Questões de Português - Denotação e Conotação para Concurso
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RESPEITO À DIVERSIDADE
A polêmica em torno do comercial do Boticário para o Dia dos Namorados, o debate a respeito da chegada de refugiados haitianos e africanos ao Brasil e as manifestações religiosas de católicos e evangélicos no dia de Corpus Christi são alguns fatos recentes que evidenciam a urgência de um exercício da diversidade no país. Se a população brasileira abriga segmentos que pensam diferente a respeito de religião, tradição, costumes, política e organização familiar, precisa encontrar caminhos para que essa multiplicidade cultural não gere conflitos nem comportamentos agressivos. Fatos recentes, especialmente os relacionados com as reações preconceituosas à acolhida aos haitianos, demonstram que ainda temos um longo caminho a percorrer.
No caso da propaganda dirigida ao 12 de junho, a intenção de exaltar o romantismo, considerando que todos os casais, héteros ou homoafetivos, têm esse direito, acabou por desencadear ataques à marca e à diversidade de gênero. A liberdade de manifestação foi contagiada por alguns exageros. Qualquer pessoa tem o direito de defender suas convicções, e essas devem ser respeitadas, se forem expressas no limite das leis e das regras de convivência. Ressalte-se também que nenhuma sociedade será homogênea a ponto de fazer com que todos pensem da mesma forma sobre os mais variados assuntos, especialmente na área dos costumes.
Ao contrário, é a diversidade de comportamentos e de pontos de vista que dá sentido a uma comunidade em que prevaleça o respeito à democracia. Tanto que ninguém deve ser submetido a constrangimentos por, supostamente, ser considerado conservador ou retrógrado em relação a inovações ou mudanças nas formas de relacionamento. O respeito, no entanto, somente será completo se for marcado pelo sentimento de reciprocidade. Diferentes, sob quaisquer aspectos, não podem ser discriminados pelo que pensam ou fazem. É mais do que uma imposição legal – é uma norma pétrea da convivência em sociedades civilizadas.
Além da Constituição e das leis, que regem a igualdade e os direitos individuais e coletivos, é indispensável pregar e exercitar a tolerância, para que todos possamos viver em paz com nossas crenças e nossas visões de mundo. Essa é uma missão educadora das comunidades, das famílias, das escolas e das instituições.
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Considere o trecho:
Diferentes, sob quaisquer aspectos, não podem ser discriminados pelo que pensam ou
fazem. É mais do que uma imposição legal – é uma norma pétrea da convivência em
sociedades civilizadas.
A palavra destacada apresenta-se em sentido
TE
De todas as coisas pequenas, estava ali a menor de todas que eu já tinha visto. Não porque ela sofresse dessas severas desnutrições africanas - embora passasse fome-, mas pelo que eu saberia dela depois.
Teria uns 4 anos de idade, estava inteiramente nua e suja, o nariz catarrento, o cabelo desgrenhado numa massa disforme, liso e sujo. Chorava alto, sentada no chão da sala escura. A casa de taipa tinha três cômodos pequenos. Isso que chamei de sala não passava de um espaço de 2 m por 2 m, sem janelas. Apenas a porta, aberta na parte de cima, jogava alguma luz no ambiente de teto baixo e chão batido.
Isso aconteceu na semana passada, num distrito de Sertânia, cidade a 350 km de Recife, no sertão de Pernambuco. A mãe e os outros seis filhos ficaram na porta a nos espreitar, os visitantes estranhos. O marido, carregador de estrume, ganhava R$ 20 por semana, o que somava R$ 80 por mês. Essa a renda do casal analfabeto. Nenhum dos sete filhos frequentava a escola. Não havia água encanada. Compravam a R$ 4 o tambor de 24 litros.
O choro da menina seguia atrapalhando a conversa.
- Ei, por que você está chorando? perguntei, enfiando a cabeça no vão da porta. A menina não ouviu, largada no chão.
- Ei! Vem cá, eu vou te dar um presente - repeti. Ela olhou para mim pela primeira vez. Mas não se mexeu, ainda chorando.
- Como é o nome dela? - perguntei à mulher.
-A gente chama ela de Te -disse, banguela.
-Te? Mas qual o nome dela?-insisti.
- A gente chama ela de Te, que ela ainda não foi batizada não.
- Como assim? Ela não tem nome? Não foi registrada no cartório?
- Não, porque eu ainda não fui atrás de fazer.
Te. Olhei de novo para a menina. Era a menor coisa do mundo, uma pessoa sem nome. Um nada. “Te” era antes da sílaba - era apenas um fonema, um murmúrio, um gemido. Entendi o choro, o soluço, o grito ininterrupto no meio da sala. A falta de nome impressionava mais do que a falta de todo o resto.
Te chorava de uma dor, de uma falta avassaladora. Só podia ser. Chorava de solidão, dessa solidão dos abandonados, dos que não contam para nada, dos que mal existem. Ela era o resultado concreto das políticas civilizadas (as econômicas, as sociais) e de todo o nosso comportamento animal: o de ir fazendo sexo e filhos como os bichos egoístas que somos, enfim.
Era como se aquele agrupamento humano (uma família?) vivesse num estágio qualquer pré- linguagem, em que nomear as coisas e as pessoas pouco importava. Rousseau diz que o homem pré-histórico não precisava falar para se alimentar. Não foi por causa da comida que surgiu a linguagem. “O fruto não desaparece de nossas mãos”, explica. Por isso não era necessário denominá-lo.
As primeiras palavras foram pronunciadas para exprimir o que não vemos, os sentimentos, as paixões, o amor, o ódio, a raiva, a comiseração. “Só chamamos as coisas por seus verdadeiros nomes quando as vemos em suas formas verdadeiras.” Só quando Te viu a coisa na minha mão se calou.
- Ei, Te, olha o que eu tenho para te dar!
Ela virou-se na minha direção. Fez-se um silêncio na sala. Era uma bala enrolada num papel verde, com letras vermelhas. Então ela se levantou, veio até a porta e pegou o doce, voltou para o mesmo lugar e recomeçou seu lamento.
Nem a bala serviu de consolo. Era tudo amargura. Só restava chorar, chorar e chorar por essa morte em vida, por essa falta de nome, essa desolação.
FELINTO, Marilene. Te. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30 jan.
2001. Brasil, Cotidiano, p. C2.
INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à questão.
( ) Predomina exclusivamente a norma culta da língua na modalidade escrita. ( ) Em ... somos exilados da própria vida, último parágrafo, o adjetivo destacado está empregado no sentido metafórico, para sugerir sentido de distanciamento. ( ) No terceiro parágrafo, ao se referir ao tempo passado, a autora recorre a formas verbais que indicam estados durativos, ainda não terminados. ( ) Os adjetivos desdentadas, malcheirosas, despossuídas são formados pelo processo de composição. ( ) Em Não havia um milhão de coisas que facilitam, ampliam, iluminam – ou atormentam – nossa vida, a autora recorre à hipérbole como recurso persuasivo.
Assinale a sequência correta.
No que se refere aos aspectos linguísticos do texto acima e à literatura brasileira, julgue o item a seguir.
O verbo “encabrestar” (linha 22) foi empregado no texto
em sentido figurado.
Levantadores de copo
Eram quatro e estavam ali já há algum tempo, entornando seu uisquinho.
A conversa não era novidade. Aquela conversa mesmo, de bêbado, de língua grossa. Um cantarolava um samba, o outro soltava um palavrão dizendo que o samba era ruim. Vinha uma discussão inconsequente, os outros dois separavam, e voltavam a encher os copos.
Aí a discussão ficava mais acalorada, até que entrasse uma mulher no bar. Logo as quatro vozes arrefeciam. Não há nada melhor para diminuir tom de voz, em conversa de bêbado, do que entrada de mulher em bar. Mas, mal a distinta se incorporava aos móveis e utensílios do ambiente, tornavam à conversa em voz alta.
Foi ficando mais tarde, eles foram ficando mais bêbados. Então veio o enfermeiro (desculpem, mas garçom de bar de bêbado é muito mais enfermeiro do que garçom). Trouxe a nota, explicou direitinho quanto era etc., etc., e, depois de conservar nos lábios aquele sorriso estático de todos os que ouvem espinafração de bêbado, agradeceu a gorjeta, abriu a porta e deixou aquele cambaleante quarteto ganhar a rua.
Os quatro respiraram fundo para limpar os pulmões da fumaça do bar e foram seguindo calçada abaixo, rumo a suas residências. Eram casados os quatro. Mas a bebida era muita para que qualquer um deles se preocupasse com as espinafrações da esposa.
Afinal chegaram. Pararam em frente a uma casa e um deles, depois de errar várias vezes, conseguiu apertar o botão da campainha. Uma senhora sonolenta abriu a porta e foi logo entrando de sola.
- Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbados, não é?
Foi aí que um dos bêbados pediu:
- Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros três querem ir para casa.
Stanislaw Ponte Preta, O Melhor de Stanislaw
Ponte Preta, Livraria José Olympio Editora (adaptação).
No que se refere às ideias e aos sentidos do texto CB2A6AAA e à sua classificação quanto ao tipo e ao gênero textual, julgue o próximo item.
O vocábulo “miragem” (l.6) foi empregado no texto em
sentido figurado.
TEXTO 2 - O Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, é uma lei bem justa e generosa, ainda largamente ignorada em suas medidas de proteção e promoção. Mesmo quanto às sanções previstas no estatuto, antes de se chegar à internação, há uma série de outras menos severas, como a advertência, a prestação de serviços à comunidade e a liberdade assistida, que são frequentemente ignoradas, passando-se diretamente à privação de liberdade, mesmo em casos em que isso não se justifica. Os poderes públicos, inclusive o Judiciário, estão em dívida com a sociedade por conta da inobservância do estatuto em sua integralidade.
Reconheço que a punição não é o único remédio para a violência
cometida pelos jovens. Evidentemente, políticas sociais,
educação, prevenção, assistência social são medidas que, se
aplicadas no universo da população jovem, terão o condão,
efetivamente, de reduzir a violência. Mas, em determinados
casos, é preciso uma punição mais eficaz do que aquelas
preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. (Aloysio
Nunes Ferreira, Época).
“Reconheço que a punição não é o único remédio para a violência cometida pelos jovens. Evidentemente, políticas sociais, educação, prevenção, assistência social são medidas que, se aplicadas no universo da população jovem, terão o condão, efetivamente, de reduzir a violência. Mas, em determinados casos, é preciso uma punição mais eficaz do que aquelas preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente”.
Nesse segmento do texto 2, o termo empregado em sentido
conotativo (ou figurado) é:
As intermitências da morte
(Fragmento)
A morte conhece tudo a nosso respeito, e talvez por isso seja triste. Se é certo que nunca sorri, é só porque lhe faltam os lábios, e esta lição anatômica nos diz que, ao contrário do que os vivos julgam, o sorriso não é uma questão de dentes. Há quem diga, com humor menos macabro que de mau gosto, que ela leva afivelada uma espécie de sorriso permanente, mas isso não é verdade, o que ela traz à vista é um esgar de sofrimento, porque a recordação do tempo em que tinha boca, e a boca língua, e a língua saliva, a persegue continuamente. Com um breve suspiro, puxou para si uma folha de papel e começou a escrever a primeira carta deste dia, Cara senhora, lamento comunicar-lhe que a sua vida terminará no prazo irrevogável e improrrogável de uma semana, desejo-lhe que aproveite o melhor que puder o tempo que lhe resta, sua atenta servidora, morte. Duzentas e noventa e oito folhas, duzentos e noventa e oito sobrescritos, duzentas e noventa e oito descargas na lista, não se poderá dizer que um trabalho destes seja de matar, mas a verdade é que a morte chegou ao fim exausta. Com o gesto da mão direita que já lhe conhecemos fez desaparecer as duzentas e noventa e oito cartas, depois, cruzando sobre a mesa os magros braços, deixou descair a cabeça sobre eles, não para dormir, porque morte não dorme, mas para descansar. Quando meia hora mais tarde, já refeita da fadiga, a levantou, a carta que havia sido devolvida à procedência e outra vez enviada, estava novamente ali, diante das suas órbitas atônitas.
Se a morte havia sonhado com a esperança de alguma surpresa que a viesse distrair dos aborrecimentos da rotina, estava servida. [...] Entre ir e vir, a carta não havia demorado mais que meia hora, provavelmente muito menos, dado que já se encontrava em cima da mesa quando a morte levantou a cabeça do duro amparo dos antebraços, isto é, do cúbito e do rádio, que para isso mesmo é que são entrelaçados. Uma força alheia, misteriosa, incompreensível, parecia opor-se à morte da pessoa, apesar de a data da sua defunção estar fixada, como para toda a gente, desde o próprio dia do nascimento. É impossível, disse a morte à gadanha silenciosa, ninguém no mundo ou fora dele teve alguma vez mais poder do que eu. eu sou a morte, o resto é nada. As intermitências da morte (Fragmento)
SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 139-40