No contexto atual, torna- se impossível não falar
sobre a pandemia que assola o mundo, em virtude
de tudo o que ela provocou e provoca, e da pergunta
dos gestores, educadores, políticos e cidadãos:
como será o mundo após a pandemia?
No que diz respeito à Educação, conforme a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco), sabemos que a crise
causada pela Covid-19 resultou no encerramento
das aulas em escolas e em universidades, afetando
mais de 90% dos estudantes do mundo (UNESCO,
2020). A partir desse número, pergunta-se: qual o
futuro da Educação num mundo abalado pelo novo
coronavírus?
Quando as escolas reabrirem, e, em algumas partes
do mundo, tal evento já começou a ocorrer, a
emergente recessão econômica, certamente,
aumentará as desigualdades e poderá reverter o
progresso obtido por alguns países na expansão do
acesso educacional e na melhoria da aprendizagem.
Por isso, é necessário que os países reconheçam o
problema – como não o fizeram quando a COVID-19
começou a espalhar-se pelo mundo –, e criem
políticas públicas voltadas especificamente para a
Educação.
A nosso ver, por mais que a economia dos países
sofra com a pandemia, os investimentos em
Educação devem ser mantidos, quiçá aumentados.
Conforme a Unesco, a natural queda na
aprendizagem poderá alastrar-se por mais de uma
década se não forem criadas políticas públicas que
invistam em melhorias de infraestrutura, tecnologias,
formação, metodologias e salários, além do reforço
da merenda, melhor aproveitamento do tempo,
tutoria fora do horário usual das aulas e material
adicional, quando possível (UNESCO, 2020). Em
concordância com a Unesco, o parecer do Conselho
Nacional de Educação do Ministério da Educação do
Brasil, seguiu a mesma linha e reconheceu os
problemas causados pela pandemia. O parecer
procurou reorganizar as atividades acadêmicas e
sinalizou com a permissão para aulas aos sábados –
em horários de contraturno e durante as férias –,
para que os alunos da Educação Básica não percam
o ano letivo e apontou outras medidas semelhantes
àquelas já defendidas pela Unesco (BRASIL, 2020).
A Educação a distância (EaD) não pode ser a única
solução, esta metodologia tende a exacerbar as
desigualdades já existentes, que são parcialmente
niveladas nos ambientes escolares, simplesmente,
porque nem todos possuem o equipamento
necessário. Se a meta for investir apenas em
ferramentas digitais, certamente, contribuiremos para
uma piora na aprendizagem dos alunos a curto e a
médio prazos (SOUZA; FRANCO; COSTA, 2016).
Nós precisamos repensar o futuro da Educação,
incluindo uma articulação apropriada entre o EaD e o
Ensino presencial (UNESCO, 2020). Até porque,
muitos no Brasil não têm acesso a computadores,
celulares ou à Internet de qualidade – realidade
constatada pelas secretarias de Educação de
Estados e municípios no atual momento – e um
número considerável alto de professores precisou
aprender a utilizar as plataformas digitais, inserir
atividades online, avaliar os estudantes a distância e
produzir e inserir nas plataformas material que ajude
o aluno a entender os conteúdos, além das usuais
aulas gravadas e online. Na pandemia, grande parte
das escolas e das universidades estão fazendo o
possível para garantir o uso das ferramentas digitais,
mas sem terem o tempo hábil para testá-las ou
capacitar o corpo docente e técnico-administrativo
para utilizá-las corretamente.
Há ainda outros obstáculos graves, especialmente
para alunos e professores mais empobrecidos,
muitos deles localizados na periferia das grandes
cidades ou na zona rural. Faltam computadores,
aparelhos de telefonia móvel, software e Internet de
boa qualidade, recursos imprescindíveis para um
EaD que resulte em aprendizagem.
Não podemos esquecer que saúde física e saúde
mental andam juntas. A duração prolongada do
confinamento, a falta de contato pessoal com os
colegas de classe, o medo de ser infectado, a falta
de espaço em casa – torna o estudante menos ativo
fisicamente do que se estivesse na escola –, e a falta
de merenda para os alunos menos privilegiados são
fatores de estresse que atingem a saúde mental de
boa parte dos estudantes da Educação Básica e das
suas famílias. Estimular a solidariedade, a resiliência
e a continuidade das relações sociais entre
educadores e alunos nesse período é fundamental,
pois ajuda a minorar o impacto psicológico negativo
da pandemia nos estudantes. Agora, importa
prevenir e reduzir os níveis elevados de ansiedade,
de depressão e de estresse que o confinamento
provoca nos estudantes em quarentena (MAIA;
DIAS, 2020).
No momento atual, muitas escolas, públicas e
privadas, estão exagerando nas expectativas do que
professores e familiares conseguem fazer. Há
diferenças substanciais entre as famílias,
atualmente, em confinamento. Algumas podem
ajudar seus filhos a aprender mais do que outras.
Fatores como a quantidade de tempo disponível para se dedicar aos estudos dos filhos, auxiliando-os com
as aulas online – muitos pais estão em home office
cumprindo horário laboral integral e outros tantos
precisam trabalhar externamente para garantir a
renda mensal –; as habilidades não cognitivas dos
genitores; a possibilidade de acessar o material
online; a quantidade de conhecimento inato dos pais
– afinal, é difícil ajudar o filho se tiver de aprender
algo estranho ao que se conheceu e aprendeu – ,
são questões a serem levados em conta quanto ao
papel dos pais na Educação dos filhos em tempos de
pandemia. Toda essa situação gerará um aumento
da desigualdade na Educação e no progresso do
estudante (CIFUENTES-FAURA, 2020).
Além disso, os secretários de Educação e os
gestores das escolas precisam pensar na saúde
mental de todos, até porque, os professores também
estão fragilizados. Se os educadores ficarem
exaustos mentalmente, e aproximarem-se de um
esgotamento físico e mental, não poderão ajudar a si
ou aos alunos (MAIA; DIAS, 2020).
Para construirmos um futuro mais saudável,
próspero e seguro, precisamos de políticas públicas
que garantam um financiamento adequado para a
Educação, fazer uso inteligente das tecnologias
disponíveis, priorizar os mais vulneráveis e proteger
educadores e alunos. O Estado precisa se fazer
presente."
Adaptado de: DIAS, Érika; PINTO, Fátima Cunha Ferreira.
A Educação e a Covid-19. Ensaio: aval.pol.públ.Educ. , Rio
de Janeiro, v. 28, n. 108, pág. 545-554, setembro de 2020. Epub 06 de julho de 2020.
https://doi.org/10.1590/s0104-4036201900280108000 .
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