo a prestar

atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, qua-

40 se sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.

Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de traba-

lho, marco reuniões, fico estressada com a mercado-

ria que não chegou – e tudo sem ter nada a ver com

isso.

45___Outro dia, durante um almoço, participei de duas

conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jo-

vem na mesa à minha esquerda atendeu um telefone-

ma a respeito de uma encomenda. Do outro lado do

fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmas-

50 se certas coisas. Não consegui entender a que produ-

to se referiam, mas sei que a moça parou de comer e,

segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou

na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a liga-

ção parecia estar ruim), números de série do artigo

55 encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato

esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer

sem ver aquele assunto resolvido?

Mal ela desligou e já tocava o celular de outra

senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava

60 encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompa-

nhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga inter-

nada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de

vez.

Com o advento do celular, minha vida ficou as-

65 sim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a

minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham

sido as pessoas que perderam esses limites. Porque

a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram

novas regras para acompanhar as transformações.

70 Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em

vigor, estabelecendo que é falta de educação falar

enquanto se almoça num restaurante (estando ou não

de boca cheia)? Espero que sim. Mas enquanto isso

não acontece, vou vivendo a vida dos outros.


SEIXAS, Heloisa. Disponível em: www.selecoes.com.br.

Acesso em: set. 2008. (Adaptado).

O barulho no local era tão alto que o homem, coitado, saiu rápido.


Indique o único período que mantém exatamente o mesmo sentido da oração apresentada acima, embora com outra estrutura.

Alternativas
Q2887185 Português

A vida dos outros



Almoço fora todos os dias. Isso não é problema,

porque meu escritório fica em local muito movimenta-

do e com grande variedade de restaurantes. Em ge-

ral, prefiro aqueles que oferecem comida a quilo, essa

5 maravilhosa invenção moderna (há quem garanta ser

invenção brasileira) que permite comer na medida cer-

ta, sem desperdícios, e observar os pratos antes de

fazer a escolha.

Mas gosto dos restaurantes a quilo também por

10 outra razão: são feitos sob medida para os solitários.

Neles, reinam os introvertidos, os retraídos, os tími-

dos. Você entra, escolhe, pesa, se senta, come, paga

e vai embora. Se não quiser, não precisa conversar

com ninguém, emitir um som, pronunciar uma só pa-

15 lavra.

Talvez por isso, os restaurantes a quilo vivam api-

nhados de pessoas sozinhas. Neles, elas não têm

qualquer pudor de se sentar à mesa sem ter compa-

nhia, nem nos fins de semana, que é tempo de famí-

20 lia, amigos, congregação. Os restaurantes a quilo são

também muito frequentados por turistas, pois é um

conforto para eles entrar e comer num lugar em que

não precisam tentar se entender com pessoas que só

falam essa língua secreta chamada português.

25___O restaurante a quilo é o lugar onde a palavra é

supérflua e onde deveria reinar o silêncio. Pois é –

deveria. Mas o que ocorre é justamente o contrário. E

por quê? Por culpa do telefone celular.

Por alguma razão, as pessoas precisam falar ao

30 celular quando se sentam para comer. Resolvem as-

suntos pendentes, pedem informações, fazem enco-

mendas, fecham negócios ou mesmo batem papo com

o amigo ou amiga que não vêem há tempos – e tudo

isso enquanto mastigam e engolem o almoço. Pobres

35 estômagos.

E pobre de mim. Não consigo ficar indiferente ao

que está sendo dito nos celulares à minha volta. As-

sim que a conversa se estabelece, começo a prestar

atenção ao que está sendo dito e, daqui a pouco, qua-

40 se sem perceber, me vejo vivendo a vida dos outros.

Sofro, brigo, peço ou dou informação, falo de traba-

lho, marco reuniões, fico estressada com a mercado-

ria que não chegou – e tudo sem ter nada a ver com

isso.

45___Outro dia, durante um almoço, participei de duas

conversas inquietantes. A primeira foi quando uma jo-

vem na mesa à minha esquerda atendeu um telefone-

ma a respeito de uma encomenda. Do outro lado do

fio, alguém tinha dúvidas e queria que ela confirmas-

50 se certas coisas. Não consegui entender a que produ-

to se referiam, mas sei que a moça parou de comer e,

segurando o celular entre a orelha e o ombro, catou

na bolsa um caderninho e repetiu, aos gritos (a liga-

ção parecia estar ruim), números de série do artigo

55 encomendado. Enquanto isso, a comida em seu prato

esfriava. E a minha também. Como eu poderia comer

sem ver aquele assunto resolvido?

Mal ela desligou e já tocava o celular de outra

senhora, duas ou três mesas à minha frente. Estava

60 encoberta e não pude ver-lhe o rosto. Mas acompa-

nhei, acabrunhada, sua conversa sobre a amiga inter-

nada, que acabara de ser operada. Perdi a fome de

vez.

Com o advento do celular, minha vida ficou as-

65 sim. Já não tenho noção dos limites (onde acaba a

minha vida e começa a do outro?). Ou talvez tenham

sido as pessoas que perderam esses limites. Porque

a tecnologia transformou o mundo, mas não surgiram

novas regras para acompanhar as transformações.

70 Será que algum dia uma nova etiqueta vai entrar em

vigor, estabelecendo que é falta de educação falar

enquanto se almoça num restaurante (estando ou não

de boca cheia)? Espero que sim. Mas enquanto isso

não acontece, vou vivendo a vida dos outros.


SEIXAS, Heloisa. Disponível em: www.selecoes.com.br.

Acesso em: set. 2008. (Adaptado).

A autora considera que vive a vida dos outros nos momentos em que

Alternativas
Respostas
2261: D
2262: D
2263: B
2264: C
2265: A
2266: D
2267: E
2268: A
2269: E
2270: B
2271: A
2272: E
2273: A
2274: C
2275: D
2276: D
2277: B
2278: E
2279: C
2280: B