Questões de Concurso
Sobre concordância verbal, concordância nominal em português
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Por Aldo Bizzocchi Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/a-persistir-o-pedantismo-o-linguista-devera-ser-consultado-313578-1.asp Acesso em 24 ago 2014.
Onde há excesso de leis,em geral há falta de educação. Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.
É por termos o mau hábito da automedicação que o governo instituiu a obrigatoriedade de os anúncios de medicamentos trazerem o alerta “A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. O problema é que essa lei, nascida da cabeça de algum parlamentar com formação bacharelesca (como grande parte de nossos políticos) e nenhuma sintonia com o povo (como a quase totalidade deles) obriga a propaganda a trazer uma mensagem que, embora destinada sobretudo às pessoas mais humildes (justamente as que, pela precariedade do serviço público de saúde, mais se automedicam), utiliza um linguajar incompreensível pelo vulgo.
“A persistirem” é construção infinitiva pessoal equivalente ao gerúndio “persistindo”, forma esta um pouco mais corrente nos dias de hoje. Mesmo assim, “persistindo os sintomas, o médico deverá ser consultado” ainda é bastante rebuscado, já que o gerúndio, no caso, oculta uma oração condicional: “se os sintomas persistirem...” (é a chamada oração subordinada reduzida de gerúndio). Alguns comerciais até empregam, provavelmente à revelia da lei, “se persistirem os sintomas”, formulação que, embora mais transparente, ainda peca pela inversão entre sujeito e predicado.
E quanto à oração principal? Em lugar da voz passiva de “o médico deverá ser consultado”, iria muito melhor aí a voz ativa (“deve-se consultar o médico”) ou - a mais feliz das soluções em se tratando de comunicação com o público – o uso do imperativo: “consulte o médico”.
Em resumo, não fosse o pedantismo com que os nossos legisladores empregam a língua, como se erudição fosse índice de competência ou honestidade, eríamos um aviso muito mais simples, direto e acessível à massa: “Se os sintomas persistirem, (ou “continuarem”, ou “não passarem”), consulte o médico”.
O mesmo vício se encontra naquele famoso aviso presente em todos os elevadores: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Se era para ser pedante, por que não redigiram logo algo como “Antes de adentrar o elevador, certifique-se de que o mesmo encontra-se parado no presente andar”?
Tivesse esse aviso sido escrito por um publicitário ou marqueteiro, certamente teríamos algo simples e sucinto como “Antes de entrar no elevador, verifique se ele está parado neste andar”. E também teríamos nos livrado da péssima colocação pronominal “encontra-se” no lugar de “se encontra” (em orações subordinadas, só se usa próclise). Isto é, além de pedante, esse aviso peca pela hipercorreção.
Também nos elevadores, há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas por raça, cor, credo, condição social, doença não contagiosa, etc. Só que o aviso, uma mera transcrição do texto legal, não diz “é proibido”, diz “é vedado”. Ora, a maioria das pessoas sujeitas a sofrer os tipos de discriminação elencados nessa lei certamente não sabe o que significa “vedado” (talvez os pintores de paredes pensem na vedação contra umidade). Tampouco saberiam o que é “porte e presença de doença não contagiosa por convívio social”. E assim vamos levando a vida neste país em que falta educação, civilidade e urbanidade, mas abundam leis e sobram (ou melhor, sobejam) políticos bem-falantes e mal-intencionados.
Aldo Bizzocchi é doutor em Linguística pela USP, com pós-doutorado pela UERJ, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas Athena). www.aldobizzocchi.com.br
I. No último parágrafo, há uma incorreção de concordância em: “[...], há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas [...].”, pois a expressão “é proibido” é sempre invariável.
II. Na primeira frase do texto, a expressão destacada é um adjunto adverbial e imprime a ideia de algo com realização provável.
III. A palavra “vulgo”, destacada no texto, significa, no contexto, povo.
IV. No penúltimo parágrafo foi empregada corretamente a relação dos tempos e modos verbais: pretérito perfeito do subjuntivo e futuro do pretérito, pois o autor faz referência a ações hipotéticas.
A sequência correta é:
Nos reinos da intolerância
A intolerância sexual reverberou na Casa Branca e no
Vaticano. O presidente Barack Obama criticou os países que
adotam leis discriminatórias contra homossexuais. “Não tenho
nenhuma tolerância com os países que tentam tratar gays,
lésbicas ou pessoas transgênero de uma maneira que os intimide
ou prejudique”,declarou. Já o Papa Francisco distinguiu-se de
seus antecessores, explicando que não tem o direito de julgar as
inclinações sexuais dos indivíduos.
Normatizar o comportamento sexual de um indivíduo, algo
que só pertence a ele, constitui uma das formas mais cruéis de
violência. Cada ação política nessa direção potencializa a
discriminação e o ódio sexual. Obama entendeu isso e até o Papa
ensaiou uma mudança na tradicional posição doutrinária da
Igreja. Entretanto, a política da intolerância continua a imperar
nos países que negaram o valor dos direitos individuais.
(Axé Silva, O Mundo, setembro de 2013)
A forma de reescrever-se essa frase do texto que não respeita a correspondência culta de tempos verbais é
O criador da mais conhecida e celebrada canção sertaneja, Tristeza do Jeca (1918), não era, como se poderia esperar, um sofredor habitante do campo, mas o dentista, escrivão de polícia e dono de loja Angelino Oliveira. Gravada por “caipiras” e “sertanejos”, nos “bons tempos do cururu autêntico”, assim como nos “tempos modernos da música ‘americanizada’ dos rodeios”, Tristeza do Jeca é o grande exemplo da notável, embora pouco conhecida, fluidez que marca a transição entre os meios rural e urbano, pelo menos em termos de música brasileira.
Num tempo em que homem só cantava em tom maior e voz grave, o Jeca surge humilde e sem vergonha alguma da sua “falta de masculinidade”, choroso, melancólico, lamentando não poder voltar ao passado e, assim, “cada toada representa uma saudade”. O Jeca de Oliveira não se interessa pelo meio rural da miséria, das catástrofes naturais, mas pelo íntimo e sentimental, e foi nesse seu tom que a música, caipira ou sertaneja, ganhou forma.
“A canção popular conserva profunda nostalgia da roça. Moderna, sofisticada e citadina, essa música foi e é igualmente roceira, matuta, acanhada, rústica e sem trato com a área urbana, de tal forma que, em todas essas composições, haja sempre a voz exemplar do migrante, a qual se faz ouvir para registrar uma situação de desenraizamento, de dependência e falta”, analisa a cientista política Heloísa Starling.
Acrescenta o antropólogo Allan de Paula Oliveira: “foi entre 1902 e 1960 que a música sertaneja surgiu como um campo específico no interior da MPB. Mas, se num período inicial, até 1930, ‘sertanejo’ indicava indistintamente as músicas produzidas no interior do país, tendo como referência o Nordeste, a partir dos anos de 1930, 'sertanejo' passou a significar o caipira do Centro-Sul. E, pouco mais tarde, de São Paulo. Assim, se Jararaca e Ratinho, ícones da passagem do
sertanejo nordestino para o ‘caipira’, trabalhavam no Rio, as duplas dos anos 1940, como Tonico e Tinoco, trabalhariam em São Paulo”.
(Adaptado de: HAAG, Carlos. “Saudades do Jeca no século XXI”. In: Revista Fapesp, outubro de 2009, p. 80-5.)
Para os emergentes, a recomendação, por enquanto, é __(1)__adiante os esforços de consolidação fiscal e de reformas para elevar o potencial de crescimento e garantir uma expansão segura nos próximos anos. Os governos devem adotar políticas para tornar __(2)__economias menos vulneráveis __(3)__mudanças no mercado financeiro - um risco associado, __(4)__ curto prazo, __(5)__ esperado aperto da política monetária americana. Menos crédito disponível e juros consequentemente mais altos compõem o cenário previsto.
(Adaptado de O Estado de S. Paulo, 14/12/2013)
Nunca na história da humanidade, uma virada de ano teve tantos registros em imagens e textos como esta de 2013 para 2014. Jamais as pessoas tiveram tanto poder nas mãos para fotografar, descrever e repassar instantaneamente para qualquer parte do mundo tudo o que lhes parece interessante. Os smartphones e as redes sociais consolidaram-se como instrumentos da comunicação instantânea, reduzindo distâncias, aproximando pessoas, possibilitando o compartilhamento de informações e até mesmo de intimidades.
(Adaptado de Zero Hora (RS), 31/12/2013)
Talvez tão importante quanto isso seja a retomada do debate sobre o futuro do Brasil. O longo prazo representa antecipar para o presente a nação que se deseja construir. Só agora, passado o tempo do regime fechado, controlada a inflação e superado o anacronismo do pensamento único, o país parece se permitir ir além e começar a sair das amarras, buscando preparar a nação para a existência de uma sociedade mais justa e um lugar digno entre os povos.
O livro que agora se apresenta nasce com esse espírito crítico, inovador e democrático, mérito inegável de seus organizadores e de todos os autores participantes. Ao longo dos seus capítulos, o leitor encontrará o conjunto de ideias principais que guiam o debate recente sobre o desenvolvimento econômico e social do país, suas oportunidades e desafios. É também uma publicação plural posto que, lado a lado, autores das mais diferentes escolas econômicas expõem seu pensamento, sem qualquer ruído ou pejo, em favor de um debate franco, aberto e visando um país melhor.
Contudo, apesar da diversidade das opiniões e teses, uma constante salta aos olhos dos leitores: em todos os textos, a problemática do Estado é muito presente e, até diria, capaz de fazer intuir sobre a linha de interpretação dos autores. Vejamos, por exemplo, que, por grossas linhas, podemos dividir o conjunto dos capítulos em dois grandes blocos: um reticente em relação ao papel a ser exercido pelo Estado no processo de desenvolvimento econômico de uma nação; e, de outro, autores que julgam impossível alcançar algo complexo como o desenvolvimento sem a forte e planejada presença do Estado na economia.
Nesse caso, o primeiro grupo, mais identificado com o pensamento econômico ortodoxo, defende um conjunto de reformas que deem consistência e valorizem princípios privados de acumulação, empreendedorismo e sucesso de cada agente. Para eles, a ação racional e individualista dos homens, dadas as necessárias garantias e estabilidade de uma ordem verdadeiramente capitalista, ofereceria, inequivocamente, o ambiente fértil para o florescer do progresso e do desenvolvimento. Assim, com o Estado garantindo a ordem, as instituições e a democracia, com preços relativos se posicionando corretamente e a competição livre, se emitiriam os sinais adequados para que se sentissem atraídos os investidores, ajustando, de acordo com aquilo que a sociedade mais valoriza, a alocação de recursos e a produção.
A partir do outro ponto de vista, em meio aos autores mais próximos da tradição heterodoxa do pensamento econômico, o papel do Estado é visto como historicamente indissociável do processo de desenvolvimento e, por isso mesmo, tido como estratégico. Para estes, dada a especificidade histórica da sociedade brasileira e latino-americana, a atuação das forças primárias do mercado leva, inexoravelmente, à manutenção da ordem elitista e concentradora dos frutos do crescimento e do progresso econômico. De maneira um pouco mais forte e tomando emprestada uma observação de Celso Furtado, para eles o desenvolvimento dentro de uma sociedade periférica e dependente não é possível. Assim, segundo esses pensadores, o Estado seria o único agente social capaz de proporcionar, dentro do capitalismo, um ambiente de mudança social em favor de uma ordem mais produtiva, igual, democrática e progressista. Em outros termos: sem Estado, não há desenvolvimento nem soberania.
POCHMANN, M. Prefácio. Sociedade e Economia: estratégias de crescimento e desenvolvimento. Org: João Sicsú e Armando Castelar. Brasília: IPEA, 2009. Texto com adaptações.
I. Em “dada a especificidade histórica da sociedade brasileira e latino-americana”, é opcional a flexão no plural do termo destacado, sem a necessidade de quaisquer outras alterações para a manutenção do sentido e da correção gramatical.
II. No penúltimo período, a expressão “em favor de” pode ser substituída pela oração “que vá de encontro a”, sem que haja prejuízo para o sentido ou para a correção gramatical do trecho.
III. No segundo período, a retirada do acento grave indicativo de crase em “à manutenção” gerará uma estrutura sintática válida, porém de sentido diferente do da estrutura original.
É correto o que se afirma em
Talvez tão importante quanto isso seja a retomada do debate sobre o futuro do Brasil. O longo prazo representa antecipar para o presente a nação que se deseja construir. Só agora, passado o tempo do regime fechado, controlada a inflação e superado o anacronismo do pensamento único, o país parece se permitir ir além e começar a sair das amarras, buscando preparar a nação para a existência de uma sociedade mais justa e um lugar digno entre os povos.
O livro que agora se apresenta nasce com esse espírito crítico, inovador e democrático, mérito inegável de seus organizadores e de todos os autores participantes. Ao longo dos seus capítulos, o leitor encontrará o conjunto de ideias principais que guiam o debate recente sobre o desenvolvimento econômico e social do país, suas oportunidades e desafios. É também uma publicação plural posto que, lado a lado, autores das mais diferentes escolas econômicas expõem seu pensamento, sem qualquer ruído ou pejo, em favor de um debate franco, aberto e visando um país melhor.
Contudo, apesar da diversidade das opiniões e teses, uma constante salta aos olhos dos leitores: em todos os textos, a problemática do Estado é muito presente e, até diria, capaz de fazer intuir sobre a linha de interpretação dos autores. Vejamos, por exemplo, que, por grossas linhas, podemos dividir o conjunto dos capítulos em dois grandes blocos: um reticente em relação ao papel a ser exercido pelo Estado no processo de desenvolvimento econômico de uma nação; e, de outro, autores que julgam impossível alcançar algo complexo como o desenvolvimento sem a forte e planejada presença do Estado na economia.
Nesse caso, o primeiro grupo, mais identificado com o pensamento econômico ortodoxo, defende um conjunto de reformas que deem consistência e valorizem princípios privados de acumulação, empreendedorismo e sucesso de cada agente. Para eles, a ação racional e individualista dos homens, dadas as necessárias garantias e estabilidade de uma ordem verdadeiramente capitalista, ofereceria, inequivocamente, o ambiente fértil para o florescer do progresso e do desenvolvimento. Assim, com o Estado garantindo a ordem, as instituições e a democracia, com preços relativos se posicionando corretamente e a competição livre, se emitiriam os sinais adequados para que se sentissem atraídos os investidores, ajustando, de acordo com aquilo que a sociedade mais valoriza, a alocação de recursos e a produção.
A partir do outro ponto de vista, em meio aos autores mais próximos da tradição heterodoxa do pensamento econômico, o papel do Estado é visto como historicamente indissociável do processo de desenvolvimento e, por isso mesmo, tido como estratégico. Para estes, dada a especificidade histórica da sociedade brasileira e latino-americana, a atuação das forças primárias do mercado leva, inexoravelmente, à manutenção da ordem elitista e concentradora dos frutos do crescimento e do progresso econômico. De maneira um pouco mais forte e tomando emprestada uma observação de Celso Furtado, para eles o desenvolvimento dentro de uma sociedade periférica e dependente não é possível. Assim, segundo esses pensadores, o Estado seria o único agente social capaz de proporcionar, dentro do capitalismo, um ambiente de mudança social em favor de uma ordem mais produtiva, igual, democrática e progressista. Em outros termos: sem Estado, não há desenvolvimento nem soberania.
POCHMANN, M. Prefácio. Sociedade e Economia: estratégias de crescimento e desenvolvimento. Org: João Sicsú e Armando Castelar. Brasília: IPEA, 2009. Texto com adaptações.
I. A flexão do termo “retomada” no plural obrigaria a flexão de somente mais três palavras para manter adequada a concordância.
II. No primeiro período, pode-se optar pela flexão do verbo “ser” no presente do indicativo, no entanto haveria diferença semântica.
III. A forma “que se deseja construir” pode ser permutada para “que deseja ser construída”, sem prejuízo para o sentido ou para a organização sintática da frase.
É correto o que se afirma em
BAPTISTA, A.; LEE, R.; DIAS, S. Ando meio desligado. Intérprete:Os Mutantes. In: MUTANTES. A divina comédia ou Ando meio desligado. Rio de Janeiro: Polydor/Polyfar. p1970. 1 disco sonoro,Lado 1, faixa 1 (3 min 2s).

Em qual dos casos abaixo houve, também, respeito à norma-padrão quanto à concordância verbal?

Jacir J. Venturi. Internet: www.geometriaanalitica.com.br (com adaptações).
Não haveria prejuízo para a correção gramatical do texto caso a forma verbal ‘notabilizou’ (l.12) fosse flexionada no plural: notabilizaram.
Texto 1
Óbito do autor
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.Acresce que chovia - peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: - "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, auqelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido.[...]
ASSIS, Machado de. [1881] Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Globo, 2008. p. 9-10
“Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."
1. Trata-se de um discurso direto, que tem como interlocutores as pessoas presentes no velório e como finalidade homenagear o morto.
2. A expressão “meus senhores” é um vocativo e pode ser deslocada para o início do enunciado, ou para imediatamente após o pronome inicial, mantendo-se isolada por vírgulas.
3. A forma verbal “têm” não poderia estar no singular “tem”, pois estaria ferindo a regra de concordância segundo a qual o verbo deve concordar com seu sujeito.
4. As palavras “sombrio”, “escuras” e “azul” estão empregadas como adjetivos.
5. As duas ocorrências de “tudo isso” fazem remissão anafórica a “Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo”, e funcionam como aposto resumitivo.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas

Em relação ao texto acima, julgue o próximo item.

Em relação ao texto acima, julgue o próximo item.

Em relação ao texto acima, julgue o próximo item.
A aprovação da Lei 11.705, em junho de 2008, que modificou (e tornou mais rígido) o Código de Trânsito Brasileiro, com a adoção da chamada Lei Seca, representou um passo importante para conter a violência nas ruas e estradas do país, responsável por um flagelo que se mede, a cada ano, em milhares de mortos e feridos (e, como extensão das tragédias em si, na desgraça que atinge as famílias das vítimas de acidentes). Num primeiro momento, principalmente nas regiões que adotaram ações diretas de fiscalização, como as blitzes contra a mistura de álcool e direção, os índices sofreram quedas acentuadas, voltaram a crescer e retomaram a curva descendente nos dois últimos anos. Mas, em geral, os números de mortos, feridos e de acidentes ainda são elevados.
Relatório da Polícia Rodoviária Federal com os índices registrados nas estradas sob sua jurisdição em 2013 mostra o tamanho da tragédia. Foram 8.375 óbitos, ou 23 pessoas por dia a perder a vida, e 103 mil feridos em quase 186 mil acidentes. A PRF estima que, somados os registros em vias urbanas e estradas estaduais, o total de mortos tenha alcançado 50 mil somente no ano passado, quase tanto quanto o número de soldados americanos que tombaram em toda a Guerra do Vietnã.
Isso corresponde a algo entre 20 a 25 mortos por cada grupo de cem mil habitantes, bem distante da relação registrada em países nos quais a guerra do trânsito parece ter sido contida em limites aceitáveis, sete óbitos por grupo de cem mil. Mesmo que em 2013 tenha sido consignada uma queda nos índices de violência nas estradas, como captou o relatório da PRF, o Brasil ainda está longe de atingir a meta estabelecida pelas Nações Unidas para o país, de, até 2020, reduzir à metade a estatística sobre mortos/feridos/acidentes.
A evidência de que mesmo com a Lei Seca em vigor o país não consiga reduzir drasticamente os registros do flagelo das estradas não significa que a legislação seja ineficiente. Ao contrário, não fosse o endurecimento do CTB, por certo a curva de tragédias seria ascendente - portanto, com números ainda mais apavorantes que os atuais. A questão reside, entre outras razões, no fato de, por leniência, descaso ou inapetência do poder público por ações de fiscalização mais rígida, esperar-se que os efeitos da Lei 11.705, por si só, sejam bastantes para conter grande parte dos abusos no trânsito. As estatísticas mostram que não são. A Lei Seca pode ter atingido seu limite de eficácia.
O comportamento do brasileiro ao volante, em grande medida, ainda é de desrespeito a normas e desapreço pela vida alheia. Não por acaso, as infrações mais comuns são excesso de velocidade, ultra-passagens temerárias e outras nas quais estão implícitos riscos assumidos, álcool à parte. Uma cultura inapropriada, que, para ser revertida, implica punições sistemáticas, fiscalização permanente e ações educativas - um desafio de que não se pode desviar para reduzir a níveis aceitáveis os atuais indicadores de uma carnificina que o país precisa enfrentar e acabar.
O Globo - Editorial - 19/01/14
Disponível em http://oglobo.globo.com/opiniao/e-preciso-ir-alem- da-lei-seca-no-transito-11333839#ixzz2qe4kA2eq