Questões de Português - Denotação e Conotação para Concurso
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No segundo parágrafo do texto, o autor cita algumas situações que, segundo ele, “contribuem para a constante evolução da abominável corrupção”. Nas situações extraídas desse parágrafo e reproduzidas a seguir, percebe-se o emprego tanto da linguagem denotativa quando da conotativa.
Informe, em cada situação a seguir, se as expressões foram empregadas em sentido denotativo (D) ou em conotativo (C).
( ) não devolução do troco.
( ) ocupação de lugares reservados para idosos e deficientes.
( ) ato de furar a fila.
( ) agrado por fora.
( ) compra do voto político.
Informe, em cada situação a seguir, se as expressões foram empregadas em sentido denotativo (D) ou em sentido conotativo (C).
( ) não devolução do troco
( ) ocupação do lugar reservado para idosos e deficientes
( ) ato de furar fila
( ) agrado por fora
( ) compra do voto político
A ordem correta, de cima para baixo, é
TEXTO:
Como toda ansiedade, a angústia típica de nosso tempo machuca. Seu componente de irracionalidade é irrelevante para quem se sente mal. O escritório de estatísticas da Inglaterra divulgou recentemente uma pesquisa que é ao mesmo tempo um diagnóstico. Cerca de um sexto dos ingleses entre 16 e 74 anos se sente incapaz de absorver todo o conhecimento com que esbarra no cotidiano. Isso provoca tal desconforto que muitos apresentam desordens neuróticas.
O problema é mais sério entre os jovens e as mulheres. Quem foi diagnosticado com a síndrome do excesso de informação tem dificuldade até para adormecer. O sono não vem, espantado por uma atitude de alerta anormal da pessoa que sofre. Ela simplesmente não quer dormir para não perder tempo e continuar consumindo informações. Os médicos ingleses descobriram que as pessoas com quadro agudo dessa síndrome são assoladas por um sentimento constante de obsolescência, a sensação de que estão se tornando inúteis, imprestáveis, ultrapassadas. A maioria não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma sensação de desconforto – o que já é bastante ruim. (...)
O excesso de informação não escolhe idade nem sexo.
A paulista Renata Gukovas, de 13 anos, sabe exatamente o que é isso. Ela vai à escola, estuda japonês e inglês, joga basquete e handebol e participa de competições de matemática. “O que me falta na vida? Tempo. Queria que o dia tivesse trinta horas.” (...)
O americano Richard Saul Wurman, autor dos livros Ansiedade de Informação e Ansiedade de Informação 2, este último lançado no final do ano passado nos Estados Unidos e ainda não publicado no Brasil, sugere que as pessoas encarem o mundo como um grande depósito de material de construção. E o que fazer com a matéria-prima? Ora, diz ele, seja um arquiteto de sua própria catedral de conhecimento. A arma para isso é a “ignorância programada”, ou seja, a escolha criteriosa do que se quer absorver (...). O resto deve ser deixado de lado, como o compositor que intercala pausas de silêncio entre as notas para que a música faça sentido aos ouvidos. “A ansiedade de informação é o buraco negro que existe entre os dados disponíveis e o conhecimento. É preciso escapar dela”, observa Wurman. Ou, ao menos, não deixar que ela assuma proporções dolorosas para quem precisa ultrapassá-la no dia-a-dia.
(Cristiana Baptista. A dor de nunca saber o bastante. Veja: Comportamento, 5 de setembro de 2001 / com adaptações)
A HORA DA GERAÇÃO DIGITAL
“O impacto das redes sociais nos hábitos de consumo da Geração Internet é imenso e já perceptível. O poder da internet para descentralizar o conhecimento acarretou um profundo deslocamento de poder dos produtores para os consumidores. Os jovens da Geração Internet têm mais acesso a informações sobre produtos e serviços e podem discernir o valor real com mais facilidade do que as gerações anteriores. Mais do que nunca, as empresas precisam, para competir no mercado, de produtos realmente diferenciados, de um serviço melhor ou de um custo mais baixo, pois as deficiências de valor não podem ser escondidas com tanta facilidade. O valor real é evidenciado como nunca. A influência também está sendo descentralizada à medida que a Geração Internet se manifesta a partir das trincheiras modernas, também conhecidas como blogs. Blogs e outras mídias geradas por consumidores estão alterando as fontes de poder e de autoridade em nossa sociedade. Algumas dessas fontes têm uma capacidade surpreendente de influência, afastando a balança de poder de fontes mais tradicionais e reconhecidas. As empresas inteligentes entendem esse deslocamento de poder e o adotam”.
(Don Tapscott. A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos. p. 235. Editora Agir: São Paulo, 2010)
Com base no vocabulário utilizado no texto e nos seus aspectos semânticos, julgue o item seguinte.
No trecho “educação é dessas coisas que uma geração planta
hoje para só os netos colherem os frutos sazonados” (l.3-5), a
forma verbal “planta” foi usada em sentido denotativo.
Alguns advogados logo tentaram usar a cartada (1ª) da imaturidade juvenil para neutralizar (2ª), de vez, a culpabilidade de seus clientes, como se o cérebro imperfeito fosse a “verdadeira" causa dos crimes.
Em relação ao sentido das palavras destacadas, é correto afirmar:
O homem que espalhou o deserto
Quando menino, costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal, cortando folhas das árvores. Havia mangueiras, abacateiros, ameixeiras, pessegueiros e até mesmo jabuticabeiras. Um quintal enorme, que parecia uma chácara onde o menino passava o dia cortando folhas. A mãe gostava, assim ele não ia para a rua, não andava em más companhias. E sempre que o menino apanhava seu caminhão de madeira (naquele tempo, ainda não havia os caminhões de plástico, felizmente) e cruzava o portão, a mãe corria com a tesoura: tome filhinho, venha brincar com as suas folhas. Ele voltava e cortava. As árvores levavam vantagem, porque eram imensas e o menino pequeno. O seu trabalho rendia pouco, apesar do dia a dia constante, de manhã à noite.
Mas o menino cresceu, ganhou tesouras maiores. Parecia determinado, à medida que o tempo passava, a acabar com as folhas todas. Dominado por uma estranha impulsão, ele não queria ir à escola, não queria ir ao cinema, não tinha namoradas ou amigos. Apenas tesouras, das mais diversas qualidades e tipos. Dormia com elas no quarto. À noite, com uma pedra de amolar, afiava bem os cortes, preparando-as para as tarefas do dia seguinte. Às vezes, deixava aberta a janela, para que o luar brilhasse nas tesouras polidas.
A mãe, muito contente, apesar do filho detestar a escola e ir mal nas letras. Todavia, era um menino comportado, não saía de casa, não andava em más companhias, não se embriagava aos sábados como os outros meninos do quarteirão, não frequentava ruas suspeitas onde mulheres pintadas exageradamente se postavam às janelas, chamando os incautos. Seu único prazer eram as tesouras e o corte das folhas.
Só que, agora, ele era maior e as árvores começaram a perder. Ele demorou apenas uma semana para limpar a jabuticabeira. Quinze dias para a mangueira menor e vinte e cinco para a maior. Quarenta dias para o abacateiro que era imenso, tinha mais de cinquenta anos. E seis meses depois, quando concluiu, já a jabuticabeira tinha novas folhas e ele precisou recomeçar.
Certa noite, regressando do quintal agora silencioso, porque o desbastamento das árvores tinha afugentado os pássaros e destruído ninhos, ele concluiu que de nada adiantaria podar as folhas. Elas se recomporiam sempre. É uma capacidade da natureza, morrer e reviver. Como o seu cérebro era diminuto, ele demorou meses para encontrar a solução: um machado.
Numa terça-feira, bem cedo, que não era de perder tempo, começou a derrubada do abacateiro. Levou dez dias, porque não estava acostumado a manejar machados, as mãos calejaram, sangraram. Adquirida a prática, limpou o quintal e descansou aliviado.
Mas insatisfeito, porque agora passava os dias a olhar aquela desolação, ele saiu de machado em punho, para os arredores da cidade. Onde encontrava árvore, capões, matos, atacava, limpava, deixava os montes de lenha arrumadinhos para quem quisesse se servir. Os donos dos terrenos não se importavam, estavam em via de vendê-los para fábricas ou imobiliárias e precisavam de tudo limpo mesmo.
E o homem do machado descobriu que podia ganhar a vida com o seu instrumento. Onde quer que precisassem derrubar árvores, ele era chamado. Não parava. Contratou uma secretária para organizar uma agenda. Depois, auxiliares. Montou uma companhia, construiu edifícios para guardar machados, abrigar seus operários devastadores. Importou tratores e máquinas especializadas do estrangeiro. Mandou assistentes fazerem cursos nos Estados Unidos e Europa. Eles voltaram peritos de primeira linha. E trabalhavam, derrubavam. Foram do sul ao norte, não deixando nada em pé. Onde quer que houvesse uma folha verde, lá estava uma tesoura, um machado, um aparelho eletrônico para arrasar.
E enquanto ele ficava milionário, o país se transformava num deserto, terra calcinada. E então, o governo, para remediar, mandou buscar em Israel técnicos especializados em tornar férteis as terras do deserto. E os homens mandaram plantar árvores. E enquanto as árvores eram plantadas, o homem do machado ensinava ao filho a sua profissão.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Cadeiras
proibidas. São Paulo: Global, 2002.
I. A partir de determinado ponto a história adquire contornos fantásticos, ou seja, os fatos começam a parecer impossíveis, ou pelo menos improváveis.
II. Uma narrativa literária não precisa ter veracidade (qualidade do que é verdadeiro), mas sim verossimilhança, isto é, os fatos narrados precisam ser plausíveis. Podemos considerar o conto lido como inverossímil, ou seja, há algo de incoerente dentro do universo criado pelo autor.
III. Se considerarmos o conto como uma metáfora, podemos remeter seu desfecho a elementos do mundo real.
Qual a alternativa correta?
TEXTO III
NADA VALE A PENA - A ESCRITA E O IMPOSSÍVEL
Apenas
Utilizada pelas principais culturas antigas para desenhar e escrever, a pena se transmuta no universo do discurso. Parte destacada de um organismo vivo, ela se torna um instrumento que não interessa a não ser pelas marcas que imprime sobre uma superfície, que aguarda esse ato.
A pena também se transmuta em dor, pois pode assumir o significado de castigo e sofrimento. Forma de pagamento imposto devido à violação de uma lei, ela se torna uma saída através do martírio de um para se haver com o Outro. Dá pena, mas também vale a pena, pois ganha valor no pagamento de uma dívida.
Por derivação, encontramos outra acepção corrente do significante "pena", na língua portuguesa. Trata-se de um sentido figurado, que remete a um modo pessoal, singular de realizar ou executar algo, por exemplo: o estilo de escrita de um dado autor, sua unicidade. Trata-se de algo que se repete, sempre o mesmo.
É surpreendente descobrir que estilo é também antônimo de confusão ou seja, da ação de juntar, reunir, misturar (Houaiss, 2001). Nesse caso, na separação, estamos diante de outra saída para a dívida, embora não sem dor, como testemunham escritores fingi(dores) das dores que de fato sentem.
Da pena, chegamos à escrita, cuja etimologia remete ao latim scribère, que significa marcar com estilo, cujo diminutivo é estilete (id. ibid.). Trata-se de um ferro pontudo utilizado para escrever nas tábuas enceradas e nos blocos de argila nos primórdios da escrita, ou seja, um antecessor da pena.
O retorno do estilo, na pena e na escrita, é algo a ser notado. Marca pessoal de alguém ou marca escrita sobre uma superfície, o estilo é tanto aquilo que escreve, quanto está sempre no escrito. Nesse sentido, algo se repete no escrito e, ao mesmo tempo, separa, singulariza, desconfunde.
Há penas...
(CARREIRA, Alessandra Fernandes. Nada Vale a Pena - a Escrita e o Impossível. In. Leda Verdiani Tfouni (org.) Campinas, SP: Mercado de Letras,
2010, p. 17-18).
Responder à questão levando em conta o TEXTO II
TEXTO II
Leia, a seguir, o trecho de uma matéria de Monica Weinberg, publicada na revista Veja, Editora Abril, edição 2397, ano 47, nº 44, de 29 de outubro de 2014, na qual Marcelo Viana, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática, apresenta o seu pensamento, de forma crítica, sobre o desenvolvimento das condições de ensino e de pesquisas em matemática, de modo geral e, em particular, no Brasil.
A VITÓRIA DO MÉRITO
NO PANTEÃO
A matemática avançada no Brasil é um bom exemplo de como dá para alcançar a excelência em pouco tempo quando o norte é dado pelo mérito, e não por um discurso igualitarista que acaba nivelando todo mundo em uma zona de mediocridade. Nossa decisão de priorizar a qualidade foi tomada desde os primórdios, nos anos 50, e se preservou intacta graças, entre outras coisas, a uma particularidade que muito favorece a matemática: ela não demanda grandes equipes nem laboratórios para estar na fronteira, mas apenas uma mesa de trabalho, quando muito. É mais blindada, portanto, contra a burocracia, a escassez de dinheiro e a lentidão, que pesam sobre tantos círculos universitários. A matemática brasileira tem hoje relevância na cena mundial porque traz em seu DNA o rigor acadêmico como valor inegociável.
(...)
CONTRA O BICHO-PAPÃO
A matemática é uma matéria sequencial; se o aluno perde uma parte, a segunda vira um pesadelo indecifrável. Também exige do estudante que passe do plano do concreto para o abstrato, o que não é nada trivial. Os países que se saem melhor dominam bem esse processo de convidar o aluno a ir construindo os conceitos, tudo bem planejado, fruto de um trabalho árduo e sob a luz de um currículo - coisa que muitos brasileiros ainda repudiam em nome da diversidade. Não dá nem para pensar em competir com países como Coreia do Sul, China e Japão com os professores que temos hoje. Muitas faculdades deveriam, sim, ser fechadas pelo descalabro de conceder diploma a gente que não aprendeu nem o básico.
(...)
Minador do Negrão, no interior de Alagoas, está acostumada a conviver com o drama da seca. A recente estiagem secou os reservatórios de água, comeu o verde das pastagens e dizimou 20% do gado. A planície avermelhada, pontuada por mandacarus e palmas, é a mesma de 50 anos atrás, quando o município serviu de cenário para o longa-metragem Vidas Secas, inspirado no romance de Graciliano Ramos. Apesar da paisagem desoladora, o comércio local prospera como em nenhum outro momento de sua história. Muitos moradores atribuem o feito ao Bolsa Família, programa de transferência de renda do governo federal. “As pessoas aqui sobrevivem da agricultura. Se não chove, não tem nada. Agora, a mulher recebe o benefício, faz uma feirinha na cidade e alimenta a economia”, afirma a prefeita. Os repasses federais contemplam 872 famílias na cidade, mais de dois terços da população. “Não fosse essa renda, muita gente teria morrido de fome”.
O programa atende atualmente 13,8 milhões de famílias brasileiras, o equivalente a um quarto da população. O valor médio do benefício é de 152 reais. Para 2013, o orçamento previsto chega a 24 bilhões de reais. O elevado investimento tem retorno. Cada real transferido pelo governo gera 2,4 reais no consumo final das famílias, segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no dia 15. O efeito multiplicador não para por aí. Cada real gasto pelo programa resulta no incremento de 1,78 real no PIB. “Ao garantir uma renda mínima aos mais pobres, há um aumento do consumo que faz a economia prosperar”, afirma o economista Marcelo Neri, presidente do Ipea.
(CartaCapital, 30.10.2013. Adaptado)
Julgue (C ou E) o item a seguir, a respeito de elementos coesivos e do vocabulário do texto de M. Said Ali.
As formas verbais “sucumbe” (R.25) e “desterrando” (R.42), que
poderiam ser corretamente substituídas, respectivamente, por
não resiste e livrando-se de, foram assim empregadas no
texto: a primeira, em sentido denotativo, e a segunda, em
sentido conotativo.
Julgue (C ou E) o próximo item, relativos a aspectos gramaticais do texto de Graciliano Ramos.
A expressão “toda essa gente” (l.41) retoma o complemento do
adjetivo “cheias” no segmento de sentido conotativo “cheias de
nomes novos” (l.40).
Com base nas ideias desenvolvidas no texto anterior, julgue (C ou E) o item seguinte.
A frase “Tivemos damas das camélias em segunda mão”
(R. 13 e 14) expressa, em linguagem figurada, o que Graciliano
denomina “contrafação de literaturas estranhas” (R.34) e, como
indica o emprego da expressão “em segunda mão”, o
desapreço do autor à produção literária que revelava tal
influência.
Também, a fonte teve poucos mistérios. E já nasceu asmática ... pré-agônica. Méritos poucos. Serventia nenhuma. Ao contrário. Prestou um desserviço. Fez o coreto mudar-se. Foi para o jardim Ipiranga. [...] O coreto nunca mais falou.
Está naquela babilônia de camelôs... pontos de táxi...filas, não... ajuntamento de pessoas à espera dos ônibus.[...]
Tomar ônibus em Cuiabá é [...] positivamente um instante de convivência com a tortura.
Por isso, o coreto entristeceu. Virou ação em baixa. Caiu na escala de valores. E nunca mais falou!...
(SILVA, Cel. Octayde Jorge da. Tempos idos: tempos vividos. Cuiabá: Entrelinhas, 2013.)
Em relação a recursos linguísticos e discursivos utilizados no fragmento, analise as afirmativas.
I - A subjetividade do autor se mostra no uso de certas palavras, como É, Também, positivamente.
II - Por ser uma crônica, o tempo verbal que sobressai é o presente do indicativo para enfatizar o momento presente retratado.
III - As frases curtas são predominantes no texto, dando destaque às ideias ou maior valor à crítica, e são usadas também frases nominais.
IV - É utilizada linguagem conotativa, a exemplo de babilônia de camelôs, nasceu asmática, convivência com a tortura.
Está correto o que se afirma em
A palavra do texto, destacada, está empregada no sentido figurado em:
INSTRUÇÃO: Leia a tira abaixo e responda à questão.
No ditado popular, o efeito de sentido pretendido pelo uso da conjunção mas difere do pretendido pela conjunção portanto. Sobre esses efeitos de sentido, analise as afirmativas.
I - A palavra mas estabelece mudança na orientação daquilo que está sendo dito, quebrando a expectativa do leitor.II - O uso de mas denota que, mesmo demorada, a justiça não falha.
III - O termo portanto estabelece sentido de explicação ao que está sendo dito.
IV - O uso de portanto leva o leitor a interpretar aproveitem como conclusão de a justiça ser lenta.
Está correto o que se afirma em
A mulher punha-se então a falar, e falava uns cinqüenta minutos sobre as coisas todas que quisera ter e que o homem ruivo não lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o trem prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que, se não fosse o pai (que Deus o tenha!), ela jamais teria conhecido, porque em negra hora se casara com um homem que não prestava para nada, Não sei mesmo onde estava com a cabeça quando me casei com você, Velho.
Ele continuava com o livro aberto no peito, gostava muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz, ainda furiosa (mas sem saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo fechava o livro e ia conversar com o passarinho que se punha tão manso que se abrisse a portinhola poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinqüenta minutos das queixas, e como ele não respondia mesmo, ela se calava, exausta. Puxava-o pela manga, afetuosa, Vai, Velho, o café está esfriando, nunca pensei que nesta idade avançada eu fosse trabalhar tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa dessas vezes, esqueceu de fechar a portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era noite) a gaiola estava vazia. Ele então sentou-se no degrau de pedra da escada e ali ficou pela madrugada, fixo na escuridão. Quando amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da escada onde estava o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar sonolento de tão feliz. Por entre o pelo negro do gato desprendeu-se uma pequenina pena amarelo-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem inclinou-se para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse nada, nem mesmo quando o menino, que presenciara a cena, desatou a rir, Passarinho burro! Fugiu e acabou aí, na boca do gato!
Calmamente, sem a menor pressa, o homem ruivo guardou a pena no bolso do casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o menino parou de rir para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe, Mas ele até que parecia contente, Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro! A mulher então interrompeu o filho num sussurro, Ele ficou louco.
Quando formou-se a roda de vizinhos, o menino voltou a contar isso tudo, mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu de repente: o Pai era um homem alto, nunca tinha reparado antes como ele era alto. Não contou também que estranhou o andar do Pai, firme e reto, mas por que ele andava agora desse jeito? E repetiu o que todos já sabiam, que quando o Pai saiu, deixou o portão aberto e não olhou para trás.
TELLES, Lygia Fagundes. Invenção e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 95-97. (Fragmento)
A mulher punha-se então a falar, e falava uns cinqüenta minutos sobre as coisas todas que quisera ter e que o homem ruivo não lhe dera, não esquecer aquela viagem para Pocinhos do Rio Verde e o trem prateado descendo pela noite até o mar. Esse mar que, se não fosse o pai (que Deus o tenha!), ela jamais teria conhecido, porque em negra hora se casara com um homem que não prestava para nada, Não sei mesmo onde estava com a cabeça quando me casei com você, Velho.
Ele continuava com o livro aberto no peito, gostava muito de ler. Quando a mulher baixava o tom de voz, ainda furiosa (mas sem saber mais a razão de tanta fúria), o homem ruivo fechava o livro e ia conversar com o passarinho que se punha tão manso que se abrisse a portinhola poderia colhê-lo na palma da mão. Decorridos os cinqüenta minutos das queixas, e como ele não respondia mesmo, ela se calava, exausta. Puxava-o pela manga, afetuosa, Vai, Velho, o café está esfriando, nunca pensei que nesta idade avançada eu fosse trabalhar tanto assim. O homem ia tomar o café. Numa dessas vezes, esqueceu de fechar a portinhola e quando voltou com o pano preto para cobrir a gaiola (era noite) a gaiola estava vazia. Ele então sentou-se no degrau de pedra da escada e ali ficou pela madrugada, fixo na escuridão. Quando amanheceu, o gato da vizinha desceu o muro, aproximou-se da escada onde estava o homem ruivo e ficou ali estirado, a se espreguiçar sonolento de tão feliz. Por entre o pelo negro do gato desprendeu-se uma pequenina pena amarelo-acinzentada que o vento delicadamente fez voar. O homem inclinou-se para colher a pena entre o polegar e o indicador. Mas não disse nada, nem mesmo quando o menino, que presenciara a cena, desatou a rir, Passarinho burro! Fugiu e acabou aí, na boca do gato!
Calmamente, sem a menor pressa, o homem ruivo guardou a pena no bolso do casaco e levantou-se com uma expressão tão estranha que o menino parou de rir para ficar olhando. Repetiria depois à Mãe, Mas ele até que parecia contente, Mãe, juro que o Pai parecia contente, juro! A mulher então interrompeu o filho num sussurro, Ele ficou louco.
Quando formou-se a roda de vizinhos, o menino voltou a contar isso tudo, mas não achou importante contar aquela coisa que descobriu de repente: o Pai era um homem alto, nunca tinha reparado antes como ele era alto. Não contou também que estranhou o andar do Pai, firme e reto, mas por que ele andava agora desse jeito? E repetiu o que todos já sabiam, que quando o Pai saiu, deixou o portão aberto e não olhou para trás.
TELLES, Lygia Fagundes. Invenção e memória. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 95-97. (Fragmento)
A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.
I. O verbo usado na primeira oração é significativo, transitivo, por isso fundamental à ideia do predicado.
II. FURIOSA e FÚRIA são palavras usadas com sentido denotativo.
III. AINDA atribui valor de causa aos elementos aos quais se refere.
Está(ão) correta(s) apenas a(s) afirmativa(s):