Questões de Vestibular
Sobre colocação pronominal em português
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Texto I
Laerte.
Disponível em: https://www.instagram.com/p/CWtk14SFixR/. Acesso em 19 jan. 2022.
Texto II
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Luiz Vaz de Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/2513/mudam-se-ostempos-mudam-se-as-vontades. Acesso em 17 jan. 2022.
Glossário:
Soía: costumava
Com relação às ideias e aos aspectos gramaticais do texto anterior, julgue o item.
Em “nos convida” (primeiro período do texto) e
“parece-nos” (último período do texto), o pronome “nos”
poderia aparecer indiferentemente em próclise ou ênclise,
sem prejuízo da correção gramatical do texto.
Julgue o item, relativos às ideias e aos aspectos linguísticos do texto anterior.
A correção gramatical e o sentido do texto seriam mantidos
caso o vocábulo “referentes”, em “plataformas foram bem
avaliadas nas questões referentes à autoidentidade” (quarto
parágrafo), fosse substituído pela expressão que se referem.
Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala.
Se observarmos as prescrições da gramática normativa, é CORRETO afirmar:
Sobre o excerto, é CORRETO afirmar:
Leia o trecho retirado do conto “O iniciado do vento”, de Aníbal Machado, que servirá de base para a questão.
A autoridade policial e o agente da estação abriram caminho, pedindo a todos que se afastassem (1). Cada qual queria ser o primeiro a ver a cara do engenheiro (2). Este, calmo e alto, surgiu na plataforma do vagão. Não sabia que viajara com algum personagem importante; mas logo, pela convergência geral dos olhares em sua pessoa, compreendeu tudo. E empalideceu. Alguém teria dado o aviso de sua chegada (3).
Houve o silêncio de alguns instantes para a “tomada” de sua figura; em seguida, rompeu um murmúrio indistinto, mas hostil, cortado pelas sílabas tônicas de alguns palavrões conhecidos, se não de palavrões sussurrados por inteiro.
– Para o Hotel Bela Vista? Interrogou o delegado.
– Sim, respondeu o acusado numa voz firme que reconheceu não ser a sua.
Os moleques tinham combinado uma vaia com busca-pés que o perseguissem durante o trajeto até o Hotel. Maltrapilhos e abandonados, brigavam sempre entre si, mas o fato de ter sido um deles a vítima, unia-os agora no ódio comum ao engenheiro (4). Disso tirou partido o próprio escrivão do crime com uma parcialidade que a população aplaudia, e que o juiz da Comarca, severo, mas sempre alto e distante no desempenho de suas funções, ignorava.
De tal juiz se dizia que era bom demais para aquele burgo. (...) Nunca porém o quiseram elevar àquelas cumeadas. Sempre elogios, jamais a promoção.
Mediante manobras mesquinhas que escapavam aos olhos do juiz (5) sempre voltados para o mais alto e o mais longe, o seu esperto escrivão conseguira prestígio e se fazia temido na cidade. (...)
[Já em seu quarto, aparece a dona hotel com chá e frutas]
– O senhor deve estar lembrado de mim.
– Sim, como não?
– Vinte e tantos dias o senhor foi meu hóspede, não é verdade?
Colocou a bandeja na mesa. O engenheiro permanecia silencioso. (...)
A hoteleira não leva a mal o mutismo do hóspede (6). Estava triste e preocupado, era natural. (...) Ao sair, lembrou-se de dizer:
– Há um advogado lá embaixo, na sala, querendo falar-lhe. (...)
– Hein?!... Faça-o subir, tenha a bondade. (...)
O advogado entrou ofegante. A porta bateu-lhe atrás com estrondo. Vinha oferecer-lhe seus serviços profissionais. Ali, naquela terra, tirante o juiz, “fique certo, seu doutor, ninguém mais presta, nem eu mesmo!” (...)
– A que horas é o interrogatório? Perguntou calmamente o engenheiro.
TEXTO 1
Como o Facebook nos transformou em leitores desatentos
(1) Sinto que venho me tornando um leitor menos atento. Meus olhos passam pelas palavras como se fossem ondas que se quebram e somem. Para ganhar concentração, muitas vezes tenho de me isolar, abrir um livro físico (com o digital fica mais difícil ter foco), respirar fundo e, então, curtir a história. Situação preocupante, principalmente para um leitor voraz como eu. Só que se torna ainda mais alarmante quando noto que amigos, colegas de escrita, repetem essa reclamação em tom uniforme. O que ocorre? Será que há algum mal universal que nos faz ler cada vez pior? (
2) Não chamaria de "mal", mas de "cenário". Trata-se do mundo das redes sociais. Se antes nos acostumamos a livros e revistas, a mergulhar em cada informação (e era tão pouca!) que surgia à nossa frente, agora surfamos pelos dados (e são tantos!), preocupando-nos mais com a próxima onda do que com a que passou. Vamos de um lado para outro, freneticamente, lendo status no Twitter, no Facebook; vendo fotos no Instagram (imagens, afinal, são uma espécie de "leitura"), matérias em revistas, jornais e sites; acessando blogs; assistindo a séries no Netflix. Corremos os olhos do computador para o notebook, para o Kindle, para o smartphone, para o tablet, para um livro impresso… Para a próxima invenção que colar, seja um relógio com mais informações vindas de seu pulso, seja um par de óculos mostrando tudo bem à frente. Não somos mais mergulhadores. Viramos surfistas – e tenha isso como elogio e crítica ao mesmo tempo.
(3) Sim, há vantagens: agora também somos ligeiros. Viramos craques em consumir informações com rapidez. Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador e conferimos mensagens no WhatsApp. Nossas mentes estão ágeis.
(4) Pelo bem, pelo mal, há uma mutação em curso. Somos leitores diferentes. Algo tem ocorrido em nosso cérebro que mudou nossos processos cognitivos. Enquanto os mais velhos podem até ter dificuldades para lidar com o universo do touch, da comunicação instantânea, uma criança de poucos anos sabe navegar com talento pelo iPad. Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas.
(5) Uma série de trabalhos científicos tem sido publicada sobre essa transformação do hábito de ler. Um dos estudiosos do tema é o escritor americano Nicholas Carr. Em um agora já clássico artigo para a revista The Atlantic, ele diz: "Nos últimos anos, tenho a sensação desconfortável de que alguém ou algo tem pregado peças com meu cérebro (…). Sinto isso ainda mais forte quando leio. Imergir em um livro ou em um longo artigo era fácil (…). Agora, minha concentração se perde frequentemente depois de duas ou três páginas (…). Acho que sei o que está ocorrendo. Por mais de uma década, tenho gastado tempo demais on-line."
(6) Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado. A neurocientista Maryanne Wolf, do Centro de Pesquisas de Leitura e Linguagem da Universidade Tufts, de Boston, vai ainda mais fundo na análise. Para ela, a era da internet tem moldado o cérebro, capaz de se adaptar, de repaginar a rede de sinapses dos neurônios, de acordo com o tipo de leitura que faz. Em um de seus livros, avisa: "Livros sempre foram uma forma de se aventurar, trabalhar a imaginação e crescer intelectualmente. Porém, na era da internet, passou-se a ler rapidamente, sem análise nem crítica." Segundo a autora, isso faz com que os jovens de hoje desenvolvam menos conexões neurais. Ou seja, tenham cérebros menos eficazes.
(7) Não faltam estudos sobre o tema, na maioria muito ácidos e críticos, como os realizados por Maryanne Wolf. Mas vale uma pausa. Grande parte dos cientistas ainda acha cedo para chegar a conclusões irrefutáveis. Estou com essa turma.
(8) Há milênios, ocorreu a mesma reação a uma inovação tão disruptora quanto é a internet para esta época: a escrita. Sócrates, nos idos da Grécia Antiga, irritou-se com a chegada de tal tecnologia. Para ele, a leitura faria da mente, que não mais precisaria memorizar tudo, um ente preguiçoso.
(9) Reações contrárias, por vezes contendo premonições apocalípticas, surgem sempre junto à chegada de novidades tecnológicas — em relação à escrita, à prensa de Gutenberg, à física de partículas, à internet ou aos aplicativos de tablets e smartphones. Mas o que nossa história, a da humanidade, tem provado é que os avanços têm vindo para o bem. Sim, muda o quê e quem somos. Há, porém, um balanço, usualmente positivo. No caso da leitura na era digital, aposto todas as minhas fichas no equilíbrio. Eventualmente, aprenderemos a lidar com essa nova forma de consumir informações. Talvez saibamos juntar com proficiência o mergulho e o surfe. Neste momento, contudo, não vislumbramos a chegada de tal equilíbrio. Por isso, estamos confusos como um animal em adaptação a um novo habitat. A garantia de sobrevivência: leia, sempre, o que for, o que lhe der prazer. E não deixe seu cérebro estacionar.
Acerca de alguns aspectos formais do Texto 1, analise o que se afirma abaixo.
I. No trecho: "Porém, na hora de se concentrar em uma só história, em analisar um só caso, podem prevalecer a falta de atenção, as falhas de memorização, a atitude de surfar sem mergulhar em águas profundas." (4º parágrafo), evidenciamos um caso de sujeito composto, o que justifica a forma verbal destacada no plural.
II. No trecho: "Sabemos o que a vovó está postando no Facebook, ao mesmo tempo em que assistimos a Breaking Bad no computador" (3º parágrafo), o autor opta por seguir a norma-padrão em relação à regência da forma verbal destacada, ainda que, em muitos registros do português brasileiro atual, a preposição 'a‘ não se verifique.
III. No que se refere à colocação dos pronomes, no trecho: "Trata-se de uma preocupação que tem se espalhado." (6º parágrafo), observamos que o autor optou por seguir a norma-padrão apenas no primeiro caso ("Trata-se").
IV. Se o autor quisesse escrever que "os jovens desta geração não leem com atenção", deveria grafar a forma verbal destacada sem acento, como orienta o Acordo Ortográfico atualmente em vigor em nosso país.
Estão CORRETAS:
Leia os versos, abaixo, e responda à questão.
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
ANDRADE, O. Obras completas. Volumes 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
VERÍSSIMO, LF. As cobras em: Se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Leia o texto a seguir e responda à questao:
Os adolescentes e a filosofia
Vladimir Safatle
Há poucos anos, o ensino de filosofia tornou-se matéria obrigatória para os alunos de ensino médio. Uma decisão acertada que leva em conta a necessidade de estudantes adolescentes desenvolverem habilidades críticas, além de compreenderem a complexidade da gênese de conceitos fundamentais para nossas formas de vida.
De fato, a filosofia, tal como a conhecemos hoje, é o discurso que permite à chamada “experiência do pensamento ocidental” criticar seus próprios valores morais, estéticos, normas sociais e evidências cognitivas. A cláusula restritiva relativa ao “ocidente” justifica-se pelo fato de conhecermos muito pouco a respeito dos sistemas não ocidentais de pensamento. Temos, em larga medida, uma visão estereotipada de que eles ainda seriam fortemente vinculados ao pensamento mítico e, por isso, não teriam algo parecido à nossa razão desencantada, que baseia seus princípios na confrontação das argumentações a partir da procura do melhor argumento. É provável que em alguns anos tenhamos de rever tal análise.
De toda forma, que adolescentes sejam apresentados à filosofia, eis algo que vale a pena conservar. A adolescência transformou-se entre nós em um momento de revisão profunda do sistema de valores e crenças, de abertura e de profunda insegurança. Em sociedades com tendências a criticar modelos de autoridade baseados no legado da tradição e na repetição de experiências passadas, sociedades que incitam os indivíduos a tomar em seus ombros a responsabilidade pela construção de seus estilos de vida, inclusive como estratégia para apagar os impasses propriamente sociais de nossos modelos de conduta e julgamento, a adolescência será necessariamente vivenciada de forma mais angustiante. Nesse sentido, o contato com a filosofia encontra um terreno fértil de questionamento.
A avaliação dos livros e projetos pedagógicos normalmente direcionados a nossos alunos revela, no entanto, que deveríamos procurar outras estratégias de ensino. Nossos livros didáticos e paradidáticos são, na sua grande maioria, manuais de exposição da história da filosofia a partir de seus personagens principais. Os melhores se organizam a partir de temas específicos e do seu desdobramento nos últimos dois mil anos (o que, convenhamos, não é pouco tempo). Nos dois casos, alcança-se, no máximo, uma visão geral da história das ideias. Normalmente muito bem ilustrada.
Melhor seria focar o ensino na leitura dirigida de textos maiores da tradição filosófica. Um adolescente tem todas as condições de ter uma primeira leitura produtiva de textos como O banquete ou A república, de Platão, Discurso sobre a origem da desigualdade, de Rousseau, Meditações, de Descartes, Além do bem e do mal, de Nietzsche, ou mesmo um texto como O que é o esclarecimento?, de Kant, entre tantos outros. São obras que abrem parte de suas questões diante de uma primeira leitura dirigida. Eles permitem ainda uma problematização sobre questões maiores como o amor, a política, a autoidentidade, a injustiça social e as aspirações da razão.
Nesse sentido, ganharíamos mais se os cursos fossem direcionados, por um lado, ao aprendizado sistemático da leitura e da interpretação. Nossos alunos chegam à universidade sem uma real capacidade de compreensão e problematização de textos. Os cursos de Filosofia poderiam colaborar em muito para mudar tal realidade.
Por outro lado, e sei que isso pode estranhar alguns, ganharíamos muito se uma parte dos cursos de Filosofia para os adolescentes fosse dedicada ao ensino da lógica. Nossos alunos chegam às universidades com dificuldades de escrita e raciocínio que poderiam ser minoradas se eles tivessem cursos de lógica. Sei que esta é uma das disciplinas de que nossos alunos de filosofia menos gostam, mas eles ganhariam muito, em todas as áreas, se tivessem uma formação mais sistemática no campo da lógica e da teoria do conhecimento.
Neste momento em que a sociedade brasileira se dá conta da importância da luta pela qualidade do ensino, deveríamos parar de desqualificar a capacidade de raciocínio de nossos adolescentes. Eles merecem conhecer diretamente os textos e ideias que constituíram nossa experiência social. Esta seria uma estratégia melhor do que lhes apresentar manuais.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/760/os-adolescentes-e-a-filosofia-9201.html