Questões Militares
Sobre morfologia em português
Foram encontradas 1.376 questões
Texto 1 (referente à questão)
Sobre a Escrita...
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som
de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a
anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação.
Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam
dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que
atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia.
Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras
eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se
tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos.
Sempre achei que o traço de um escultor é identificável
por uma extrema simplicidade de linhas. Todas as
palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é
porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto
que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não
pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o
resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é
exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se
eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada,
para mim mesma, senão corro o risco de virar alma
perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho
Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As
palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o
que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível
para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita
são como a música, duas coisas das mais altas que nos
elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e
vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma
coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse
e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade
mais profunda existente no ser humano e nas coisas.
Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro
melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu
tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem
sina obscura de pensamento que pode ser o de um
crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
(Clarice Lispector)
Fonte: contobrasileiro.com.br/sobre-a-escrita-conto-declarice-lispector/
"Como recomeçar a anotar frases?” (§2)
“Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade." (§2)
Na língua existem basicamente dois processos de formação de palavras: a derivação e a composição. Nas palavras destacadas acima, há respectivamente uma derivação prefixai e uma derivação sufixai. As palavras caça, desalmado e simplesmente são, respectivamente, exemplos de derivação:
Texto 1 (referente à questão)
Sobre a Escrita...
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som
de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a
anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação.
Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam
dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que
atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia.
Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras
eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se
tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos.
Sempre achei que o traço de um escultor é identificável
por uma extrema simplicidade de linhas. Todas as
palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é
porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto
que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não
pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o
resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é
exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se
eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada,
para mim mesma, senão corro o risco de virar alma
perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho
Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As
palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o
que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível
para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita
são como a música, duas coisas das mais altas que nos
elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e
vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma
coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse
e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade
mais profunda existente no ser humano e nas coisas.
Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro
melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu
tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem
sina obscura de pensamento que pode ser o de um
crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
(Clarice Lispector)
Fonte: contobrasileiro.com.br/sobre-a-escrita-conto-declarice-lispector/

1- A palavra "rebanho" é um exemplo de susbstantivo coletivo. li- A palavra "neve" é um exemplo de adjetivo. Ili- A palavra "contudo" é um exemplo de preposição. IV- A palavra "porque" é um exemplo de advérbio. V- A palavra "persuadir" é um exemplo de verbo.
Assinale a opção correta.
Diverti-me imensamente com a história dos imbecis da web. Para quem não acompanhou, foi publicado em alguns jornais e também on-line que no curso de uma chamada lectio magistralis em Turim eu teria dito que a web está cheia de imbecis. É falso. A lectio era sobre um tema completamente diferente, mas isso mostra como as notícias circulam e se deformam entre os jornais e a web. A história dos imbecis surgiu numa conferência de imprensa durante a qual, respondendo a uma pergunta que não me lembro mais, fiz uma observação de puro bom senso. Admitindo que em 7 bilhões de habitantes exista uma taxa inevitável de imbecis, muitíssimos deles costumavam comunicar seus delírios aos íntimos ou aos amigos do bar – e assim suas opiniões permaneciam limitadas a um círculo restrito. Hoje uma parte consistente dessas pessoas tem a possibilidade de expressar as próprias opiniões nas redes sociais e, portanto, tais opiniões alcançam audiências altíssimas e se misturam com tantas outras ideias expressas por pessoas razoáveis.
[...]
É justo que a rede permita que mesmo quem não diz coisas sensatas se expresse, mas o excesso de besteira congestiona as linhas. E algumas reações descompensadas que vi na internet confirmam minha razoabilíssima tese. Alguém chegou a dizer que, para mim, as opiniões de um tolo e aquelas de um ganhador do prêmio Nobel têm a mesma evidência e não demorou para que se difundisse viralmente uma inútil discussão sobre o fato de eu ter ou não recebido um prêmio Nobel – sem que ninguém consultasse sequer a Wikipédia.
(Umberto Eco – Os imbecis e a imprensa responsável, 2017.)
Leia, atentamente, os textos I e II e, em seguida, responda a questão proposta.
TEXTO I
A regreção da redassão
Carlos Eduardo Novaes
Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.
- Mas, minha senhora, - desculpei-me -, eu não sou professor.
- Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.
- A culpa não é deles. A falha é do ensino.
- Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.
- Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.
- Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.
- Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.
- E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.
Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jornal as declarações de um diretor de faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito mal”. Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos disseram: “acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever”. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém faz mais diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.
- Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante o emprego por mais dez anos.
- Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.
- Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.
- E você sabe por que essa geração não sabe escrever?
- Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis.
- Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito de leitura. E quando perder completamente, você vai escrever para quem?
Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar em açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece um bilhete de loteria:
- Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.
- Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.
- E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.
- O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.
- E o senhor, não está interessado nuns textos?
- É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?
- E o senhor, vai? Leva três e paga um.
- Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.
Assustou-se com o tamanho do texto:
- O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo isso em cinco linhas?
NOVAES, Carlos Eduardo. In: A cadeira do dentista & outras crônicas. São Paulo: Ática, 1999. Para gostar de ler, vol. 15.
TEXTO II
O fragmento de texto reproduzido a seguir faz parte da crônica “A menina que falava em internetês, escrito por Rosana Hermann. Na crônica, Wanda, uma mãe que gostava de acreditar-se moderna, compra um computador e, navegando, pela internet, inicia uma conversa “on-line” com a filha adolescente. Quase ao final do diálogo, mãe e filha escrevem:
“[...]
_ Antes de ir para casa eu vou passar no supermercado. O que você quer que compre para... para... para vc? É assim que se diz em internetês.
_ refri e bisc8
_ Refrigerante e biscoito? Biscoito? Filha, francamente, que linguagem é essa? Você estuda no melhor colégio, seu pai paga uma mensalidade altíssima, e você escreve assim na internet? Sem vogais, sem acentos, sem completar as palavras, sem usar maiúsculas no início de uma frase, com orações sem nexo e ainda por cima usando números no lugar de sílabas? Isso é inadmissível, Maria Eugênia! “
_ xau mãe, c ta xata.”
_ Maria Eugênia! Chata é com ch.
_
_ Maria Eugênia?
_
_ Desligou. [...]’’
HERMANN, Rosana. Lições de Gramática para que gosta de literatura. São Paulo: Panda Books, 2007.
TEXTO III
O FAZENDEIRO, SEU FILHO E O BURRO
Um fazendeiro e seu filho viajavam para o mercado, levando consigo um burro. Na estrada, encontraram umas moças salientes, que riram e zombaram deles:
- Já viram que bobos? Andando a pé, quando deviam montar no burro?
O fazendeiro, então, ordenou ao filho:
- Monte no burro, pois não devemos parecer ridículos.
O filho assim o fez.
Daí a pouco, passaram por uma aldeia. À porta de uma estalagem estavam uns velhos que comentaram:
- Ali vai um exemplo da geração moderna: o rapaz, muito bem refestelado no animal, enquanto o velho pai caminha, com suas pernas fatigadas.
- Talvez eles tenham razão, meu filho, disse o pai. Ficaria melhor se eu montasse e você fosse a pé. Trocaram então as posições.
Alguns quilômetros adiante, encontraram camponesas passeando, as quais disseram:
- A crueldade de alguns pais para com os filhos é tremenda! Aquele preguiçoso, muito bem instalado no burro, enquanto o pobre filho gasta as pernas. -
Suba na garupa, meu filho. Não quero parecer cruel - pediu o pai.
Assim, ambos montados no burro, entraram no mercado da cidade.
- Oh!!! Gritaram outros fazendeiros que se encontravam lá. Pobre burro, [...] carregando uma dupla carga! Não se trata um animal desta maneira. Os dois precisavam ser presos. Deviam carregar o burro às costas, em vez de este carregá-los.
O fazendeiro e o filho saltaram do animal e carregaram-no. Quando atravessavam uma ponte, o burro, que não estava se sentindo confortável, começou a escoicear com tanta energia que os dois caíram na água.
(Texto adaptado) Disponível em: <http://www.botucatu.sp gov.br/Eventos/2007/contHistorias/bauhistorias.pdf>
Disponível em: https://aberturasimples.com.br.infografico. Acesso em: 19 set. 2019.
Analise as afirmativas abaixo, em relação à classificação das palavras.
I- A palavra "rebanho” é um exemplo de susbstantivo coletivo.
II- A palavra "neve" é um exemplo de adjetivo.
III- A palavra "contudo" é um exemplo de preposição.
IV- A palavra “porque" é um exemplo de advérbio.
V- A palavra “persuadir" é um exemplo de verbo.
Assinale a opção correta.
Pastel de beira de estrada
Nós estávamos indo de carro de Porto Alegre para Passo Fundo, onde se realizava mais uma Jornada de Literatura (um inacreditável evento em que milhares de pessoas se reúnem para ouvir escritores, tratá-los como artistas de cinema e mandá-los de volta em caravanas, porque seus egos têm que ir em carros separados). O Augusto Boal, a Lúcia e eu. Seria uma viagem de quatro horas' e tínhamos combinado que na metade do caminho pararíamos para comer pastéis.
Como se sabe, um dos 17 prazeres universais do homem é pastel de beira de estrada. Existe mesmo uma tese segundo a qual, quanto pior a aparência do restaurante rodoviário, melhor o pastel. Mas já estávamos no meio do caminho e nenhum dos lugares avistados nos parecera promissor, pastelmente falando. Foi quando o motorista revelou que conhecia um bom pastel. Nós talvez só não aprovássemos o local... Destemidos, aceitamos sua sugestão, antecipando o grau de sordidez do lugar e a correspondente categoria do pastel. E o motorista parou num shopping center que tem na estrada, à altura da cidade de Lajeado.
Não me lembro se a loja de pastéis tinha nome em inglês. Podia muito bem se chamar "PasteLs", ou coisa parecida. A loja do lado provavelmente era da Benetton e o shopping center podia ser em qualquer lugar do mundo. Alguém que se materializasse ao nosso lado e olhasse em volta não sabería em que país estava, muito menos em que estado ou cidade. Nem a visão do Augusto Boal comendo um pastel o ajudaria. O Augusto Boal viaja muito.
Estávamos, na verdade, no grande e prático Estados Unidos que se espalhou pelo mundo, e substituiu as ruas e as estradas dos nossos hábitos pela conveniência arcondicionada. E nada disto doeria tanto se não fosse por um fato terrível: o pastel estava ótimo.
Estamos perdidos.
Veríssimo, L. A mesa voadora. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.