Questões de Português - Crase para Concurso
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Texto I
Rito de Passagem
Um dia seu filho se aproxima e diz, assim como quem não quer nada: “Pai, fiz a barba”. E, a menos que se trate de um pai desnaturado ou de um barbeiro cansado da profissão, a emoção do pai será inevitável. E será uma complexa emoção essa, um misto de assombro, de orgulho, mas também de melancolia. O seu filho, o filhinho que o pai carregou nos braços, é um homem. O tempo passou.
Barba é importante. Sempre foi. Patriarca bíblico que se prezasse usava barba. Rei também. E um fio de barba, ou de bigode, tradicionalmente se constitui numa garantia de honra, talvez não aceita pelos cartórios, mas prezada como tal. Fazer a barba é um rito de passagem.
Como rito de passagem, ele não dura muito. Fazer a barba. No início, é uma revelação; logo passa à condição de rotina, e às vezes de rotina aborrecida. Muitos, aliás, deixam crescer a barba por causa disto, para se ver livre do barbeador ou da lâmina de barbear. Mas, quando seu filho se olha no espelho, e constata que uns poucos e esparsos pelos exigem - ou permitem - o ato de barbear-se, ele seguramente vibra de satisfação.
Nenhum de nós, ao fazer a barba pela primeira vez, pensa que a infância ficou pra trás. E, no entanto, é exatamente isto: o rosto que nos mira do espelho já não é mais o rosto da criança que fomos. É o rosto do adulto que seremos. E os pelos que a água carrega para o ralo da pia levam consigo sonhos e fantasias que não mais voltarão.
É bom ter barba? Essa pergunta não tem resposta. Esta pergunta é como a própria barba: surge implacavelmente, cresce não importa o que façamos. Cresce mesmo depois que expiramos. E muitos de nós expiramos lembrando certamente o rosto da criança que, do fundo do espelho, nos olha sem entender.
(SCLIAR, Moacyr et al. Histórias de grandeza e de miséria. Porto Alegre: L&PM, 2003)
Texto: Quem é carioca
Claro que não é preciso nascer no Rio de Janeiro para ser genuinamente carioca, ainda que haja nisto um absurdo etimológico. É notório que há cariocas vindos de toda parte, do Brasil e até fora do Brasil. Ainda há pouco tempo chamei Armando Nogueira de carioca do Acre, nascido na remota e florestal cidade de Chapuri. Armando conserva, de resto, a marca acriana num resíduo de sotaque nortista, cuja aspereza nada tem a ver com a fala carioca, que não cospe as palavras, mas antes as agasalha carinhosamente na boca. Mas não é a maneira de falar, ou apenas ela, que caracteriza o carioca. Há sujeitos nascidos, criados e vividos no Rio – poucos, é verdade – que falam cariocamente e não têm, no entanto, nem uma pequena parcela de alma carioca. Agora mesmo estou me lembrando de um, sujeito ranheta, que em tudo que faz ou diz põe aquela eructação subjacente que advém de sua azia espiritual. Este, ainda que o prove com certidão de nascimento, não é carioca nem aqui nem na China. E assim, sem querer, já me comprometi com uma certa definição do carioca, que começa por ser não propriamente, ou não apenas um ser bemhumorado, mas essencialmente um ser de paz com a vida. Por isso mesmo, o carioca, pouco importa sua condição social, é um coração sem ressentimento. Nisto, como noutras dominantes da biotipologia do carioca, há de influir fundamentalmente a paisagem, ou melhor, a natureza desta mui leal cidade do Rio de Janeiro.
Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, é impossível a gente não sofrer um certo aperfeiçoamento imposto pela natureza. A paisagem, de qualquer lado que o olhar se vire, se oferece com a exuberância e a falta de modos de um camelô. O carioca sabe que não é preciso subir ao Corcovado ou ao Pão de Açúcar para ser atropelado por um belo panorama (belo panorama, aliás, é um troço horrível). Por isso mesmo, nunca um só carioca foi assaltado no Mirante Dona Marta, que está armadinho lá em cima à espera dos otários, isto é, dos turistas.
Pois o que o carioca não é, o que ele menos é – é turista. O que caracteriza o carioca é exatamente uma intimidade com a paisagem, que o dispensa de encarar, por exemplo, a praia de Copacabana com um olhar que não seja o rigorosamente familiar. O carioca não visita coisa nenhuma, muito menos a sua cidade, entendida aqui como entidade global e abstratamente concreta. Ele convive com o Rio de igual para igual e nesta relação só uma lei existe, que é a da cordialidade. O carioca está na sua cidade como o peixe no mar.
Por tudo isso, qualquer sujeito que não esteja perfeita e estritamente casado com a paisagem ou, mais que isto, com a cidade, não é carioca – é um intruso, um corpo estranho. E é isto o que transparece à primeira vista, não adianta disfarçar. O carioca autêntico, o genuíno mesmo, esse que chegou ao extremo de nascer no Rio, esse não engana ninguém e nunca dá um único fora – sua conduta é cem por cento carioca sem o menor esforço. O carioca é um ser espontâneo, cuja virtude máxima é a naturalidade. Não tem dobras na alma, nem bolor, nem reservas. Também pudera, sua formação, desde o primeiro vagido, foi feita sob o signo desta cidade superlativa, onde o mar e a mata – verde e azul – são um permanente convite para que todo mundo saia de si mesmo, evite a própria má companhia - comunique-se. Sobre esse verde e esse azul, imagine-se ainda o esplendor de um sol que entra pela noite adentro – um sol que se apaga, mas não se ausenta. Diante disto e de mais tudo aquilo que faz a singularidade da beleza do Rio, como não ser carioca?
Apesar de tudo, há gente que consegue viver no Rio anos a fio sem assimilar a cidade e sem ser por ela assimilada. Gente que nunca será carioca, como são, por exemplo, Dom Pedro II e Vinícius de Morais, autênticos cariocas de todos os tempos, segundo Afonso Arinos. A verdade é que nem todo mundo consegue a taxa máxima de “cariocidade”, que tem, por exemplo, um Aloysio Salles. No extremo oposto, está aquele homem público eminente que vi passeando outro dia em Copacabana.Ia de braço com a mulher e, da cabeça aos sapatos, como dizia Eça de Queiroz, proclamava a sua falta de identificação com o que se pode chamar “carioca way of living”. Sapatos, aliás, que não eram esporte, ao contrário da camisa desfraldada. Esse é um que não precisa abrir a boca, já se viu que está no Rio como uma barata está numa sopa de batata, no mínimo, por simples erro de revisão.
Otto Lara Resende. In: Antologia de crônicas: 80 crônicas exemplares / organizada por Herberto Sales. 3 ed. São Paulo: Ediouro, 2010. Páginas 197 - 199
I. A forma verbal "prevê‟, caso concorde com um núcleo no plural, deve ser grafada "preveem‟; II. O vocábulo "a‟ antes da forma verbal "fazer‟, no caso deste verbo ser substituído por "feitura‟, deve receber o acento grave e deve ser usada uma preposição depois de "feitura‟; III. O vocábulo "públicas‟, se fosse um verbo, não receberia acento gráfico.
I - ROMPIMENTO À JATO. II - COM ACESSO À EDUCAÇÃO.
III - AUMENTO DA GASOLINA VOLTA À BAILA. IV - PRATO À MODA ORIENTAL. V - FRIOZINHO BEM À PROPÓSITO.
Quantas delas contêm erro no emprego do acento indicativo de crase?
MAMÃ NEGRA (Canto de esperança)
Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça, Drama de carne e sangue Que a Vida escreveu com a pena dos séculos! Pelo teu regaço, minha Mãe, Outras gentes embaladas à voz da ternura ninadas do teu leite alimentadas de bondade e poesia de música ritmo e graça... santos poetas e sábios... Outras gentes... não teus filhos, que estes nascendo alimárias semoventes, coisas várias, mais são filhos da desgraça: a enxada é o seu brinquedo trabalho escravo - folguedo... Pelos teus olhos, minha Mãe Vejo oceanos de dor Claridades de sol-posto, paisagens Roxas paisagens Mas vejo (Oh! se vejo!...) mas vejo também que a luz roubada aos teus [olhos, ora esplende demoniacamente tentadora - como a Certeza... cintilantemente firme - como a Esperança... em nós outros, teus filhos, gerando, formando, anunciando -o dia da humanidade.
(Viriato da Cruz. Poemas, 1961, Lisboa, Casa dos Estudantes do Império)
___________ situações insustentáveis do lixo no Brasil. Esse problema chega ________ autoridades que deverão tomar ______ providências cabíveis
Considere o seguinte período e as correções abaixo apontadas para ele:
Durante a sessão na Assembleia, recomendou-se que a lei orçamentária desse tratamento prioritário a área de atendimento à criança, conforme o previsto no art. 4º, par. único da Lei nº 8.069/90, e o art. 227, caput da constituição federal.
1. A palavra sessão deveria grafada secção.
2. Deveria haver crase no a que precede área.
3. Deveria haver vírgula tanto após par. único quanto após caput.
4. O termo constituição federal deveria ser grafado com maiúsculas.
Quais correções deveriam ser realizadas?
Com relação às estruturas linguísticas do texto CB2A2AAA, julgue o item a seguir.
No trecho “a uma ampla interação” (l. 23 e 24), a inserção do
sinal indicativo de crase no “a” manteria a correção gramatical
do período, mas prejudicaria o seu sentido original.
“Desde as primeiras viagens ao Atlântico Sul, os navegadores europeus reconheceram a
importância dos portos de São Francisco, Ilha de Santa Catarina e Laguna, para as “estações da
aguada” de suas embarcações. À época, os navios eram impulsionados a vela, com pequeno
calado e autonomia de navegação limitada. Assim, esses portos eram de grande importância,
especialmente para os navegadores que se dirigiam para o Rio da Prata ou para o Pacífico,
através do Estreito de Magalhães.”
(Adaptado de SANTOS, Sílvio Coelho dos. Nova História de Santa Catarina.
Florianópolis: edição do Autor, 1977, p. 43.)
“O americano Jackson Katz, 55, é um homem feminista – definição que lhe agrada. Dedica praticamente todo o seu tempo a combater a violência contra a mulher e a promover a igualdade entre os gêneros. (...) Em 1997, idealizou o primeiro projeto de prevenção à violência de gênero na história dos marines americanos. Katz – casado e pai de um filho – já prestou consultoria à Organização Mundial de Saúde e ao Exército americano.”
(In: Veja, Rio de Janeiro: Abril, ano 49, n.2, p. 13, jan. 2016.)
Em relação ao emprego do sinal de crase, estão corretas as frases:
a) Solicito a Vossa Excelência o exame do presente documento.
b) A redação do contrato compete à Diretoria de Orçamento e Finanças.
Cidade Maravilhosa?
Os camelôs são pais de famílias bem pobres, e, então, merecem nossa simpatia e nosso carinho; logo eles se multiplicam por 1000. Aqui em frente à minha casa, na Praça General Osório, existe há muito tempo a feira hippie. Artistas e artesãos expõem ali aos domingos e vendem suas coisas. Uma feira um tanto organizada demais: sempre os mesmos artistas mostrando coisas quase sempre sem interesse. Sempre achei que deveria haver um canto em que qualquer artista pudesse vender um quadro; qualquer artista ou mesmo qualquer pessoa, sem alvarás nem licenças. Enfim, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro, na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo - roupas, louças, frutas, miudezas, brinquedos, objetos usados, ampolas de óleo de bronzear, passarinhos, pipocas, aspirinas, sorvetes, canivetes. E as praias foram invadidas por 1000 vendedores. Na rua e na areia, uma orgia de cães. Nunca vi tantos cães no Rio, e presumo que muita gente anda com eles para se defender de assaltantes. O resultado é uma sujeira múltipla, que exige cuidado do pedestre para não pisar naquelas coisas. E aquelas coisas secam, viram poeira, unem-se a cascas de frutas podres e dejetos de toda ordem, e restos de peixes da feira das terças, e folhas, e cusparadas, e jornais velhos; uma poeira dos três reinos da natureza e de todas as servidões humanas.
Ah, se venta um pouco o noroeste, logo ela vai-se elevar, essa poeira, girando no ar, entrar em nosso pulmão numa lufada de ar quente. Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está excessivamente cheia. Está bem, está bem, o mar, o mar é do povo, como a praça é do condor – mas podia haver menos cães e bolas e pranchas e barcos e camelôs e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d’água, com um canivete na barriga alheia, e sujeitos que carregam caixas de isopor e anunciam sorvetes e, quando o inocente cidadão pede picolé de manga, eis que ele abre a caixa e de lá puxa a arma. Cada dia inventam um golpe novo: a juventude é muito criativa, e os assaltantes são quase sempre muito jovens.
Rubem Braga
Memória só registra acontecimentos após os quatro anos de idade
Uma pesquisa desenvolvida na Memorial University of Newfoundland, no Canadá, afirma que não nos lembramos dos acontecimentos da nossa primeira infância porque nos esquecemos deles enquanto ainda somos crianças.
O estudo reuniu 140 crianças com idade entre quatro e 13 anos. Na primeira fase do estudo, elas eram convidadas a contar as memórias mais antigas de que tinham lembrança. Dois anos depois, as crianças da pesquisa contaram novamente as suas lembranças mais antigas e tiveram ainda que estimar quantos anos elas tinham quando tudo aconteceu.
Os pesquisadores notaram que as crianças mais novas trocaram as memórias velhas por mais recentes. Já as maiores mantiveram as mesmas lembranças. Foi concluído, portanto, que as crianças se esquecem dos primeiros anos de vida logo na infância.
_______ isso acontece?
A neurociência não tem certeza. Uma das hipóteses é de que, nos primeiros anos de vida, nosso cérebro ainda não estaria pronto para gravar memórias para a vida inteira. Estruturas cerebrais responsáveis por processar e arquivar informações não estão totalmente desenvolvidas aos dois ou três anos.
Os pesquisadores afirmam que os acontecimentos de antes dos três anos são gravados na memória por meio de códigos não linguísticos, que não fazem sentido depois que somos adultos. O fato de as lembranças mais claras coincidirem com o início da alfabetização só reforça essa teoria.
Para a psicanálise, porém, parte da infância é esquecida porque as lembranças são conflitantes, dolorosas. Eliminamos da consciência tudo aquilo que traz conflito ao mandar para o inconsciente. Nessa visão, o ser humano sofre os efeitos dessas memórias encobertas pelo resto da vida. Daí viriam alguns medos e traumas.
http://www.minhavida.com.br/familia/... - adaptado