Com relação ao uso da crase em “dirijo-me à luz” (2º§), assi...

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Ano: 2016 Banca: Aeronáutica Órgão: CIAAR Provas: Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Farmacêuticos - Conhecimentos Básicos | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Oficiais de Apoio - Conhecimentos Básicos | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Oficiais Engenheiros - Conhecimentos Básicos | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Farmácia Bioquímica | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Administração | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Cartográfica | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Enfermagem | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Eletrônica | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Jornalismo | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Análise de Sistemas | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Pedagogia | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Psicologia | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Serviços Jurídicos | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Elétrica | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia de Telecomunicações | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia de Agrimensura | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia da Computação | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Serviço Social | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Civil | Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Mecânica |
Q657531 Português

      Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.

      A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as palavras deste livro, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.

      Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja? Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça [...].

      Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda. Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.

(PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Org. Richard Zenith. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.)

Com relação ao uso da crase em “dirijo-me à luz” (2º§), assinale a alternativa correta.
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