Em 2020, o historiador e professor Mário Sérgio de
Moraes teve que interromper uma ação que já tinha virado
rotina na casa onde vive com a esposa. Sempre que recebia o neto Mateus, o casal fazia, logo após o almoço, uma
sessão colaborativa de contação de histórias. “Inventamos
a historinha de três. Eu começava, ele continuava e depois
minha mulher”, relembra Moraes.
A pandemia, contudo, acabou cortando o hábito pela raiz.
Em isolamento, a única forma que o casal tinha para conversar com o neto era através das telas do computador e celular. Porém, em pouco tempo, o avô encontrou uma forma de
prosseguir o contato com Mateus por meio de histórias. “Para
não perder essa relação, eu começava a história no computador, mandava para ele pelo pai e, com aquela letrinha de
quarta série, o Mateus continuava e a enviava de volta para
mim”, conta o avô. O projeto acabou crescendo tanto que o
avô decidiu oferecê-lo a uma editora. Pouco depois saiu o
volume “Tudo acaba em 10”, que, segundo o avô, vende bem
melhor que seus próprios livros acadêmicos.
A história de Moraes e Mateus está longe de ser um
exemplo único de como avôs e netos vêm se relacionando no
mundo contemporâneo. Em vez disso, ela ajuda a escancarar a multiplicidade de experiências e possibilidades familiares. Muitos idosos estão buscando coisas novas e sobretudo
entender seu lugar no mundo.
Hoje, há aproximadamente 1,5 bilhão de avós no mundo, segundo pesquisa da revista The Economist. Com o
aumento da expectativa de vida mundial e o envelhecimento da população, dá para arriscar dizer que a importância
deles será enorme ao longo do século 21. E isso considerando que seu grande impacto já vem sendo tema de estudos, que apontam que a relação avós/netos foi essencial
para a evolução humana ao longo dos séculos.
(Leonardo Neiva. A relação de avós e netos hoje.
https://gamarevista.uol.com.br, 23.07.2023. Adaptado)