Questões de Português - Denotação e Conotação para Concurso
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Texto para a próxima questão
Dado o colapso da atividade econômica, porém, jogaram a toalha.
Analisando-se o sentido que a expressão “jogaram a toalha" confere ao texto, conclui-se que ela está construída em sentido
No colo da mulher, o Duquinha, também só osso e pele, levava, com um gemido abafado, a mãozinha imunda, de dedos ressequidos, aos pobres olhos doentes.
E com a outra tateava o peito da mãe, mas num movimento tão fraco e tão triste que era mais uma tentativa do que um gesto.
Lentamente o vaqueiro voltou as costas; cabisbaixo, o Pedro o seguiu.
E foram andando à toa, devagarinho, costeando a margem da caatinga.
(Rachel de Queiroz, O Quinze)
Usa-se o diminutivo em “a mãozinha imunda” para expressar, em linguagem figurada,
Era uma vez o sonho de morar na grande cidade. O paraíso das oportunidades, do emprego bem remunerado, do hospital equipado e do acesso mais amplo aos serviços públicos. O centro do lazer cultural e do bem-estar. A promessa da mobilidade social e funcional.
A metrópole virou megalópole e, hoje, São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram ambientes hostis ao cidadão de qualquer classe social que precise se deslocar da casa para o trabalho. As “viagens” diárias dificultam conciliar família e profissão.
Hoje, mais da metade da população (54%) tem algum carro. O Brasil privilegiou a indústria automobilística, facilitou a compra de veículos, e a classe média aumentou em tamanho e poder de consumo. Todos acreditaram que chegariam ao paraíso. Ficaram presos no congestionamento.
Quem mais fica engarrafada nas ruas é a classe média, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa, com base em dados de 2012, revela que os muito pobres e os muito ricos gastam menos tempo no deslocamento casa-trabalho do que a classe média. Os ricos, porque podem morar perto do trabalho – sem contar os milionários, que andam de helicóptero. Os muito pobres, sem dinheiro para a passagem, tendem a se restringir a trabalhar bem perto de onde moram ou acordam às 4 horas da manhã para evitar congestionamento. Como não se investiu em trem e metrô – muito menos em sistemas inteligentes de transporte –, estouramos os limites da civilidade. E que se lixem os impactos ambientais, a poluição e a rinite.
– A classe média vai ao inferno. (título)
– Todos acreditaram que chegariam ao paraíso. (terceiro parágrafo)
Os termos destacados nos enunciados estão empregados em sentido
ESCOLA IDEAL PARA ALUNOS NÃO IDEAIS
Cláudio de Moura Castro
Na segunda metade do século XIX, dom Pedro II transformou a primeira escola pública secundária do
Brasil em um modelo inspirado no colégio Louis Le Grand, reputado como o melhor da França. Mantiveram-se na
sua réplica brasileira as exigências acadêmicas do modelo original. O próprio dom Pedro selecionava os professores,
costumava assistir a aulas e arguir os alunos. Sendo assim, o colégio que, mais adiante, ganhou o seu nome
constituiu-se em um primoroso modelo para a educação das elites brasileiras. Dele descendem algumas excelentes
escolas privadas.
Mais tarde do que seria desejável, o ensino brasileiro se expande, sobretudo no último meio século. Como é inevitável, passa a receber alunos de origem mais modesta e sem o ambiente educacional familiar que facilita o bom desempenho. Sendo mais tosca a matéria-prima que chega, em qualquer lugar do mundo não se podem esperar resultados equivalentes com o mesmo modelo elitista.
Os países de Primeiro Mundo perceberam isso e criaram alternativas, sobretudo no ensino médio. A melhor escola é aquela que toma alunos reais - e não imaginários - e faz com que atinjam o máximo do seu potencial. Se os alunos chegam a determinado nível escolar com pouco preparo, o pior cenário é tentar ensinar o que não conseguirão aprender. O conhecimento empaca e a frustração dispara.
Voltemos a 1917, às conferências de Whitehead em Harvard. Para ele, o que quer que seja ensinado, que o seja em profundidade. Segue daí que é preciso ensinar bem o que esteja ao alcance dos alunos, e não inundá- los com uma enxurrada de informações e conhecimentos. Ouvir falar de teorias não serve para nada. O que se aprende na escola tem de ser útil na vida real.
Se mesmo os melhores alunos das nossas melhores escolas são entulhados com mais do que conseguem digerir, e os demais, os alunos médios? Como suas escolas mimetizam as escolas de elite, a situação é grotesca. Ensina-se demais e eles aprendem de menos. Pelos números da Prova Brasil, pouco mais de 10% dos jovens que terminam o nível médio têm o conhecimento esperado em matemática! A escola está descalibrada do aluno real.
Aquela velha escola de elite deve permanecer, pois há quem possa se beneficiar dela. Mas, como fizeram os países educacionalmente maduros, respondendo a uma época de matrícula quase universal, é preciso criar escolas voltadas para o leque variado de alunos.
Nessa nova escola, os currículos e ementas precisam ser ajustados aos alunos, pois o contrário é uma quimera nociva. Na prática, devem-se podar conteúdos, sem dó nem piedade. É preciso mostrar para que serve o que está sendo aprendido. Ainda mais importante, é preciso aplicar o que foi aprendido, pois só aprendemos quando aplicamos. A escola deve confrontar seus alunos com problemas intrigantes e inspiradores. E deve apoiá-los e desafiá-los para que os enfrentem. No entanto, sem encolher a quantidade de matérias, não há tempo para mergulhar em profundidade no que quer que seja.
Atenção! Não se trata de uma escola aguada em que se exige menos e todos se esforçam menos. Sabemos que bons resultados estão associados a escolas que esperam muito de seus alunos, que acreditam neles. A diferença é que se vai exigir o que tem sentido na vida do estudante e está dentro do que realisticamente ele pode dominar. Precisamos redesenhar uma escola voltada para os nossos alunos, e não para miragens e sonhos. Quem fará essa escola? [...]
Revista Veja, 05 fev. 2014 (adaptado).
[...] O Brasil tem dessas coisas, é um país maravilhoso, com o português como língua oficial, mas cheio de dialetos diferentes.
No Rio de Janeiro, é “e aí merrmão ! CB, sangue bom!" Até eu entender que merrmão era “meu irmão" levou um tempo. Para conseguir se comunicar, além de arranhar a garganta com o erre, você precisa aprender a chiar como chaleira velha: “ vai roláumaschparadaschischperrtasch".[...]
Em Mins, quer dizer, em Minas, eles engolem letras e falam Belzonte, Nossenhora, Doidemais da conta, sô! Qualquer objeto é chamado de trem. Lembrei daquela história do mineirinho na plataforma da estação. Quando ouviu um apito, falou apontando as malas: “Muié, pega os trem que o bicho tá vindo".[...]
Mas o lugar mais interessante de todos é Florianópolis, um paraíso sobre a terra, abençoado por Nossa Senhora do Desterro. Os nativos tradicionais, conhecidos como Manezinhos da Ilha, têm o linguajar mais simpático da nossa língua brasileira. Chamam lagartixa de crocodilinho da parede. Helicóptero é avião de rosca (que deve ser lido roschca). Carne moída é boi ralado. Se você quiser um pastel de carne, precisa pedir um envelope de boi ralado. Telefone público, o popular orelhão, é conhecido como poste de prosa e a ficha de telefone é pastilha de prosa. Ovo eles chamam de semente de galinha e motel é lugar de instantinho.[...]
I - O autor trata de variedades existentes na língua portuguesa do Brasil, enfocando diferenças de pronúncia e de vocabulário.
II - A pronúncia das letras r e s pelos cariocas pode ser caracterizada como pedante, pois se julgam os que falam melhor o português.
III - A descrição do linguajar dos nativos tradicionais de Florianópolis não apresenta traço de preconceito linguístico.
IV - O autor expressa ponto de vista de conotação negativa e preconceituosa sobre os falares do Rio de Janeiro e de Minas.
Está correto o que se afirma em
Alternativa
Envelhecer é chato, mas consolemo‐nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro. Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isso vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de experimentar a alternativa.
Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e armado. Tivemos vinte anos desta alternativa e quem tem saudade dela precisa ser constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era investigação pra valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia a Presidência passando de general para general sem consulta popular, repressão criminosa à divergência, uma política econômica subserviente a um “milagre” econômico enganador. Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.
Ao contrário da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição aprendida. E, para garantir‐se que a alternativa não se repita, é preciso cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja. Melhor uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa, mas incontestável. Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia de Brasília lhe enojar, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos, respire fundo e pense na alternativa.
Sequer pensar que a alternativa seria preferível – como tem gente pensando – equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida – e o voto.
(Adaptado. Veríssimo, O Globo, 30/6/2013)
Para responder à questão, leia o texto do encarte publicitário, veiculado por empresa fabricante de purificadores de água, e observe que o adjetivo transparentes refere-se tanto à água como ao fabricante.
Até pouco tempo atrás, apontar alguém como ambicioso era quase uma ofensa no Brasil. A palavra, carregada de conotação negativa, era praticamente um pecado. A má impressão nasceu da confusão que as pessoas fazem com a ganância – sentimento que faz o indivíduo passar por cima de tudo e de todos. Hoje, porém, a ambição está sendo redimida e seu verdadeiro significado resgatado.
A palavra vem do latim ambi dire, que significa “entre dois caminhos". Basicamente, escolher para alcançar um objetivo. É um adjetivo positivo, que define as pessoas determinadas. É o combustível daqueles que vão atrás de desejos pessoais e profissionais. E o brasileiro está mais afinado com essas ideias do que o senso comum supõe. Uma pesquisa da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), de 2009, concluiu que 41% da população se define como ambiciosa.
Essa visão mais moderna, que eleva a ambição a uma espécie de força motriz do sucesso, transformou-a também em objeto de curiosidade científica mundo afora. É possível medi-la? Podemos turbiná-la? Ela tem explicação biológica? Já há respostas para algumas dessas perguntas. Estudos mostram, por exemplo, que a ambição, essa mistura de energia com determinação, se manifesta no sistema límbico, área do cérebro relacionada às emoções e aos hábitos. Pesquisadores da Universidade de Washington usaram imagens cerebrais para investigar a persistência – a habilidade de focar em uma tarefa até terminá-la –, considerada a mola propulsora da ambição. Eles recrutaram um grupo de estudantes e deram a cada um deles questionários elaborados para mensurar o nível de perseverança por meio de um aparelho de ressonância magnética, que registrava o que se passava na cabeça dos alunos. Em geral, os estudantes com as maiores pontuações (os mais persistentes) apresentaram maior atividade na região límbica.
Mas não há consenso entre os especialistas sobre em que medida a ambição está dentro de todos. Para uns, a educação é a maior influência. Para outros, é um sentimento inerente ao ser humano e depende apenas de autoconhecimento para vir à tona. A única certeza é que quem opta por ficar numa zona de conforto, sem enfrentar desafios, acaba jogado de um lado para o outro, sem tomar as rédeas da própria vida. As circunstâncias acabam por definir o futuro. E aí é mais cômodo culpar o destino, a sorte ou terceiros pelas mazelas.
“Quem pensa assim desconsidera que os vencedores estudaram muito, foram atrás, deram a cara para bater", diz a psicóloga Maria de Lurdes Damião, mestre em gestão de pessoas. O ambicioso incomoda, antes de mais nada, os acomodados, que, em vez de se mexerem, preferem criticar.
(Suzane G. Frutuoso. www.istoe.com.br. 12.02.2010. Adaptado)
Enfim o escândalo chegou ao topo, e novos capítulos ainda serão escritos. Na terça-feira 2 de junho, quatro dias depois de ser reeleito para seu quinto mandato na presidência da Federação Internacional de Futebol (Fifa), o suíço Joseph Blatter convocou a imprensa e renunciou. Sentia, disse, não ter “apoio no mundo futebolístico". O que ele não tem, na verdade, é a distância requerida a alguém na sua posição do lamaçal de corrupção, falcatruas e desvios de dinheiro que engolfou a Fifa nas últimas semanas e já levou sete dirigentes à prisão. A investigação, conduzida pela polícia americana, bateu nos últimos dias em Jérôme Valcke, braço-direito de Blatter, e foi aí que o chefe capitulou. O celebrado padrão Fifa, sabemos agora, esteve ancorado em estruturas corruptas que deixaram um legado nefasto para o Brasil. Um ano depois da Copa, o país do futebol tem estádios vazios, todos construídos a valores inexplicáveis e amargando prejuízos – ao contrário da Fifa, aliás, que amealhou lucro de 16 bilhões de reais com a megafesta de 2014.
Com base no texto, responda à questão.
O Desaparecido
Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
BRAGA, Rubem. A Traição das Elegantes . Rio de Janeiro:
Editora Sabiá. 1969, p. 112.
(Eliane Brum)
A alemã Anja Saile é agente literária de autores de língua portuguesa há mais de uma década. Não é um trabalho muito fácil. Com vários brasileiros no catálogo, ela depara-se com frequência com a mesma resposta de editores europeus, variando apenas na forma. O discurso da negativa poderia ser resumido nesta frase: “O livro é bom, mas não é suficientemente brasileiro". O que seria “suficientemente brasileiro"?
Anja (pronuncia-se “Ânia") aprendeu a falar a língua durante os anos em que viveu em Portugal (e é impressionante como fala bem e escreve com correção). Quando vem ao Brasil, acaba caminhando demais porque o tamanho de São Paulo sempre a surpreende e ela suspira de saudades da bicicleta que a espera em Berlim. Anja assim interpreta a demanda: “O Brasil é interessante quando corresponde aos clichês europeus. É a Europa que define como a cultura dos outros países deve ser para ser interessante para ela. É muito irritante. As editoras europeias nunca teriam essas exigências em relação aos autores americanos, nunca".
Anja refere-se ao fato de que os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador― já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira". Como se sabe, não estamos sós nessa xaropada. O desabafo de Anja, que nos vê de fora e de dentro, ao mesmo tempo, me remeteu a uma intervenção sobre a língua feita pelo escritor moçambicano Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia. Ele disse:
— A África tem sido sujeita a sucessivos processos de essencialização e folclorização, e muito daquilo que se proclama como autenticamente africano resulta de invenções feitas fora do continente. Os escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pedia-se que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como sua verdadeira etnicidade. Os jovens autores africanos estão se libertando da “africanidade". Eles são o que são sem que se necessite de proclamação. Os escritores africanos desejam ser tão universais como qualquer outro escritor do mundo. (...) Há tantas Áfricas quanto escritores, e todos eles estão reinventando continentes dentro de si mesmos.
[...]
— O mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de contadores de histórias. (...) O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. Os autores africanos que não escrevem em inglês – e em especial os que escrevem em língua portuguesa – moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.
[...]
Talvez os indígenas sejam a melhor forma de ilustrar essa miopia, forjada às vezes por ignorância, em outras por interesses econômicos localizados em suas terras. Parte da população e, o que é mais chocante, dos governantes, espera que os indígenas – todos eles – se comportem como aquilo que acredita ser um índio. Portanto, com todos os clichês do gênero. Neste caso, para muitos os índios não seriam “suficientemente índios" para merecer um lugar e para serem escutados como alguém que tem algo a dizer.
Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si.
[...]
Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ eliane-brum/noticia/2012/01/lingua-que-somos-lingua-que-podemos-ser.html>
TEXTO
O PREOCUPANTE AVANÇO DA CENSURA JUDICIAL
O Globo, 11/4/2014
O fim da censura, ainda no regime militar, e a garantia de liberdade de expressão explicitamente inscrita na Constituição de 1988 são marcos fundamentais da redemocratização do país. Foram conquistas árduas, que custaram sacrifícios à sociedade. No caso específico do direito à livre manifestação, trata-se de fruto de longo processo, que só se completou bem depois da volta dos militares aos quartéis e da promulgação da Carta: como entulho herdado da ditadura, perdurou como espasmo do autoritarismo na legislação brasileira a Lei de Imprensa, permanente ameaça a jornalistas e veículos de comunicação, até ser enviada ao lixo pelo Supremo Tribunal Federal, em 2009.
O país consagra, portanto, esse princípio inerente ao estado democrático de direito. E, em comparação com outras nações do continente, onde agravos à liberdade de expressão têm sido praticados sistematicamente, o Brasil é um exemplo positivo. Mas essa confrontação, se nos coloca em patamar diverso de Estados com governos autoritários, como Argentina, Venezuela e outros, por outro mitiga uma realidade na qual o exercício do jornalismo profissional e responsável está sujeito a inaceitáveis trancos. Caso explícito da chamada censura judicial, em geral requerida por agentes públicos contra veículos de imprensa e jornalistas em todo o país. (....)
Neste sentido, é positiva a iniciativa de
instituições como ONU, OEA, STF e CNJ de realizar,
no Rio, importante debate sob o tema Liberdade de
Expressão e Judiciário. É iniciativa bem-vinda para
aparar arestas, devolver ao país a plena acepção do
direito amplo e irrestrito à informação e restabelecer,
em definitivo, o princípio constitucional segundo
o qual a liberdade de expressão prescinde de
regulamentação.