Questões de Português - Adjetivos para Concurso

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Q2972643 Português

Um cão apenas


Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim – plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito – eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrimas que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com grande esforço acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...

Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com dificuldade dos enfermos graves: acomodando as pastas da frente, arrastando o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminha-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.

Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance; talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim humilhado, e tão digno, no entanto: como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era seu.

Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa, e a escada que descemos e a dignidade final da solidão.

(Cecília Meireles, Crônicas, 1965)

As palavras grifadas pertencem à mesma classe gramatical, EXCETO:

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Ano: 2010 Banca: FUNDATEC Órgão: CRA-RS Prova: FUNDATEC - 2010 - CRA-RS - Fiscal |
Q2969909 Português

Instrução: As questões de números 01 a 12 referem-se ao texto abaixo.


A teoria da incomodação zero


01 Os homens se distinguem dos animais, não porque ____ consciência, já afirmavam teorias

02 sociológicas do fim do século 19, mas porque produzem as condições de sua própria existência. Estas

03 condições são, em grande parte, oriundas do trabalho, que sempre fez parte da vida humana. Contudo,

04 desde que surge a propriedade privada capitalista, a relação de trabalho estabelecida entre empregador e

05 empregado passou por muitas transformações. O trabalho consistia em sinônimo de segurança, de um

06 ambiente ordenado, regular, confiável e duradouro. Em uma época não tão distante, o imediatismo não

07 figurava como valor maior, e a lógica do trabalho se assemelhava a uma construção: tijolo __ tijolo, andar

08 __ andar, no trabalho lento, que findava com uma obra sólida e firme – a carreira.

09 Mas hoje o status do trabalho parece estar subvertido ou, ao menos, tem se revestido de

10 características muito distintas das de outrora. O sociólogo polonês Zigmunt Bauman nos revela que o novo

11 perfil do trabalhador, buscado pelas empresas, não é mais exatamente aquele que prima por um sujeito

12 íntegro, enraizado em valores, com princípios e tradições sólidas. O mais novo filtro utilizado nesta

13 escolha é de outra natureza. De acordo com Bauman, desde 1997, usa-se nos EUA uma expressão que

14 designa o perfil de trabalhador que o mercado procura, o chamado “chateação zero”. A expressão cômica,

15 mas extremamente reveladora, nos mostra que o trabalhador que possuir menos fatores potenciais para

16 chatear ou incomodar a empresa durante o seu labor será aquele com maior chance de conseguir a vaga.

17 Por exemplo, um sujeito dotado de família e filhos tem o seu nível de chateação elevado, pois

18 provavelmente não terá tanta flexibilidade para aceitar tarefas em qualquer horário ou local.

19 Ora, se você é um empregado que ousa questionar as relações e que procura cumprir as suas

20 obrigações, cobrando dos demais o mínimo de responsabilidade, saiba que você possui um nível de

21 chateação elevadíssimo. Vantajoso é ser alguém descomprometido com a realidade social, com laços

22 afetivos frágeis e que possa estar sempre à disposição. A preferência é por “empregados ‘flutuantes’,

23 acríticos, descomprometidos, flexíveis, ‘generalistas’ e, em última instância, descartáveis (do tipo ‘pau

24 pra toda obra’, em vez de especializados e submetidos a um treinamento estritamente focalizado)”,

25 afirma Bauman. O mercado de trabalhadores é também um mercado de produtos.

26 Neste ambiente “líquido-moderno”, estendemos o retrato da prática do consumo para as demais

27 instâncias da vida, como parece ocorrer com as atividades do trabalho. Uma predileção pela facilidade,

28 desprendimento e individualização. Um produto é comprado, usado até perder o valor e depois

29 descartado, pois uma imensidão de outros estará __ disposição. O trabalhador assume, enfim, o status de

30 descartável. Incomodando zero, disponível sempre e criticando nunca.


(Salbego, Solange. Zero Hora, 21-02-2010 – adaptação)

Nas linhas 22 e 23, a autora utiliza aspas para marcar os adjetivos flutuantes e generalistas com o objetivo

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Q2968760 Português

Leia o texto abaixo e responda às questões propostas


Detona, Bruno


O nome da empresa guarda uma incongruência em si: Fabio Bruno Construções. Dito assim, parece que se trata de uma firma especializada em erguer empreendimentos imobiliários ou algo do gênero. Nada mais enganoso, porém. Na verdade, o propósito dessa firma carioca é exatamente o oposto: pôr abaixo edificações em desuso ou deterioradas, a fim de abrir terreno para novos prédios. Com a profusão de reformas em curso no Rio nestes últimos tempos, a companhia tem tido trabalho redobrado. [...]

Desde a abertura da Avenida Presidente Vargas, nos anos 40, e o desmonte dos morros do Castelo e de Santo Antônio, nas décadas anteriores, o Rio não assistia a tamanho bota-abaixo. Numa nova sequência de derrubadas, as obras de expansão viária e a cirurgia urbana na região portuária foram decisivas para aquecer o negócio de implosões. As vantagens dessa opção são evidentes. Enquanto uma demolição convencional, daquelas com retroescavadeiras e marteladas, pode levar seis meses e produzir muito barulho e poeira, o uso de dinamite resolve o problema em menos de um minuto – sem contar o impacto visual das imagens, que invariavelmente viram atração nos noticiários. Destruir faz parte de um ramo da engenharia civil tão complexo quanto construir. É preciso montar uma equação que leva em conta a estrutura do imóvel, a quantidade de explosivo a ser usado e os locais estratégicos onde ele será colocado, para que a peça venha ao chão sem abalar seu entorno. [...] Para facilitar a missão e mitigar os riscos, o engenheiro utiliza um software que simula com alta precisão as operações. Desenvolvido pela americana Applied Science International, o programa tem como principal cliente o governo dos Estados Unidos, que, ao contrário da empresa brasileira, recorre à tecnologia para reforçar a estrutura física de suas repartições, numa precaução contra atentados terroristas.

Pode-se atribuir o êxito da empresa ao bom faro comercial de Fabio Bruno, engenheiro de 36 anos formado na Universidade Federal de Minas Gerais [...]. De cinco anos para cá, as demandas se intensificaram, com efeito explosivo no número de funcionários – em torno de setenta pessoas – e no caixa da empresa.

Informações compartilhadas em conferências como a World Demolition Conference, cuja próxima edição será em outubro, na cidade de Amsterdã, na Holanda, apontam os Estados Unidos e a China como os principais mercados no setor. Entretanto, o Rio está na lista das cinco cidades com maior atividade no ramo. “Implosões estão sempre ligadas a algum evento natural, como terremotos e tsunamis, ou a um período de desenvolvimento, como é o caso do Rio agora, às vésperas de sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada”, afirma o inglês Mark Anthony, que assina um conceituado portal de demolição e implosão. Como se vê, destruir pode ser um grande negócio.

(Bruna Talarico, Revista Veja Rio, 3/04/2013)

Em: “Destruir faz parte de um ramo da engenharia civil tão complexo quanto construir.”, o adjetivo COMPLEXO foi empregado no grau:

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Q2964545 Português

Leia com atenção o texto a seguir:

Acesso em 10.05.2010. http://pandjango.com/wpcontent/uploads/2009/02

No segundo balão de falas, as palavras “ fino” e “ grosso” são caracterizadas como:

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Q2956125 Português

Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.

O recente interesse na regulamentação da astrologia como profissão oferece a oportunidade de refletir sobre questões que vão desde as raízes históricas da ciência até a percepção, infelizmente muito popular, de seu dogmatismo. Preocupa-me, e imagino que a muitos dos colegas cientistas, a rotulação do cientista como um sujeito inflexível, bitolado, que só sabe pensar dentro dos preceitos da ciência. Ela vem justamente do desconhecimento sobre como funciona a ciência. Talvez esteja aqui a raiz de tanta confusão e desentendimento.

Longe dos cientistas achar que a ciência é o único modo de conhecer o mundo e as pessoas, ou que a ciência está sempre certa. Muito ao contrário, seria absurdo não dar lugar às artes, aos mitos e às religiões como instrumentos complementares de conhecimento, expressões de como o mundo é visto por pessoas e culturas muito diversas entre si.

Um mundo sem esse tipo de conhecimento não científico seria um mundo menor e, na minha opinião, insuportável. O que existe é uma distinção entre as várias formas de conhecimento, distinção baseada no método pertinente a cada uma delas. A confusão começa quando uma tenta entrar no território da outra, e os métodos passam a ser usados fora de seus contextos.

Portanto, é (ou deveria ser) inútil criticar a astrologia por ela não ser ciência, pois ela não é. Ela é uma outra forma de conhecimento. [...]

Essa caracterização da astrologia como não ciência não é devida ao dogmatismo dos cientistas. É importante lembrar que, para a ciência progredir, dúvida e erro são fundamentais. Teorias não nascem prontas, mas são refinadas com o passar do tempo, a partir da comparação constante com dados. Erros são consertados, e, aos poucos, chega-se a um resultado aceito pela comunidade científica.

A ciência pode ser apresentada como um modelo de democracia: não existe o dono da verdade, ao menos a longo prazo. (Modismos, claro, existem sempre.) Todos podem ter uma opinião, que será sujeita ao escrutínio dos colegas e provada ou não. E isso tudo ocorre independentemente de raça, religião ou ideologia. Portanto, se cientistas vão contra alguma coisa, eles não vão como donos da verdade, mas com o mesmo ceticismo que caracteriza a sua atitude com relação aos próprios colegas. Por outro lado, eles devem ir dispostos a mudar de opinião, caso as provas sejam irrefutáveis.


Será necessário definir a astrologia? Afinal, qualquer definição necessariamente limita. Se popularidade é medida de importância, existem muito mais astrólogos do que astrônomos. Isso porque a astrologia lida com questões de relevância imediata na vida de cada um, tendo um papel emocional que a astronomia jamais poderia (ou deveria) suprir.

A astrologia está conosco há 4.000 anos e não irá embora. E nem acho que deveria. Ela faz parte da história das ideias, foi fundamental no desenvolvimento da astronomia e é testemunha da necessidade coletiva de conhecer melhor a nós mesmos e os que nos cercam. De minha parte, acho que viver com a dúvida pode ser muito mais difícil, mas é muito mais gratificante. Se erramos por não saber, ao menos aprendemos com os nossos erros e, com isso, crescemos como indivíduos. Afinal, nós somos produtos de nossas escolhas, inspiradas ou não pelos astros.

(GLEISER, Marcelo. Folha de São Paulo, 22 set. 2002)

A alternativa em que ambos os termos constituídos de preposição + substantivo podem ser substituídos no texto por adjetivos semanticamente equivalentes é:

Alternativas
Respostas
31: D
32: A
33: E
34: A
35: A