Consolo na praia ...
Consolo na praia
Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour
A injustiça não se resolve.
A sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento…
Dorme, meu filho.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 43.
Levando em conta as características próprias da poesia de
Carlos Drummond de Andrade, a relação de pertença de sua
obra ao movimento modernista estabelecida pela crítica e
considerando o poema apresentado, é possível afirmar: