Questões Militares Sobre noções gerais de compreensão e interpretação de texto em português

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Q936168 Português

Avalie as relações de sentido entre as palavras apresentadas no texto seguinte.


O que é feminicídio?


O assassinato de mulheres em contextos marcados pela desigualdade de gênero recebeu uma designação própria: feminicídio. No Brasil, é também um crime hediondo. Nomear e definir o problema é um passo importante, mas para coibir os assassinatos femininos é fundamental conhecer suas características e, assim, implementar ações efetivas de prevenção. No momento atual, reflexões acerca do feminicídio constituem um divisor de águas nas discussões acerca dos crimes de ódio baseados no gênero.

Disponível em:<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossies/feminicidio/capitulos/o-que-e-feminicidio/> . Acesso em: 28 mai. 2018. Adaptado.


A partir da leitura do texto, é possível inferir que a expressão grifada corresponde semanticamente a

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Q936167 Português

Leia, com atenção, o texto seguinte, que faz uma referência a João Gilberto, um cantor, violonista e compositor brasileiro tido como o pioneiro criador da Bossa Nova, considerado um gênio e uma lenda viva da música popular brasileira.


Joãogilbertocracia


Nasceu o terceiro filho do príncipe William e de Catherine Middleton. Importantíssima essa notícia. Estava em todo canto.

A família real inglesa tem uma coisa mágica qualquer que faz com que seja adotada pelo mundo todo, já notou? Não consigo entender a fascinação que a família real inglesa exerce sobre aqueles que não são seus súditos. [...]

Enquanto escrevo, fico sabendo que mais um de nossos irmãos plebeus está sendo cruelmente sacrificado. Em praça pública. João Gilberto. Com mais de 80 anos, sinais de Alzheimer e dificuldades financeiras, João perdeu mais uma apelação na Corte de nossa Beneficiocracia. Não conheço os detalhes do processo. Mas importam?

Uma lenda viva que ironicamente mudou a história (justamente) da música não tem direito às concessões tão comuns para os nobres que não produzem patavina.

Não tem direito a foro privilegiado nem a benesses do Estado.

É isso que dá não ser amigo dos reis.

Isto É, n. 2523, 2/5/2018, p. 66. Adaptado.


A frase que resume o ponto de vista crítico/irônico/analógico projetado pelo autor no texto, o jornalista e escritor Mentor Neto, articulista da revista Isto É, acerca da situação desconcertante vivida por um dos ícones da música popular brasileira é

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Q936166 Português

Leia, com atenção, o texto seguinte.


Textos em sala de aula


“O que é um texto para você hoje? Esta pergunta nunca foi fácil de responder. Muitos linguistas se debruçaram sobre o texto como unidade de estudo, mas não tive o prazer de conhecer nenhuma resposta definitiva à questão. Também não vi um linguista assumir sua proposta de conceitualização como plenamente satisfatória.”

RIBEIRO, Ana Elisa. Textos multimodais: leitura e produção. 1 ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2016, p. 4.


Segundo o texto, a indagação inicial foi plenamente respondida?

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Q936165 Português

Leia o texto a seguir, sobre Ingedore Koch, linguista brasileira de origem alemã e professora titular da Universidade Estadual de Campinas, que faleceu em 15 de maio de 2018, aos 85 anos.


Ingedore Grunfeld Villaça Koch


Formada em Direito e em Letras, Ingedore G. Villaça Koch, nascida em Eisenbach, Alemanha, em 1933, é mestre e doutora em Língua Portuguesa pela PUC/SP, livre-docente (1990) e titular (1999) em Análise do Discurso pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), onde implementou a área de Linguística Textual. É professora-titular (aposentada) do Departamento de Linguística do IEL-Unicamp. Entre suas várias obras, contam-se: “Desvendando os segredos do texto”, “Intertextualidade” (em co-autoria), ambos pela Cortez Editora; “A coesão textual”, “A coerência textual”, “O texto e a construção dos sentidos”, “Ler e Compreender” (em co-autoria), “Ler e Escrever” (em co-autoria), todos pela Editora Contexto. É co-autora de uma Gramática da Língua Portuguesa pela Editora Almedina, de Coimbra, Portugal. Tem inúmeros trabalhos publicados em revistas e coletâneas de livros, no país e no exterior. Lecionou na graduação e na pósgraduação na área de Letras e Comunicações, atuando também como orientadora de pós-graduação. Em seus projetos, além de questões específicas do campo dos estudos textuais e sociocognitivos, tem enfatizado discussões acerca da leitura e da produção de textos.

Disponível em:<https://www.escavador.com/sobre/6446851/ingedore-grunfeld-villaca-koch> . Acesso em: 23 mai. 2018. Adaptado.


A principal finalidade do texto, que trata da fortuna crítica de Ingedore Koch, é, fundamentalmente,

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Q936164 Português

Leia a crônica argumentativa de Vinícius de Noronha Barboza.


Quem está por trás da máscara?


A internet hoje em dia é uma das principais ferramentas para se montar uma amizade, grandes sites de relacionamento e compartilhamento de arquivos pessoais como o Facebook [...] E o que isso significa? Que a internet representa simplesmente uma nova maneira de se fazer amizades? Ou que pode ser uma ferramenta de destruição de vidas pessoais? Eu digo que ambos, pois com seu principal intuito de manter uma conexão entre os usuários e deixá-los mais íntimos com compartilhamento de, não só diálogos, mas fotos e outros arquivos pessoais, ela acabou virando um atalho para malfeitores simplesmente acabarem com a vida de qualquer um.

Ou seja, uma arma fatal, pois todos estão em sua mira. Quem nunca acordou para assistir ao jornal da manhãzinha e deu de cara com uma notícia de um caso de violação de privacidade através da internet? Bom, eu já. E, ao contrário do que alguns pensam, eu não achei nada engraçado. [...]

Usar redes sociais para compartilhar informações íntimas e pessoais não é errado, porém perigoso; por isso, requer segurança e cuidado. Pois, afinal, como saber quem está por trás da máscara? Ou, melhor dizendo, por trás da tela?...

Disponível em:<http://www.professorvalerio.com.br/2012/06/cronica-argumentativa-quem-esta-por.html> . Acesso em: 30 mai. 2018. Adaptado.


Pode-se dizer que o texto exposto é uma crônica argumentativa, porque nele predomina a intenção do autor de

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Q936163 Português

Atente para os sentidos das palavras na charge.


Imagem associada para resolução da questão


A respeito dos enunciados nos balões, avalie as informações a seguir.


I. No segundo balão, infere-se que a expressão "cor do dinheiro" pode causar ambiguidade de sentidos.

II. No primeiro balão, na frase "O dinheiro já mudou de valor", a palavra em destaque está empregada no sentido literal.

III. No segundo balão, a frase “nunca vi a cor do dinheiro” significa o mesmo que dizer que o dinheiro tem “cor de burro quando foge”.

IV. Em outro contexto, se fosse dita por um corrupto, a frase "eu também nunca vi a cor do dinheiro" apresentaria um tom irônico, deixando entrever que o indivíduo estaria mentindo.


Está correto apenas o que se afirma em

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Q936162 Português

O texto a seguir encerra um comunicado importante.


Conta de luz ficará 9% mais cara em 2018


O brasileiro terá de lidar com dois anos de reajustes na energia bem acima da inflação. As causas são um regime de chuvas insuficiente para compensar períodos de seca e o aumento dos encargos sociais. Na média, as tarifas devem fechar em 2017 com alta de 14% e subir 9,4% em 2018. A expectativa é de que o IPCA (inflação oficial) fique abaixo de 3% este ano e de 4% em 2018. Em algumas regiões, as tarifas podem pesar ainda mais no bolso, segundo levantamento da consultoria especializada TR Soluções. Na média, a maior alta deve ser registrada na região Sul (10,7%), seguida pelo Sudeste (9,3%).

Disponível em: <https://www.otempo.com.br/capa/economia/conta-de-luz-ficar%C3%A1-9-mais-cara-em-2018-1.1556884> . Acesso em: 23 mai. 2018. Adaptado.


Com base no conteúdo da notícia, é possível inferir que seu público-alvo predominante e específico é composto por

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Q936161 Português

Leia os textos seguintes.


Texto I

‘Canibal’ e ‘Pistoleiro’, uruguaio Suárez tem

carreira marcada por polêmicas


Gols e rebeldia. As duas palavras ajudam a definir bem o que é Luis Suárez, atacante do Barcelona. Protagonizou cenas de ataques no mínimo excêntricos em campo, como morder o defensor sérvio Branislav Ivanovic, do Chelsea. Quando jogava pelo Ajax, foi apelidado pelo jornal holandês De Telegraaf de “O Canibal do Ajax”, por causa de outra mordida num outro adversário.

O polêmico jogador começou a sua carreira no Nacional, do Uruguai, com 14 anos. Com 15, já tinha uma expulsão em seu currículo. Nervoso, deu uma cabeçada num árbitro e recebeu o cartão vermelho.

Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2013/06/1300310-canibal-e-pistoleiro-uruguaio-suarez-tem-carreira-marcada-por-polemicas.shtml >. Acesso em: 01 jun. 2018. Adaptado.


Texto II

O novo Suárez


Depois da famosa mordida, a imagem do uruguaio Suárez de maluco e indisciplinado já não existe mais. A grandeza atual de Suárez no Barcelona também é demonstrada pelo carinho da torcida. O grito “uruguaio, uruguaio” virou o mais alto do Camp Nou nos jogos mais recentes do time.

Mas não é só isso. O atacante uruguaio também ganhou destaque no Barça pelo trabalho de pivô no centro de Messi e Neymar. [...] “Ele joga com humildade incrível e encaixou com a gente. Não à toa é ídolo aqui e vai marcar época no clube”, destacou Neymar.

Disponível em:<https://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/liga-dos-campeoes/ultimas-noticias/2015/06/03/como-suarez-superou-mordida-em-chiellini-e-virou-idolo-nobarcelona.htm>. Acesso em: 01 jun. 2018. Adaptado.


Com base nas ideias veiculadas nos textos, é possível afirmar que

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Q935487 Português

Assinale a alternativa que completa adequadamente a lacuna abaixo.


__________________ são as manifestações mais imediatas da identidade linguística dos falantes. Caracterizam-se por traços segmentais e por traços suprassegmentais.

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Q935484 Português
Ao se dizer algo visando produzir algum efeito, como o convencimento, a surpresa ou a persuasão, por exemplo, sobre o interlocutor de determinado contexto discursivo, pode-se identificar aí um ato:
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Q935476 Português

               MAS O QUE SÃO, AFINAL, “CRIPTOMOEDAS”?

                                                                                     Renato Bazan


O Bitcoin é uma “criptomoeda” inventada por um intemauta (ou grupo) cujo pseudônimo era Satoshi Nakamoto. A figura misteriosa lançou o conceito em 2008, ajudou a implementá-lo, e desapareceu da Internet em 2011. Sua proposta originou a primeira entre 1.358 unidades monetárias digitais, todas unidas pelo mesmo objetivo: o de usar a Internet para desviar de qualquer tipo de controle monetário governamental. Há duas características fundamentais que garantem esse objetivo: primeiro, a nãoexistência de manifestação física dessas moedas; segundo, a natureza criptográfica de todas as transações.

O que valida a existência da moeda é uma gigantesca planilha que detém o conjunto de todas as operações já feitas, constantemente atualizada por milhares de servidores anônimos ao redor do mundo. Cada transação só se toma válida depois que cada um desses servidores a autoriza em seu próprio bloco de operações, e o “bloco” é ligado à “corrente” com as informações anteriores. Esse desenho estrutural distribuído confere ao blockchain um poderosíssimo freio contra fraudes, que vem sendo adotado de forma positiva para outros propósitos, como controlar estoques em grandes supermercados, analisar o tráfego e pelo próprio sistema bancário norte-americano.

Do lado do usuário, a segurança contra fraudes se dá pela atribuição de uma chave digital exclusiva, tão complexa que exigiría de supercomputadores semanas de processamento para desvendar. Nesse ponto mora, simultaneamente, a maior virtude e o maior vício das criptomoedas: se por um lado esse sistema evita que o dinheiro virtual seja duplicado, por outro remove qualquer tipo de controle humano sobre o que está acontecendo na planilha. É um terreno fértil para o banditismo.

A automação implacável abrange inclusive a própria geração de novas moedas. Para que novos Bitcoins sejam emitidos, é necessário que um servidor feche um bloco e acrescente-o à corrente. Isso acontece a cada 10 minutos, 24 horas por dia, e garante 12,5 novas moedas à máquina que fechar a operação mais rapidamente. Esse ritmo diminui pela metade a cada 4 anos “para que a moeda possa valorizar”. Aos derrotados, o sistema confere pequenas taxas de verificação por validar os blocos.

Textoadaptado. Disponivelem: httvs: /Avww. diariodocentrodomundo.com. br/e m-i-ano-bitcoin-foi-de-brincadeira-de-cassino-Dara-maior-ameacaeconomica-atual-Dor-renato-bazan (28/04/2018)

No trecho “[...] se por um lado esse sistema evita que o dinheiro virtual seja duplicado, por outro remove qualquer tipo de controle humano sobre o que está acontecendo na planilha.", há uma:
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Q935474 Português

               MAS O QUE SÃO, AFINAL, “CRIPTOMOEDAS”?

                                                                                     Renato Bazan


O Bitcoin é uma “criptomoeda” inventada por um intemauta (ou grupo) cujo pseudônimo era Satoshi Nakamoto. A figura misteriosa lançou o conceito em 2008, ajudou a implementá-lo, e desapareceu da Internet em 2011. Sua proposta originou a primeira entre 1.358 unidades monetárias digitais, todas unidas pelo mesmo objetivo: o de usar a Internet para desviar de qualquer tipo de controle monetário governamental. Há duas características fundamentais que garantem esse objetivo: primeiro, a nãoexistência de manifestação física dessas moedas; segundo, a natureza criptográfica de todas as transações.

O que valida a existência da moeda é uma gigantesca planilha que detém o conjunto de todas as operações já feitas, constantemente atualizada por milhares de servidores anônimos ao redor do mundo. Cada transação só se toma válida depois que cada um desses servidores a autoriza em seu próprio bloco de operações, e o “bloco” é ligado à “corrente” com as informações anteriores. Esse desenho estrutural distribuído confere ao blockchain um poderosíssimo freio contra fraudes, que vem sendo adotado de forma positiva para outros propósitos, como controlar estoques em grandes supermercados, analisar o tráfego e pelo próprio sistema bancário norte-americano.

Do lado do usuário, a segurança contra fraudes se dá pela atribuição de uma chave digital exclusiva, tão complexa que exigiría de supercomputadores semanas de processamento para desvendar. Nesse ponto mora, simultaneamente, a maior virtude e o maior vício das criptomoedas: se por um lado esse sistema evita que o dinheiro virtual seja duplicado, por outro remove qualquer tipo de controle humano sobre o que está acontecendo na planilha. É um terreno fértil para o banditismo.

A automação implacável abrange inclusive a própria geração de novas moedas. Para que novos Bitcoins sejam emitidos, é necessário que um servidor feche um bloco e acrescente-o à corrente. Isso acontece a cada 10 minutos, 24 horas por dia, e garante 12,5 novas moedas à máquina que fechar a operação mais rapidamente. Esse ritmo diminui pela metade a cada 4 anos “para que a moeda possa valorizar”. Aos derrotados, o sistema confere pequenas taxas de verificação por validar os blocos.

Textoadaptado. Disponivelem: httvs: /Avww. diariodocentrodomundo.com. br/e m-i-ano-bitcoin-foi-de-brincadeira-de-cassino-Dara-maior-ameacaeconomica-atual-Dor-renato-bazan (28/04/2018)

Considerando o texto e seu conteúdo, pode-se afirmar que:
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Q934979 Português

Leia o texto abaixo e responda à questão.


O ANJO DA NOITE


    O guarda-noturno caminha com delicadeza, para não assustar, para não acordar ninguém. Lá vão seus passos vagarosos, cadenciados, cosendo a sua sombra com a pedra da calçada.
    Vagos rumores de bondes, de ônibus, os últimos veículos, já sonolentos, que vão e voltam quase vazios. O guarda-noturno, que passa rente às casas, pode ouvir ainda a música de algum rádio, o choro de alguma criança, um resto de conversa, alguma risada. Mas vai andando. A noite é serena, a rua está em paz, o luar põe uma névoa azulada nos jardins, nos terraços, nas fachadas: o guarda-noturno para e contempla.
    À noite, o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições, ameaças. Mesmo os doentes, parece que são mais felizes: esperam dormir um pouco à suavidade da sombra e do silêncio. Há muitos sonhos em cada casa. É bom ter uma casa, dormir, sonhar. O gato retardatário que volta apressado, com certo ar de culpa, num pulo exato galga o muro e desaparece; ele também tem o seu cantinho para descansar. O mundo podia ser tranquilo. As criaturas podiam ser amáveis. No entanto, ele mesmo, o guarda-noturno, traz um bom revólver no bolso, para defender uma rua...
    E se um pequeno rumor chega ao seu ouvido e um vulto parece apontar da esquina, o guarda-noturno torna a trilhar longamente, como quem vai soprando um longo colar de contas de vidro.
    E recomeça a andar, passo a passo, firme e cauteloso, dissipando ladrões e fantasmas. É a hora muito profunda em que os insetos do jardim estão completamente extasiados, ao perfume da gardênia e à brancura da lua. E as pessoas adormecidas sentem, dentro de seus sonhos, que o guarda-noturno está tomando conta da noite, a vagar pelas ruas, anjo sem asas, porém armado.

(MEIRELES, Cecilia. Quadrante 2. In ww w.gotasdeliteraturabrasileira.blogspot.com )
Sobre o período "E as pessoas adormecidas sentem, dentro de seus sonhos, que o guarda-noturno está tomando conta da noite, a vagar pelas ruas, anjo sem asas, porém armado.” (5o §) foram feitas abaixo afirmações corretas sobre a estrutura sintática e semântica, EXCETO em:
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Q934973 Português

Leia o texto abaixo e responda à questão.


O ANJO DA NOITE


    O guarda-noturno caminha com delicadeza, para não assustar, para não acordar ninguém. Lá vão seus passos vagarosos, cadenciados, cosendo a sua sombra com a pedra da calçada.
    Vagos rumores de bondes, de ônibus, os últimos veículos, já sonolentos, que vão e voltam quase vazios. O guarda-noturno, que passa rente às casas, pode ouvir ainda a música de algum rádio, o choro de alguma criança, um resto de conversa, alguma risada. Mas vai andando. A noite é serena, a rua está em paz, o luar põe uma névoa azulada nos jardins, nos terraços, nas fachadas: o guarda-noturno para e contempla.
    À noite, o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições, ameaças. Mesmo os doentes, parece que são mais felizes: esperam dormir um pouco à suavidade da sombra e do silêncio. Há muitos sonhos em cada casa. É bom ter uma casa, dormir, sonhar. O gato retardatário que volta apressado, com certo ar de culpa, num pulo exato galga o muro e desaparece; ele também tem o seu cantinho para descansar. O mundo podia ser tranquilo. As criaturas podiam ser amáveis. No entanto, ele mesmo, o guarda-noturno, traz um bom revólver no bolso, para defender uma rua...
    E se um pequeno rumor chega ao seu ouvido e um vulto parece apontar da esquina, o guarda-noturno torna a trilhar longamente, como quem vai soprando um longo colar de contas de vidro.
    E recomeça a andar, passo a passo, firme e cauteloso, dissipando ladrões e fantasmas. É a hora muito profunda em que os insetos do jardim estão completamente extasiados, ao perfume da gardênia e à brancura da lua. E as pessoas adormecidas sentem, dentro de seus sonhos, que o guarda-noturno está tomando conta da noite, a vagar pelas ruas, anjo sem asas, porém armado.

(MEIRELES, Cecilia. Quadrante 2. In ww w.gotasdeliteraturabrasileira.blogspot.com )
Percebe-se no texto, pela descrição do ambiente em que trabalha o guarda-noturno, uma sensação de tranquilidade e segurança. Das passagens transcritas a seguir, aquela em que essa sensação está mais evidente é:
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Q933391 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
No texto, o autor faz uso de algumas marcas de oralidade. Assinale a opção na qual uma dessas marcas está presente.
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Q933384 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... (4o parágrafo)
Assinale a opção em que a expressão sublinhada tem uma circunstância diferente da palavra sublinhada no fragmento acima.
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Q933382 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
Na minha adolescência você seria uma tortura. (8o parágrafo)
Assinale a opção que apresenta uma circunstância sublinhada diferente daquela presente no fragmento acima.
Alternativas
Q933376 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
O encontro com a mulher mencionada no texto desencadeia no narrador os sentimentos de
Alternativas
Q933375 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
A opção em que o fragmento apresenta sentido figurado é:
Alternativas
Q933374 Português
Passeio à Infância

    Primeiro vamos lá embaixo no córrego; pegaremos dois pequenos carás dourados. E como faz calor, veja, os lagostins saem da toca. Quer ir de batelão, na ilha, comer ingás? Ou vamos ficar bestando nessa areia onde o sol dourado atravessa a água rasa? Não catemos pedrinhas redondas para atiradeira, porque é urgente subir no morro; os sanhaços estão bicando os cajus maduros. É janeiro, grande mês de janeiro!
    Podemos cortar folhas de pita, ir para o outro lado do morro e descer escorregando no capim até a beira do açude. Com dois paus de pita, faremos uma balsa, e, como o carnaval é no mês que vem, vamos apanhar tabatinga para fazer formas de máscaras. Ou então vamos jogar bola-preta: do outro lado do jardim tem um pé de saboneteira.
    Se quiser, vamos. Converta-se, bela mulher estranha, numa simples menina de pernas magras e vamos passear nessa infância de uma terra longe. É verdade que jamais comeu angu de fundo de panela?
    Bem pouca coisa eu sei: mas tudo que sei lhe ensino. Estaremos debaixo da goiabeira; eu cortarei uma forquilha com o canivete. Mas não consigo imaginá-la assim; talvez se na praia ainda houver pitangueiras... Havia pitangueiras na praia? Tenho uma ideia vaga de pitangueiras junto à praia. Iremos catar conchas cor-de-rosa e búzios crespos, ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim. Quer? Agora devem ser três horas da tarde, as galinhas lá fora estão cacarejando de sono, você gosta de fruta-pão assada com manteiga? Eu lhe dou aipim ainda quente com melado. Talvez você fosse como aquela menina rica, de fora, que achou horrível nosso pobre doce de abóbora e coco.
    Mas eu a levarei para a beira do ribeirão, na sombra fria do bambual; ali pescarei piaus. Há rolinhas. Ou então ir descendo o rio numa canoa bem devagar e de repente dar um galope na correnteza, passando rente às pedras, como se a canoa fosse um cavalo solto. Ou nadar mar afora até não poder mais e depois virar e ficar olhando as nuvens brancas. Bem pouca coisa eu sei; os outros meninos riram de mim porque cortei uma iba de assa-peixe. Lembro-me que vi o ladrão morrer afogado com os soldados de canoa dando tiros, e havia uma mulher do outro lado do rio gritando.
    Mas como eu poderia, mulher estranha, convertê-la em menina para subir comigo pela capoeira? Uma vez vi uma urutu junto de um tronco queimado; e me lembro de muitas meninas. Tinha uma que era para mim uma adoração. Ah, paixão da infância, paixão que não amarga. Assim eu queria gostar de você, mulher estranha que ora venho conhecer, homem maduro. Homem maduro, ido e vivido; mas quando a olhei, você estava distraída, meus olhos eram outra vez os encantados olhos daquele menino feio do segundo ano primário que quase não tinha coragem de olhar a menina um pouco mais alta da ponta direita do banco.
    Adoração de infância. Ao menos você conhece um passarinho chamado saíra? E um passarinho miúdo: imagine uma saíra grande que de súbito aparecesse a um menino que só tivesse visto coleiros e curiós, ou pobres cambaxirras. Imagine um arco-íris visto na mais remota infância, sobre os morros e o rio. O menino da roça que pela primeira vez vê as algas do mar se balançando sob a onda clara, junto da pedra.
    Ardente da mais pura paixão de beleza é a adoração da infância. Na minha adolescência você seria uma tortura. Quero levá-la para a meninice. Bem pouca coisa eu sei; uma vez na fazenda riram: ele não sabe nem passar um barbicacho! Mas o que sei lhe ensino; são pequenas coisas do mato e da água, são humildes coisas, e você é tão bela e estranha! Inutilmente tento convertê-la em menina de pernas magras, o joelho ralado, um pouco de lama seca do brejo no meio dos dedos dos pés.
    Linda como a areia que a onda ondeou. Saíra grande! Na adolescência me torturaria; mas sou um homem maduro. Ainda assim às vezes é como um bando de sanhaços bicando os cajus de meu cajueiro, um cardume de peixes dourados avançando, saltando ao sol, na piracema; um bambual com sombra fria, onde ouvi silvo de cobra, e eu quisera tanto dormir. Tanto dormir! Preciso de um sossego de beira de rio, com remanso, com cigarras. Mas você é como se houvesse demasiadas cigarras cantando numa pobre tarde de homem.

Julho, 1945

Crônica extraída do livro “200 crônicas escolhidas”, de Rubem Braga.

Texto adaptado à nova ortografia.
(...) ou armar o alçapão junto do brejo para pegar papa-capim.
No fragmento acima, presente no 4o parágrafo, o autor refere-se
Alternativas
Respostas
2181: B
2182: A
2183: C
2184: C
2185: B
2186: D
2187: C
2188: C
2189: E
2190: E
2191: A
2192: B
2193: C
2194: B
2195: C
2196: D
2197: A
2198: D
2199: E
2200: B