Devagar, devagarinho
Desacelerar é preciso. Acelerar não é preciso. Afobados e voltados para o próprio
umbigo, operamos, automatizados, falas robóticas e silêncios glaciais. Ilustra bem esse
estado de espírito a música Sinal fechado (1969), de Paulinho da Viola. Trata-se da
história de dois sujeitos que se encontram inesperadamente em um sinal de trânsito. A
conversa entre ambos, porém, se deu rápida e rasteira. Logo, os personagens se
despedem, com a promessa de se verem em outra oportunidade. Percebe-se um registro
de comunicação vazia e superficial, cuja tônica foi o contato ligeiro e superficial construído
pelos interlocutores: “Olá, como vai? / Eu vou indo, e você, tudo bem? / Tudo bem, eu vou
indo correndo, / pegar meu lugar no futuro. E você? / Tudo bem, eu vou indo em busca de
um sono / tranquilo, quem sabe? / Quanto tempo… / Pois é, quanto tempo… / Me perdoe
a pressa / é a alma dos nossos negócios… / Oh! Não tem de quê. / Eu também só ando a
cem”.
O culto à velocidade, no contexto apresentado, se coloca como fruto de um
imediatismo processual que celebra o alcance dos fins sem dimensionar a qualidade dos
meios necessários para atingir determinado propósito. Tal conjuntura favorece a lei do
menor esforço — a comodidade — e prejudica a lei do maior esforço — a dignidade.
Como modelo alternativo à cultura fast, temos o movimento slow life, cujo propósito,
resumidamente, é conscientizar as pessoas de que a pressa é inimiga da perfeição e do
prazer, buscando assim reeducar seus sentidos para desfrutar melhor os sabores da vida.
SILVA, M. F. L. Boletim UFMG, n. 1 749, set. 2011 (adaptado).