Questões de Vestibular Sobre noções gerais de compreensão e interpretação de texto em português

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Ano: 2018 Banca: FUNTEF-PR Órgão: IF-PR Prova: FUNTEF-PR - 2018 - IF-PR - Vestibular |
Q944488 Português
     Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias(...). Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. (...) Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios, lucros, são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. (...)

    O autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las. (...) Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

   As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

   O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. (...) Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido. (Carta Capital, 16/10/2011)

Analise as assertivas dadas a seguir.

I) A sociedade atual não produz conhecimentos impactantes.

II) No mundo em que vivemos, a ciência tem pouco valor; predominam as ideias infundadas, e os dogmatismos.

III) Com tanta informação disponível, as novas gerações não precisam aprofundar seus conhecimentos: sabem de tudo um pouco.

IV) Os ideais iluministas são muito marcantes e a sociedade atual não consegue ultrapassá-los.

V) Na atualidade, as sociedades são regidas por interesses negociais que se traduzam em lucro.

Assinale aquelas que estão de acordo com as ideias do texto.

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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944472 Português
  Tal vanguarda rompeu radicalmente com a ideia de arte como imitação da natureza, prevalecente na pintura europeia desde a Renascença. Seus principais adeptos abandonaram as noções tradicionais de perspectiva, tentando representar solidez e volume numa superfície bidimensional, sem converter pela ilusão a tela plana num espaço pictórico tridimensional. Múltiplos aspectos do objeto eram figurados simultaneamente; as formas visíveis eram analisadas e transformadas em planos geométricos, que eram recompostos segundo vários pontos de vista simultâneos. Tal vanguarda era e dizia ser realista, mas tratava-se de um realismo conceitual, e não óptico.

(Ian Chilvers (org). Dicionário Oxford de arte, 2007. Adaptado.)


Uma pintura representativa da vanguarda à qual o texto se refere está reproduzida em:

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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944467 Português
O uso intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo da consciência, a ruptura com o enredo factual foram constantes do seu estilo de narrar. Os analistas à caça de estruturas não deixarão tão cedo em paz seus textos complexos e abstratos. Há na gênese dos seus contos e romances tal exacerbação do momento interior que, a certa altura do seu itinerário, a própria subjetividade entra em crise. O espírito, perdido no labirinto da memória e da autoanálise, reclama um novo equilíbrio.
(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)
Tal comentário refere-se a
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944466 Português
    O Surrealismo buscou a comunicação com o irracional e o ilógico, deliberadamente desorientando e reorientando a consciência por meio do inconsciente.
(Fiona Bradley. Surrealismo, 2001.)
Verifica-se a influência do Surrealismo nos seguintes versos:
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944464 Português

Leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.


    Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.

    Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão. 


(A abolição, 2010.)

“Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos.” (1o parágrafo)
No contexto em que se insere, o termo “vilão” deve ser entendido na seguinte acepção:
Alternativas
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944463 Português

Leia o trecho do livro Abolição, da historiadora brasileira Emília Viotti da Costa.


    Durante três séculos (do século XVI ao XVIII) a escravidão foi praticada e aceita sem que as classes dominantes questionassem a legitimidade do cativeiro. Muitos chegavam a justificar a escravidão, argumentando que graças a ela os negros eram retirados da ignorância em que viviam e convertidos ao cristianismo. A conversão libertava os negros do pecado e lhes abria a porta da salvação eterna. Dessa forma, a escravidão podia até ser considerada um benefício para o negro! Para nós, esses argumentos podem parecer cínicos, mas, naquela época, tinham poder de persuasão. A ordem social era considerada expressão dos desígnios da Providência Divina e, portanto, não era questionada. Acreditava-se que era a vontade de Deus que alguns nascessem nobres, outros, vilões, uns, ricos, outros, pobres, uns, livres, outros, escravos. De acordo com essa teoria, não cabia aos homens modificar a ordem social. Assim, justificada pela religião e sancionada pela Igreja e pelo Estado – representantes de Deus na Terra –, a escravidão não era questionada. A Igreja limitava-se a recomendar paciência aos escravos e benevolência aos senhores.

    Não é difícil imaginar os efeitos dessas ideias. Elas permitiam às classes dominantes escravizar os negros sem problemas de consciência. Os poucos indivíduos que no Período Colonial, fugindo à regra, questionaram o tráfico de escravos e lançaram dúvidas sobre a legitimidade da escravidão, foram expulsos da Colônia e o tráfico de escravos continuou sem impedimentos. Apenas os próprios escravos questionavam a legitimidade da instituição, manifestando seu protesto por meio de fugas e insurreições. Encontravam, no entanto, pouca simpatia por parte dos homens livres e enfrentavam violenta repressão. 


(A abolição, 2010.)

De acordo com a historiadora,
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944461 Português
Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), em que se narram eventos referentes a uma das expedições militares enviadas pelo governo federal para combater Antônio Conselheiro e seus seguidores sediados em Canudos.
   
      Oitocentos homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas, em que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando- -se; desapertando os cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
   Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico – tristíssimo pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos de um tiroteio irregular e escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se.
      Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na marcha habitual de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lentamente, rodando, inabordável, terrível...
       [...]
        Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. 
Feridos ou espantados os muares da tração empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha.
      A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
     O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e infatigável entre os fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos. Neste pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas, convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmente. Ou melhor – aceleraram a fuga. Naquela desordem só havia uma determinação possível: “debandar!”.
    Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O capitão Vilarim batera-se valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que comandava um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se iam, cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais ágeis...
    As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
    Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera...

(Os sertões, 2016.)
No trecho, o estilo de Euclides da Cunha pode ser caracterizado, sobretudo, como
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944458 Português
Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), em que se narram eventos referentes a uma das expedições militares enviadas pelo governo federal para combater Antônio Conselheiro e seus seguidores sediados em Canudos.
   
      Oitocentos homens desapareciam em fuga, abandonando as espingardas; arriando as padiolas, em que se estorciam feridos; jogando fora as peças de equipamento; desarmando- -se; desapertando os cinturões, para a carreira desafogada; e correndo, correndo ao acaso, correndo em grupos, em bandos erradios, correndo pelas estradas e pelas trilhas que as recortam, correndo para o recesso das caatingas, tontos, apavorados, sem chefes...
   Entre os fardos atirados à beira do caminho ficara, logo ao desencadear-se o pânico – tristíssimo pormenor! – o cadáver do comandante. Não o defenderam. Não houve um breve simulacro de repulsa contra o inimigo, que não viam e adivinhavam no estrídulo dos gritos desafiadores e nos estampidos de um tiroteio irregular e escasso, como o de uma caçada. Aos primeiros tiros os batalhões diluíram-se.
      Apenas a artilharia, na extrema retaguarda, seguia vagarosa e unida, solene quase, na marcha habitual de uma revista, em que parava de quando em quando para varrer a disparos as macegas traiçoeiras; e prosseguindo depois, lentamente, rodando, inabordável, terrível...
       [...]
        Um a um tombavam os soldados da guarnição estoica. 
Feridos ou espantados os muares da tração empacavam; torciam de rumo; impossibilitavam a marcha.
      A bateria afinal parou. Os canhões, emperrados, imobilizaram-se numa volta do caminho...
     O coronel Tamarindo, que volvera à retaguarda, agitando-se destemeroso e infatigável entre os fugitivos, penitenciando-se heroicamente, na hora da catástrofe, da tibieza anterior, ao deparar com aquele quadro estupendo, procurou debalde socorrer os únicos soldados que tinham ido a Canudos. Neste pressuposto ordenou toques repetidos de “meia-volta, alto!”. As notas das cornetas, convulsivas, emitidas pelos corneteiros sem fôlego, vibraram inutilmente. Ou melhor – aceleraram a fuga. Naquela desordem só havia uma determinação possível: “debandar!”.
    Debalde alguns oficiais, indignados, engatilhavam revólveres ao peito dos foragidos. Não havia contê-los. Passavam; corriam; corriam doudamente; corriam dos oficiais; corriam dos jagunços; e ao verem aqueles, que eram de preferência alvejados pelos últimos, caírem malferidos, não se comoviam. O capitão Vilarim batera-se valentemente quase só e ao baquear, morto, não encontrou entre os que comandava um braço que o sustivesse. Os próprios feridos e enfermos estropiados lá se iam, cambeteando, arrastando-se penosamente, imprecando os companheiros mais ágeis...
    As notas das cornetas vibravam em cima desse tumulto, imperceptíveis, inúteis...
    Por fim cessaram. Não tinham a quem chamar. A infantaria desaparecera...

(Os sertões, 2016.)
O trecho narra
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944457 Português

    Nesta obra, eu quis estudar temperamentos e não caracteres. Escolhi personagens soberanamente dominadas pelos nervos e pelo sangue, desprovidas de livre-arbítrio, arrastadas a cada ato de suas vidas pelas fatalidades da própria carne. Começa-se a compreender que o meu objetivo foi acima de tudo um objetivo científico.

(Émile Zola apud Alfredo Bosi.
História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.) 


Depreendem-se dessas considerações do escritor francês Émile Zola, a respeito de uma de suas obras, preceitos que orientam a corrente literária 

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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944456 Português

    Talvez o aspecto mais evidente da novidade retórica e formal na composição dessa obra seja justamente a metalinguagem ou a autorreflexividade da narrativa, quer dizer, o narrador “explica” constantemente para o leitor o andamento e o modo pelo qual vai contando suas histórias. Essa autorreflexividade tem um importante efeito de quebra da ilusão realista, pois lembra sempre o leitor de que ele está lendo um livro e que este, embora narre a respeito da vida de personagens, é apenas um livro, ou seja, um artifício, um artefato inventado.

    Pode-se dizer também que a reflexão do narrador, além de revelar a poética que preside a composição de sua narrativa, revela também a exigência dessa poética de contar com um novo tipo de leitor: o narrador como que pretende um leitor participante, ativo e não passivo.


(Valentim Facioli. Um defunto estrambótico, 2008. Adaptado.)

Tal comentário aplica-se à obra

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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944455 Português
A veia humorística do poeta romântico Álvares de Azevedo (1831-1852) está exemplificada nos versos:
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944452 Português

Aquela triste e leda madrugada, 
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade 
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada 
saía, dando ao mundo claridade, 
viu apartar-se de uma outra vontade,
 que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio 
que, de uns e de outros olhos derivadas, 
se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
 que puderam tornar o fogo frio,
 e dar descanso às almas condenadas.

 (Sonetos, 2001.)

O pronome “Ela”, que se repete no início de três estrofes, refere-se a
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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944449 Português

Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

      Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:

“Não saia casa 3 outubro abraços”.

     O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,precipitara-se na agência para expedir a mensagem.

    Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha,mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou:“Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.

    Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se,embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!” 

    Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.)

1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

•  “A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. ‘O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo’ – disse-lhe o chefe.” (5o parágrafo)

•  “‘E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?’ Emudeceu. ‘Diga, vamos!’ ‘Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.’” (5o parágrafo)

No contexto em que se inserem, as palavras “bonitinho” e “versinhos” exprimem, respectivamente,

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Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944445 Português

Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

      Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:

“Não saia casa 3 outubro abraços”.

     O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,precipitara-se na agência para expedir a mensagem.

    Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha,mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou:“Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.

    Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se,embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!” 

    Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.)

1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

Depreende-se da crônica que o telegrama demorou a chegar
Alternativas
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944444 Português

Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

      Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:

“Não saia casa 3 outubro abraços”.

     O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,precipitara-se na agência para expedir a mensagem.

    Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha,mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou:“Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.

    Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se,embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!” 

    Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.)

1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

Em relação ao sonho do pai, a reação do filho é de
Alternativas
Ano: 2017 Banca: VUNESP Órgão: UNIFESP Prova: VUNESP - 2017 - UNIFESP - Vestibular |
Q944443 Português

Leia a crônica “Premonitório”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

      Do fundo de Pernambuco, o pai mandou-lhe um telegrama:

“Não saia casa 3 outubro abraços”.

     O rapaz releu, sob emoção grave. Ainda bem que o velho avisara: em cima da hora, mas avisara. Olhou a data: 28 de setembro. Puxa vida, telegrama com a nota de urgente, levar cinco dias de Garanhuns a Belo Horizonte! Só mesmo com uma revolução esse telégrafo endireita. E passado às sete da manhã, veja só; o pai nem tomara o mingau com broa,precipitara-se na agência para expedir a mensagem.

    Não havia tempo a perder. Marcara encontros para o dia seguinte, e precisava cancelar tudo, sem alarde, como se deve agir em tais ocasiões. Pegou o telefone, pediu linha,mas a voz de d. Anita não respondeu. Havia tempo que morava naquele hotel e jamais deixara de ouvir o “pois não” melodioso de d. Anita, durante o dia. A voz grossa, que resmungara qualquer coisa, não era de empregado da casa; insistira:“como é?”, e a ligação foi dificultosa, havia besouros na linha.Falou rapidamente a diversas pessoas, aludiu a uma ponte que talvez resistisse ainda uns dias, teve oportunidade de escandir as sílabas de arma virumque cano1, disse que achava pouco cem mil unidades, em tal emergência, e arrematou:“Dia 4 nós conversamos.” Vestiu-se, desceu. Na portaria, um sujeito de panamá bege, chapéu de aba larga e sapato de duas cores levantou-se e seguiu-o. Tomou um carro, o outro fez o mesmo. Desceu na praça da Liberdade e pôs-se a contemplar um ponto qualquer. Tirou do bolso um caderninho e anotou qualquer coisa. Aí, já havia dois sujeitos de panamá, aba larga e sapato bicolor, confabulando a pequena distância.Foi saindo de mansinho, mas os dois lhe seguiram na cola. Estava calmo, com o telegrama do pai dobrado na carteira, placidez satisfeita na alma. O pai avisara a tempo, tudo correria bem. Ia tomar a calçada quando a baioneta em riste advertiu: “Passe de largo”; a Delegacia Fiscal estava cercada de praças, havia armas cruzadas nos antos. Nos Correios, a mesma coisa, também na Telefônica. Bondes passavam escoltados. Caminhões conduziam tropa, jipes chispavam. As manchetes dos jornais eram sombrias; pouca gente na rua. Céu escuro, abafado, chuva próxima.

    Pensando bem, o melhor era recolher-se ao hotel; não havia nada a fazer. Trancou-se no quarto, procurou ler, de vez em quando o telefone chamava: “Desculpe, é engano”,ou ficava mudo, sem desligar. Dizendo-se incomodado, jantou no quarto, e estranhou a camareira, que olhava para os móveis como se fossem bichos. Deliberou deitar-se,embora a noite apenas começasse. Releu o telegrama, apagou a luz.
Acordou assustado, com golpes na porta. Cinco da manhã. Alguém o convidava a ir à Delegacia de Ordem Política e Social. “Deve ser engano.” “Não é não, o chefe está à espera.” “Tão cedinho? Precisa ser hoje mesmo? Amanhã eu vou.” “É hoje e é já.” “Impossível.” Pegaram-lhe dos braços e levaram-no sem polêmica. A cidade era uma praça de guerra, toda a polícia a postos. “O senhor vai dizer a verdade bonitinho e logo” – disse-lhe o chefe. – “Que sabe a respeito do troço?” “Não se faça de bobo, o troço que vai estourar hoje.” “Vai estourar?” “Não sabia? E aquela ponte que o senhor ia dinamitar mas era difícil?” “Doutor, eu falei a meu dentista, é um trabalho de prótese que anda abalado. Quer ver? Eu tiro.” “Não, mas e aquela frase em código muito vagabundo, com palavras que todo mundo manja logo, como arma e cano?” “Sou professor de latim, e corrigi a epígrafe de um trabalho.” “Latim, hem? E a conversa sobre os cem mil homens que davam para vencer?” “São unidades de penicilina que um colega tomou para uma infecção no ouvido.” “E os cálculos que o senhor fazia diante do palácio?” Emudeceu. “Diga, vamos!” “Desculpe, eram uns versinhos, estão aqui no bolso.” “O senhor é esperto, mas saia desta. Vê este telegrama? É cópia do que o senhor recebeu de Pernambuco. Ainda tem coragem de negar que está alheio ao golpe?” “Ah, então é por isso que o telegrama custou tanto a chegar?” “Mais custou ao país, gritou o chefe. Sabe que por causa dele as Forças Armadas ficaram de prontidão, e que isso custa cinco mil contos? Diga depressa.” “Mas, doutor…” Foi levado para outra sala, onde ficou horas. O que aconteceu, Deus sabe. Afinal, exausto, confessou: “O senhor entende conversa de pai pra filho? Papai costuma ter sonhos premonitórios, e toda a família acredita neles. Sonhou que me aconteceria uma coisa no dia 3, se eu saísse de casa, e telegrafou prevenindo. Juro!” 

    Dia 4, sem golpe nenhum, foi mandado em paz. O sonho se confirmara: realmente, não devia ter saído de casa.

(70 historinhas, 2016.)

1 arma virumque cano: “canto as armas e o varão” (palavras iniciais da
epopeia Eneida, do escritor Vergílio, referentes ao herói Eneias).

De acordo com a crônica, o filho recebeu o telegrama do pai no dia
Alternativas
Ano: 2018 Banca: IF SUL - MG Órgão: IF Sul - MG Prova: IF SUL - MG - 2018 - IF Sul - MG - Vestibular - Segundo Semestre |
Q939578 Português
No conto de Clarice Lispector, o aspecto exótico, demarcado pela “raridade” da descoberta da “menor mulher do mundo”, é relativizado, principalmente, porque:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: IF SUL - MG Órgão: IF Sul - MG Prova: IF SUL - MG - 2018 - IF Sul - MG - Vestibular - Segundo Semestre |
Q939577 Português
O conto “A menor mulher do mundo”, de Clarice Lispector, tem como tema a alteridade, ou seja, a relação Eu/Outro, marcada pelo tratamento da personagem feminina, Pequena Flor, como um objeto de curiosidade. Essa coisificação NÃO se concretiza na:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: IF SUL - MG Órgão: IF Sul - MG Prova: IF SUL - MG - 2018 - IF Sul - MG - Vestibular - Segundo Semestre |
Q939576 Português
Após a sua leitura da obra de Mário de Andrade, “Amar, verbo intransitivo”, assinale a alternativa que está de acordo com o seu enredo:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: IF SUL - MG Órgão: IF Sul - MG Prova: IF SUL - MG - 2018 - IF Sul - MG - Vestibular - Segundo Semestre |
Q939575 Português

Texto II


                               Estrelas além do tempo

                                                                                                    Alex Gonçalves


      Após todas as discussões sobre representatividade que permearam o último ano hollywoodiano, “Estrelas Além do Tempo” [2016] se apresenta para o público com um timing perfeito. Há tempos não nos víamos inseridos em um cenário no qual as ideologias reacionárias estão tão evidentes, assim como os protestos em busca pela igualdade. Portanto, nada melhor do que a ficção para nos relembrar de outros períodos também nefastos que não calaram a atuação de heróis anônimos.

      No caso de “Estrelas Além do Tempo”, temos uma história que enaltece três figuras reais da NASA até então mantidas anônimas. Tratam-se de Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe), três mulheres negras essenciais para o sucesso da missão do astronauta John Glenn (Glen Powell) em alcançar a lua.

      Entretanto, estamos aqui nos não tão distantes anos 1960, em uma Virgínia segregada e com poucos afroamericanos exercendo profissões que exigem um perfil lógico. Por isso mesmo, as vidas de Katherine, Dorothy e Mary foram triplamente difíceis justamente pela raça e gênero a que pertencem.

      Sempre unidas antes e após o expediente de trabalho, essas mulheres enfrentam sozinhas em suas competências os preconceitos que impedem as suas evoluções. Solicitada pelo departamento comandado por Al Harrison (Kevin Costner) para fazer os cálculos que devem assegurar o sucesso da decolagem do foguete que lançará John Glenn às alturas, Katherine é diariamente hostilizada pelos colegas, todos homens e brancos. Já em seu setor, Dorothy tem todos os seus pedidos de promoção sabotados pelo intermédio de Vivian (Kirsten Dunst), enquanto Mary não consegue desempenhar a função de engenheira por ser impedida de ingressar em uma universidade.

      Mesmo com todas essas circunstâncias, elas não desistirão de provar as singularidades que possuem, visualizando os obstáculos não como limites, mas como incentivos para continuarem perseverando. Temos com isso aquele modelo de narrativa cinematográfica que encanta desde os tempos do tramp de Charlie Chaplin, no qual a vontade para ganhar um lugar ao sol é maior do que as adversidades.

      Diretor de “Um Santo Vizinho”, Theodore Melfi se apropria do texto de Allison Schroeder compreendendo muito bem as características desse cinema inspirado e inspirador, contornando com traços ficcionais uma história real para ser efetivo principalmente em seus gritos de protesto. É especialmente arrebatadora a explosão de Katherine ao finalmente externar a sua humilhação ao precisar se prestar a um trajeto de mais de um quilômetro para ir ao banheiro exclusivo para negros. Não ficam muito atrás o fervor de Dorothy e Mary em se provarem extremamente capazes de enfrentar novos desafios.

      Além do mais, Melfi conduz com uma fluidez invejável algo que, em teoria, não tem qualquer encanto. Mesmo o mais avesso aos raciocínios de exatas se verão imediatamente hipnotizados com números e fórmulas que se revelam não somente como uma ciência complexa, como também como instrumentos sociais que só engrenam quando os seus operadores se reconhecem como semelhantes.

                                                                                  Publicado em 09/02/2017.

Disponível em:<http://cineresenhas.com.br/2017/02/09/resenha-critica-estrelas-alem-do-tempo-2016/>. Acesso em: 30/03/2018.

Entretanto, estamos aqui nos não tão distantes anos 1960, em uma Virgínia segregada e com poucos afro-americanos exercendo profissões que exigem um perfil lógico. Por isso mesmo, as vidas de Katherine, Dorothy e Mary foram triplamente difíceis justamente pela raça e gênero a que pertencem.”


No trecho acima, os termos grifados indicam relações semânticas de:

Alternativas
Respostas
5041: C
5042: C
5043: E
5044: D
5045: C
5046: A
5047: E
5048: C
5049: C
5050: E
5051: B
5052: E
5053: D
5054: A
5055: E
5056: C
5057: D
5058: C
5059: C
5060: D