Questões de Português - Flexão verbal de modo (indicativo, subjuntivo, imperativo) para Concurso
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Vale a história do copo meio cheio ou meio vazio. Para alguns é tempo de melancolia: choramos os que morreram, os que nos traíram, os que foram embora, os desejos frustrados, os sonhos perdidos, a fortuna dissipada, o emprego ruim, o salário pior ainda, a família pouco amorosa, a situação do país, do mundo, de tudo.
Muitos acorrem aos consultórios de psicólogos e psiquiatras: haja curativo para nossa mágoa e autovitimização.
Se formos mais otimistas, encararemos o ano passado, a vida passada, o eu que já fomos, como transições naturais. Não é preciso encarar a juventude, os primeiros sucessos, o começo de uma relação que já foi encantada, como perda irremediável: tudo continua com a gente.
Em lugar de detestar estes dias, podemos inventar e até curtir qualquer celebração que reúna amigos ou família. Não é essencial ser religioso: se os sentimentos, a família, as amizades, a relação amorosa forem áridos, invocar Deus não vai adiantar. Mas celebrar é vital - e nada como algumas datas marcadas para lembrar que a vida não é apenas luta; é também a possível alegria.
Não precisa ser com champanhe caro nem presentes que vão nos endividar pelo ano inteiro: basta algum gesto afetuoso verdadeiro, um calor humano que abrande aquelas feridas da alma que sempre temos.
(Lya Luft, Um band-aid na alma. Veja, 01.01.2014)
Se formos mais otimistas, encararemos o ano passado, a vida passada, o eu que já fomos, como transições naturais.
Substituindo-se a expressão verbal formos por fôssemos, o verbo da sequência, de acordo com a norma-padrão, deverá ser:
(Bill Watterson. Felino selvagem psicopata homicida São Paulo: Best News, 1996)
Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto.
Julgue o item a seguir, relativo às estruturas linguísticas e à organização das ideias do texto acima.
No texto, o uso do futuro do subjuntivo em “comandaria” (L.17) indica uma situação factual.
Acerca da organização das ideias e da estruturação linguística do
texto acima, julgue os itens seguintes.
A substituição de “continuemos” (l.15) por continuamos não prejudicaria a coesão e a correção textual.
Muito antes de Einstein contestar a ideia de tempo absoluto, muitas culturas do passado intuíam que, nessa matéria, tudo é relativo. A maré segue o relógio da lua. A noite traz o dia, mas depois se seguirá outra noite. Uma estação do ano é substituída por outra. Depois da lua cheia virá a lua nova. Tudo
se renova. Repetidamente.
A ideia de que o tempo tem uma direção, é irreversível, e caminha em linha reta não era uma unanimidade – tampouco uma obviedade. As marés, os solstícios, as estações, a movimentação dos astros no céu e o próprio comportamento biológico (o ciclo menstrual, as etapas de amadurecimento do corpo) fizeram muitos povos da Antiguidade sentir o tempo em termos de ritmos orgânicos, como se sua natureza fosse circular e repetitiva.
Os maias achavam que a história se repetiria a cada 260 anos. Esse período recebia o nome de lamat, após o qual o primeiro dia voltaria a acontecer. Os estoicos achavam que, toda vez que os planetas se alinhassem, retomando a mesma posição que ocupavam no início dos tempos, o Cosmo seria recriado. Não é por acaso que toda a trama de uma típica peça de teatro grego se resolvia num único dia – o tempo representado se fecha sobre si mesmo, ao encerrar um ciclo de representação.
Antes do Cristianismo, só os hebreus e os persas zoroastrianos adotavam a percepção progressiva do tempo. A crença no nascimento, morte e ressurreição de Cristo como fatos únicos, que não se repetiriam, foram se incorporando ao cotidiano ocidental com a popularização da Igreja. Aos poucos,
as culturas que residualmente cultuavam um eterno retorno passaram a considerar que o tempo se movimenta de um passado para um futuro.
Uma outra sensação passava a dominar. A linguagem preservou tais sensações culturais em torno do tempo. Muitas palavras que indicam duração tinham outros sentidos antes do tempo linear ganhar relevância cultural no Ocidente. Mar vem do latim mare ou maris. Vento vem de ventus, respiração dos
mares e de toda a terra. Da costa que banhou o latim e o grego estalaram ondas e ventanias de palavras, ecos da importância do oceano e dos ventos no cotidiano greco-latino. Assim, a palavra oportunidade, variante do latim opportunus, que significava em direção ao porto. São, de fato, oportunos os ventos que nos levam a bom porto. Em latim pré-clássico, essa palavra nomeava os ventos mediterrâneos que enfunavam as velas dos barcos.
(Luiz Costa Pereira Junior. Língua Portuguesa Especial.
Etimologia. São Paulo: Segmento, ano I, janeiro 2006,
p. 38 e 39, com adaptações)
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo em que se encontra o grifado acima está em:
Comparado ao tamanho dos rios amazônicos, o Tietê é um regato. Nas estatísticas, porém, é uma catarata de superlativos. Estudo mostra que o Tietê e seus afluentes formam a bacia hidrográfica mais populosa, mais rica e mais poluída do Brasil. É também a de maior desenvolvimento humano do país. Às suas margens ou perto delas moram 30 milhões de pessoas, a maior população ribeirinha do país, com médias de 10,6 anos de estudo e 75,3 anos de vida.
O rio Tietê nasce acima dos mil metros de altitude, nas encostas da Serra do Mar, em Salesópolis, a leste da capital. Corre 1.136 quilômetros para o interior, por 73 municípios paulistas. Deságua no rio Paraná, a 300 metros acima do nível do mar. São apenas 740 metros de desnível da nascente à foz, ou um metro de declive a cada quilômetro e meio de percurso, em média.
Mesmo assim, as quedas do Tietê são famosas desde antes dos bandeirantes. Para fugir desse trecho inicial tortuoso e cheio de corredeiras, a navegação rio abaixo entre os séculos XVIII e XIX começava em Araritaguaba, atual Porto Feliz, com destino às minas de ouro de Cuiabá. Por só poderem ser feitas em parte do ano, no período de cheia do rio, as expedições eram chamadas de monções.
As canoas, escavadas em troncos derrubados ao longo das margens do rio e de seus afluentes, levavam mantimentos, ferramentas e escravos para as minas, e traziam ouro. Hoje, a hidrovia Tietê-Paraná percorre 2,6 mil quilômetros e transporta 6 milhões de toneladas de carga anualmente, entre insumos e grãos. Um comboio de seis barcaças carregadas tira 210 carretas das estradas, gastando um quarto do combustível e emitindo um terço da quantidade de carbono.
O rio foi determinante na fundação da maior cidade do hemisfério sul e na ocupação do território ao seu redor. Nas últimas décadas, o desenvolvimento se estendeu do alto ao baixo Tietê. O desenvolvimento econômico e demográfico custou caro ao rio. A qualidade de suas águas, cristalinas em Salesópolis, passa de apenas "boa", para "ruim" e "péssima", à medida que avança pelo interior, e só volta a ficar boa em Barra Bonita. Nos últimos 30 quilômetros antes de chegar à sua foz, as águas do rio voltam a ter a mesma excelência dos primeiros 40 quilômetros de seu curso. O rio mais poluído do país se recupera e termina tão limpo quanto começou.
(Adaptado de: TOLEDO, José Roberto de; MAIA, Lucas de Abreu e BURGARELLI, Rodrigo. O Estado de S. Paulo, 22 de setembro de 2013, A26)
O verbo conjugado nos mesmos tempo e modo em que se encontra o grifado acima está em:
Quantas crianças de hoje, quando os pais lhes perguntam se querem brincar (em casa, na rua) ou ir até um shopping center, optam pela segunda alternativa? A julgar pelo número elevado de crianças em shoppings, principalmente nos ?ns de semana, inúmeras delas preferem circular por um lugar inteiramente pautado pelos valores da sociedade de consumo (todo fechado, com iluminação arti?cial) a se entregar a outro modo, menos previsível e mais inventivo, de gastar (investir?) o tempo. Sem contar aquelas cujos pais nem mesmo cogitaram a primeira opção...
Quem associa lazer e tempo livre ao verbo consumir talvez reveja algumas de suas crenças e posturas ao ver o documentário brasileiro Tarja Branca: a revolução que faltava, que faz uma defesa eloquente da brincadeira - lúdica, descompromissada, criativa - não apenas na infância, mas também na vida adulta. Dezenas de entrevistados (entre eles os músicos Antonio Nóbrega e Wandi Doratiotto, e os escritores Braulio Tavares, colunista de Carta Fundamental, e Marcelino Freire) lembram, em seus depoimentos ao ?lme, o que a vida cotidiana perde ao se esquecer do que todos sabíamos muito bem quando éramos crianças.
Uma das perguntas-chave do documentário: saberão disso também as crianças de hoje, boa parte delas vivendo em centros urbanos voltados para o trabalho e o consumo? Dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes (a mesma de Criança, a Alma do Negócio e Muito Além do Peso), Tarja Branca, cujo título refere-se a uma divertida “medicina psicolúdica”, proposta em um dos depoimentos - sugere, ao apresentar visões diversas sobre o tema, que a educação contemporânea se apropriou da brincadeira, sobretudo na escola, como um “conteúdo programático”. Tirou-lhe, portanto, o que havia de mais essencial, o improviso e a falta de regras, para cercá-la de planejamento e cuidados.
Como resultado dessa política, teríamos uma geração de crianças, especialmente das classes média e alta, que não foi devidamente apresentada ao universo brincante, ou à “linguagem do espontâneo, da alma”, como resume um dos entrevistados. Pais e professores tendem a extrair do ?lme re?exões sobre como se comportam em relação ao tema com seus ?lhos e alunos, mas a provocação de Rhoden pode despertar interesse também entre o público que não se encaixa em nenhum desses papéis, ao fazer um diagnóstico da sociedade de consumo, intolerante, em sua lógica perversa, com a cultura do ócio ou com o “?car sem fazer nada”.
(Adaptado de: cartafundamental.com.br)
Quantas crianças de hoje, quando os pais lhes perguntam se querem brincar (em casa, na rua) ou ir até um shopping center, optam pela segunda alternativa? A julgar pelo número elevado de crianças em shoppings, principalmente nos ?ns de semana, inúmeras delas preferem circular por um lugar inteiramente pautado pelos valores da sociedade de consumo (todo fechado, com iluminação arti?cial) a se entregar a outro modo, menos previsível e mais inventivo, de gastar (investir?) o tempo. Sem contar aquelas cujos pais nem mesmo cogitaram a primeira opção...
Quem associa lazer e tempo livre ao verbo consumir talvez reveja algumas de suas crenças e posturas ao ver o documentário brasileiro Tarja Branca: a revolução que faltava, que faz uma defesa eloquente da brincadeira - lúdica, descompromissada, criativa - não apenas na infância, mas também na vida adulta. Dezenas de entrevistados (entre eles os músicos Antonio Nóbrega e Wandi Doratiotto, e os escritores Braulio Tavares, colunista de Carta Fundamental, e Marcelino Freire) lembram, em seus depoimentos ao ?lme, o que a vida cotidiana perde ao se esquecer do que todos sabíamos muito bem quando éramos crianças.
Uma das perguntas-chave do documentário: saberão disso também as crianças de hoje, boa parte delas vivendo em centros urbanos voltados para o trabalho e o consumo? Dirigido por Cacau Rhoden e produzido pela Maria Farinha Filmes (a mesma de Criança, a Alma do Negócio e Muito Além do Peso), Tarja Branca, cujo título refere-se a uma divertida “medicina psicolúdica”, proposta em um dos depoimentos - sugere, ao apresentar visões diversas sobre o tema, que a educação contemporânea se apropriou da brincadeira, sobretudo na escola, como um “conteúdo programático”. Tirou-lhe, portanto, o que havia de mais essencial, o improviso e a falta de regras, para cercá-la de planejamento e cuidados.
Como resultado dessa política, teríamos uma geração de crianças, especialmente das classes média e alta, que não foi devidamente apresentada ao universo brincante, ou à “linguagem do espontâneo, da alma”, como resume um dos entrevistados. Pais e professores tendem a extrair do ?lme re?exões sobre como se comportam em relação ao tema com seus ?lhos e alunos, mas a provocação de Rhoden pode despertar interesse também entre o público que não se encaixa em nenhum desses papéis, ao fazer um diagnóstico da sociedade de consumo, intolerante, em sua lógica perversa, com a cultura do ócio ou com o “?car sem fazer nada”.
(Adaptado de: cartafundamental.com.br)
O mundo é dividido em nações, que é o nome que tem os países como o Brasil, o Japão, etc., mas não Rio de Janeiro, Cuiabá, Pernambuco, que isso não é nação, é cidade. Quase nunca a gente percebe que o mundo é dividido em nações porque aqui no Brasil só tem brasileiro e a gente fica pensando que o mundo é como o Brasil, mas em copas do mundo a gente percebe. Cada nação insiste em falar uma língua diferente. Não sei por que todo mundo não fala português, que é tão fácil que até criança pequena fala, sem precisar estudar, como precisa com todas as outras línguas. Na Suíça e na Bélgica eles falam muitas línguas, além do suíço e do bélgico. Na hora do hino, cada jogador canta numa língua e fica parecendo com a hora do recreio, quando todo mundo grita e ninguém entende, mas eles estão acostumados. Também no jogo cada um fala com o outro numa língua, e isso é uma maneira de confundir o outro time, que não sabe o que eles estão combinando.
Cada nação tem uma camisa diferente, para a gente saber de que nação a pessoa é, e isso não só os jogadores mas também as pessoas que vão assistir e até as pessoas nas ruas, no ônibus, no avião ou no metrô. A melhor é a de um país chamado Croácia, onde vivem os croatas, que são pessoas que gostam muito de jogar xadrez, por isso a camisa deles é como um tabuleiro de xadrez, como os quadradinhos branco e vermelho. Quando o jogo está chato, os jogadores param de jogar futebol, tiram a camisa, estendem ela no chão e jogam xadrez. O público de lá gosta muito mais, e canta e torce muito mais. A camisa da França é azul e os jogadores são chamados de “azuis”, mas na verdade só a camisa é azul, eles são brancos ou pretos, como todo mundo.
As nações têm bandeiras e hinos. Acho a bandeira do Brasil a mais bonita de todas, fora algumas, e muito bem feita para o futebol: tem o verde dos gramados, o amarelo da taça que o campeão vai ganhar e a bola. No meio tem uma faixa que quando o Brasil é campeão fica escrito campeão”, e quando não é fca escrito uma bobagem qualquer. Nunca vi tanta bandeira como agora. Algumas são sem graça, como as que têm só duas cores e uma cruz no meio. Outras são interessantes, principalmente para nós, meninas, como as que têm estrelinhas e outros desenhos. A da Costa Rica tem naviozinhos de um lado e do outro de uma terra com vulcões. Mostra como o país é fninho e como é difícil viver nele, todo mundo muito apertado, quase sem poder respirar, e ainda com medo de vulcão. A mais engraçada é a da Argentina, que tem um solzinho com olho, nariz e boca. É uma bandeira amiga das crianças. Meu pai não gosta que eu torça para a Argentina, mas eu torço, por causa do solzinho, e não falo para ele.
Antes do jogo tem os hinos e a televisão vai traduzindo o que eles estão cantando. Aí eu tenho medo. O da França diz para os filhos da pátria formarem batalhões e atacarem os inimigos. Deve ser terrível viver na França. Lá tem inimigos que querem estrangular as crianças, diz o hino deles. Os franceses cantam essas coisas como se não fosse nada demais, mas eu nunca vou querer ir lá na França. Esses países são muito inseguros. Nos Estados Unidos o hino explica que tem foguetes e bombas voando. Como os jogadores podem ser bonzinhos depois de cantar essas coisas? Teve um que mordeu um outro. Acho que foi pouco, coisas muito piores podiam acontecer. Podia acontecer de morrerem, por exemplo.Tem muito hino que fala de morrer. O da Itália pede que todos estejam prontos para morrer, porque a Itália chamou. Como é que pode chamar os outros para morrer? O do Uruguai pede para escolher a pátria ou o túmulo. O nosso do Brasil, que eu prefro, entre outros, porque não dá para entender as palavras, e por isso não ameaça ninguém, mesmo assim tem um pedaço que diz que a gente não teme a própria morte. A Fifa não devia deixar eles cantarem essas coisas. É um risco no fim do jogo o campo ficar cheio de mortos. Faz bem o jogador da França que não canta o hino deles, ainda mais um hino daqueles. Os nossos cantaram sempre, todos, e choraram muito. Não sei porque. Quem chorou mais, eu acho, foi o Thiago Silva. Aqui em casa até meu pai chorou. Eu não choro. Tenho mais o que fazer.
Toledo, R.P., Veja, 09/07/2014 (texto adaptado)
Sobre o fragmento acima, é INCORRETO afirmar que:
Estudante de Letras, mal chegado à faculdade, comecei a dar aulas de Português numa escola pública da periferia da cidade. Estava feliz porque gostei do trabalho de professor, nessa escola estadual frequentada sobretudo por comerciários, office boys, aprendizes de ofício, feirantes etc. Éramos quase todos da mesma idade, havia camaradagem entre nós.
Um dia convidei um grupinho dos mais chegados pra ir à minha casa ouvir música. “Música clássica", adverti. Preparei um programinha meio didático, dentro da sequência histórica, com peças mais ou menos breves que iam do canto gregoriano a Villa-Lobos. Comentava as diferenças de estilo, de sentimento, de complexidade. A sessão toda durou quase duas horas, incluindo minhas tagarelices. Gostaram muito.
Dois ou três dias depois, um deles (pobre, como os outros) apareceu na aula com um embrulho na mão. “Professor, comprei hoje isso pra mim. O senhor acha que essa música é boa?" Era um LP de Tchaikovsky, talvez com sinfonias ou aberturas, não me lembro. Disse que sim, e ele saiu todo sorridente. Imaginei a cena do dia: ele entrando numa casa de disco do centro da cidade e pedindo um “disco de música clássica". Venderam-lhe uma gravação barata, nacional.
Ao final do ano letivo despediu-se de mim (sairia da escola, concluído o primeiro grau) e me deixou na mão um bilhetinho. Não decorei as palavras, que eram poucas, mais ou menos estas: “Professor, muito obrigado por me fazer gostar de música clássica". Desmoronei um pouco, pensando em como este país poderia ser diferente. Não lhe disse, na hora, que a gente pode gostar naturalmente de qualquer música: é preciso que não obstruam nosso acesso a todos os gêneros musicais. E embora seja quase impossível que estas palavras cheguem ao meu antigo aluno, pergunto-lhe agora, com mais de quatro décadas de atraso: “Então, seu Carlos, gostou do Tchaikovsky?"
(Teotônio Ramires, inédito)
nossa dependência completa e absoluta do nosso planeta. Afinal, está sempre aqui, o chão sob nossos pés, a luz do Sol filtrada pela atmosfera, o azul do céu, o clima agradável e perfeito, para que possamos sobreviver.
Mas por trás disso tudo existe um planeta extremamente complexo que, sem ele, sem sua estabilidade orbital e climática, não estaríamos aqui. Eis algumas das razões para protegermos a Terra, um planeta sem igual, ao menos dentro de um raio de centenas de anos-luz daqui.
I. Nossa atmosfera, rica em oxigênio, permite que seres com um metabolismo mais complexo sobrevivam. É incrível que esse oxigênio todo tenha vindo de bactérias, os únicos habitantes que existiam aqui no planeta durante quase 3 bilhões de anos. Foram elas que “descobriram” a fotossíntese, transformando a composição da atmosfera terrestre. Agradeçam às cianobactérias pelo ar de cada dia.
II. Nossa atmosfera, rica em ozônio, filtra a radiação ultravioleta que vem do Sol, que é extremamente nociva à vida. Interessante que esse ozônio é produto da vida e, ao mesmo tempo, permite que ela persista aqui na superfície.
III. A água que temos aqui é uma preciosidade; sem ela, não haveria vida. Não sabemos de onde veio essa água toda, se bem que parte dela é oriunda de cometas que se chocaram com a Terra ainda em sua infância. Esse é o século em que a água se tornará um fator predominante de conflito global. Basta olhar para o planeta e ver a distribuição de água. O que o petróleo fez com a geopolítica do século 20, a água fará com a dos séculos 21 e 22.
IV. Nossa lua também é essencial. Por ser única e bastante maciça, ela regula e estabiliza o eixo de rotação da Terra, mantendo sua inclinação de 23,5° com a vertical. Pense na Terra como um pião inclinado, girando em torno de si mesmo. Sem a lua, esse eixo de rotação mudaria de ângulo aleatoriamente, e o clima não poderia ser estável. E, sem um clima estável, a vida complexa acaba se tornando inviável.
A lista continua, mas já dá para entender por que precisamos proteger esse planeta. Somos produtos dele, das suas condições. Se elas mudam, nossa sobrevivência fica ameaçada.
(Marcelo Gleiser. Folha de S.Paulo, 14.09.2014/Adaptado)
I. Nas tribulações do dia a dia, enquanto não .
II. Mas por trás disso tudo existe um planeta extremamente complexo ___________.
III. Basta olhar para o planeta e __________.
Revista Veja, edição 2360, de 12 de fevereiro de 2014, pág.84-89
É esse um dos lemas de uma modalidade de exercícios, o crossfit, cujo objetivo é levar o organismo ao limite da exaustão, e que começa a se multiplicar no Brasil
O gerente de marketing Gustavo Morcelli, de 35 anos, jamais experimentara algo igual. Fazia pelo menos uma década que ele estava habituado à prática regular de exercícios físicos. Puxava ferro nas salas de musculação, esfalfava-se no spinning e nos circuitos das academias tradicionais. Achou, portanto, que tiraria de letra a nova aula de ginástica. Morcelli deveria correr, fazer flexões e agachamentos repetidas vezes, o mais rápido possível.
Quinze minutos depois, rendido pela exaustão, ele desabou. Estava tonto e enjoado. [...] Desde então se passaram dois anos de treinos puxados. Tão pesados que há seis meses Morcelli chegou a vomitar - era sinal de que seu organismo chegara ao extremo.
Bruna Capelli dos Anjos também conhece a sensação de levar o organismo à exaustão. Com 25 anos, professora de ginástica (e, portanto, bem preparada fisicamente), ela terminava as aulas estatelada no chão, sem conseguir se mover por alguns minutos. [...]
Ultrapassar limites, vencer a exaustão, como Morcelli e Bruna fazem, são o combustível de uma modalidade esportiva que cresce vertiginosamente no Brasil, o crossfit. A técnica, desenvolvida pelo ginasta americano Greg Glassman, nos anos 90, e adotada pelo Exército americano, consiste na combinação de poucos exercícios, executados vigorosamente, em espaços curtíssimos de tempo, entre quatro e vinte minutos. O crossfit abrange uma centena de movimentos. [...] O objetivo é aperfeiçoar as principais habilidades físicas do ser humano - equilíbrio, agilidade, resistência, potência e força, por exemplo. Como uma aula de crossfit, em geral, está baseada em apenas três exercícios, a possibilidade de combinações de movimentos é enorme, o que não cansa os praticantes. Além disso, em uma sessão é possível queimar 800 calorias. Tem-se, assim, o cenário ideal para o sucesso da técnica. Até agora, são 20 000 praticantes no Brasil. O número de ginásios soma hoje 109 - em setembro de 2013 era a metade disso. No mundo já são 5000.
O espaço onde se pratica o crossfit em nada lembra as academias coloridas, arejadas e festivas. Nas salas de crossfit o ambiente é rústico, dificultando o desempenho do aluno. Elas estão montadas sobretudo em galpões e garagens, com pé-direito alto, raras janelas, poucos ventiladores e sem nenhum espelho. [...] Numa das visitas de VEJA a um recinto de crossfit em São Paulo, a temperatura ao ar livre era de 34 graus, mas a sensação térmica no galpão beirava os 40 graus. [...] As paredes dos ginásios e as camisetas suadas dos alunos, que não chegam a compor uma seita, mas são evangelizadores de uma causa, estampam gritos de guerra orgulhosos: “É uma honra morrer ao teu lado"; “Lugar de moleza é na academia"; “Nosso aquecimento é seu treino"; “Ninguém nunca se afogou no próprio 'suor". Em todas as aulas o desempenho de cada pupilo é anotado em um quadro, à vista de todos os outros praticantes, estimulando a competição e servindo de combustível para chegar ao limite. [...] Alguns praticantes, sobretudo os americanos, vão muito além do limite. Radicais, só se contentam em parar quando o organismo dá sinais de falência. Eles se gabam das mãos em carne viva e vibram quando vomitam.
Em uma sessão de crossfit, os índices de saúde sobem às alturas. O coração vai a 200 batimentos por minuto. O aluno usa até 80% da capacidade máxima de ventilação - em repouso, é de 20%. “Tais taxas dificilmente são atingidas em outros esportes", diz o fisiologista Paulo Zogaib, da Universidade Federal de São Paulo. O limite da resistência física pode manifestar-se de várias formas - tremedeira nos braços e pernas e enjoo e vômito [...]. Nenhum parâmetro, no entanto, é tão preciso quanto o descrito pelo treinador Joel Fridman: “Se você conseguir ultrapassar o limite, é porque ainda não chegou a ele". Isso é o crossfit.
Lya Luft
Um jornalista comentou recentemente num programa de televisão que pediu a um médico seu amigo um diagnóstico do que está ocorrendo no Brasil: infecção, virose? A resposta foi perfeita: “Falência múltipla dos órgãos”.
Nada mais acertado. Há quase dez anos realizo aqui na coluna minhas passeatas: estas páginas são minha avenida, as palavras são cartazes. Falo em relações humanas e seus dramas, porém mais frequentemente nas coisas inaceitáveis na nossa vida pública. Esgotei a paciência dos leitores reclamando da péssima educação — milhares de alunos sem escola ou abrigados em galpões e salinhas de fundo de igrejas, para chegarem aos 9, 10 anos sem saber ler nem escrever.
Professores desesperados tentando ensinar sem material básico, sem estrutura, salários vergonhosos, estímulo nenhum. Universidades cujo nível é seguidamente baixado: em lugar de darem boas escolas a todas as crianças e jovens para que possam entrar em excelentes universidades por mérito e esforço, oferecem-lhes favorecimentos prejudiciais.
Tenho clamado contra o horror da saúde pública, mulheres parindo e velhos morrendo em colchonetes no corredor, consultas para doenças graves marcadas para vários meses depois, médicos exaustos trabalhando além dos seus limites, tentando salvar vidas e confortar os pacientes, sem condições mínimas de higiene, sem aparelhamento e com salário humilhante.
Em lugar de importarmos não sei quantos mil médicos estrangeiros, quem sabe vamos ser sensatos e oferecer condições e salários decentes aos médicos brasileiros que querem cuidar de nós?
Tenho reclamado das condições de transporte, como no recente artigo “Três senhoras sentadas”: transporte caro para o calamitoso serviço oferecido. “Nos tratam como animais”, reclamou um usuário já idoso. A segurança inexiste, somos mortos ao acaso em nossas ruas, e se procuramos não sair de casa à noite somos fuzilados por um bando na frente de casa às 10 da manhã.
E, quando nossa tolerância ou resignação chegou ao limite, brota essa onda humana de busca de dignidade para todos. Não se trata apenas de centavos em passagens, mas de respeito.
As vozes dizem NÃO: não aos ônibus sujos e estragados, impontuais, motoristas sobrecarregados; não às escolas fechadas ou em ruínas; não aos professores e médicos impotentes, estradas intransitáveis, medo dentro e fora de casa. Não a um ensino em que a palavra “excelência” chega a parecer abuso ou ironia. Não ao mercado persa de favores e cargos em que transformam nossa política, não aos corruptos às vezes condenados ocupando altos cargos, não ao absurdo número de partidos confusos.
As reclamações da multidão nas ruas são tão variadas quanto nossas mazelas: por onde começar? Talvez pelo prático, e imediato, sem planos mirabolantes. Algo há de se poder fazer: não creio que políticos e governo tenham sido apanhados desprevenidos, por mais que estivessem alienados em torres de marfim.
Infelizmente todo movimento de massas provoca e abriga sem querer grupos violentos e anárquicos: que isso não nos prejudique nem invalide nossas reivindicações.
Não sei como isso vai acabar: espero que transformando o Brasil num lugar melhor para viver. Quase com atraso, a voz das ruas quer lisura, ética, ações, cumprimento de deveres, realização dos mais básicos conceitos de decência e responsabilidade cívica, que andavam trocados por ganância monetária ou ânsia eleitoreira.
Que sobrevenham ordem e paz. Que depois desse chamado à consciência de quem lidera e governa não se absolvam os mensaleiros, não se deixem pessoas medíocres ou de ética duvidosa em altos cargos, acabem as gigantescas negociatas meio secretas, e se apliquem decentemente somas que poderão salvar vidas, educar jovens, abrir horizontes.
Sou totalmente contrária a qualquer violência, mas este povo chegou ao extremo de sua tolerância, percebeu que tem poder, não quer mais ser enganado e explorado: que não se destrua nada, mas se abram horizontes reais de melhoria e contentamento.
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/lya-luft/
Tendências para as cadeias no futuro?
Na Malásia, uma equipe de designers e arquitetos elaborou um conceito de centro de detenção bastante diferente. O projeto consiste em um complexo prisional suspenso no ar, o que em teoria dificultaria as tentativas de fuga, devido à altura potencialmente fatal de uma queda e à visibilidade que o fugitivo teria aos olhos dos pedestres na parte de baixo.
A cadeia ainda teria espaços para manter um campo de agricultura, onde os detentos poderiam trabalhar para se autossustentar e até distribuir o excesso de alimento produzido para a sociedade. Fábricas e centros de reciclagem também serviriam a esse propósito.
Visando reduzir os custos necessários para manter dezenas de agentes carcerários, o teórico social Jeremy Betham projetou uma instituição que manteria todas as celas em um local circular, de forma que fiquem expostas simultaneamente. Dessa forma, apenas alguns poucos guardas posicionados na torre no centro do prédio já conseguiriam manter a vigilância sobre todos os detentos. Embora um presídio nesse estilo tenha sido construído em Cuba, ele nunca chegou a entrar em funcionamento.
Outra solução criativa foi pensada e realizada na Austrália, onde um centro de detenção foi elaborado a partir de containers de transporte de mercadorias em navios modificados para servir
como celas temporárias. Outra prisão na Nova Zelândia também passou a usar a mesma solução para resolver problemas de superlotação.
Entretanto, o conceito tem causado muita polêmica, pois as condições das celas em containers seriam desumanas — o que temos que levar em consideração em se tratando de um país tão quente. "Morar" em uma caixa de metal sob um sol de escaldar não deve ser nada agradável.
(Fernando Daquino, 04/ 11/2012 - Arquitetura)
Assinale a alternativa inadequada em relação a esse segmento do texto.
Instituições sem fins lucrativos são criadas para aproveitar oportunidades de captação de recursos ou isenções de impostos, geralmente para alcançar uma causa social não atendida pelo Poder Público.
A causa ê nobre, seja ela o assistencialismo, a educação ou os serviços a comunidades carentes. Com o crescimento desse setor, aumentam as solicitações para que a sociedade colabore com seus projetos de forma não remunerada, pois “não há fins lucrativos”
Há uma grave distorção nessa expectativa. Entidades sem fins lucrativos esperam que empresas forneçam seus produtos sem custo, assim como esperam que famílias sem dificuldades financeiras deixem de cuidar de seu futuro para amparar os fragilizados. Estamos criando uma insustentável cultura de tirar dos bem- sucedidos para assistir os desafortunados, como se o papel do lucro fosse ser distribuído à sociedade.
Empresas que geram resultados não deveriam dividi-los com os incapazes de erguer um negócio. Isso premia a incompetência. Somente quando os negócios produzem retornos maiores que o esperado (fruto do nvestimento em qualidade e tecnologia), os lucros excedentes podem virar filantropia.
Não é papel das empresas prestar serviços sem remuneração. O papel das empresas é prestar bons serviços, lucrar e investir seus lucros para que esses serviços sejam melhorados, mais empregos sejam gerados e mais impostos sejam pagos - essa é a ideia. Se o Estado é incapaz de fornecer a educação que ensine a pescar, cabe a ele usar sua arrecadação para sanar os problemas.
Quanto mais as famílias abrem mão de poupar para o futuro e praticam o assistencialismo, mais dependerão do governo para custear seu futuro. É um círculo perigosamente vicioso.
Quando me pedem para prestar um serviço sem fins lucrativos, subentendo que querem que eu trabalhe sem remuneração. Não faz sentido. Tenho fins lucrativos, com orgulho. Se meu trabalho cria valor, paguem o que ele vale. Quem não tem fins lucrativos é a instituição que contrata o serviço, não quem o presta.
Não ter fins lucrativos não deve credenciar ninguém a ser incompetente na captação de recursos. Prestar serviços para uma empresa sem fins lucrativos não deve ser uma caridade forçada. Lucrar, ou produzir resultados excedentes, é essencial para o crescimento de qualquer atividade. Devemos esperar das instituições competência técnica e gerencial para levantar fundos, administrar custos e pagar suas atividades sem corroer a capacidade produtiva da sociedade. Elas deveriam gerar resultados e reinvesti-los para que o atendimento a sua causa possa crescer. É tempo de lutar por mais profissionalismo nas causas sociais.
Gustavo Cerbasi, Publicado originalmente na Revista Época em 13/04/2013 disponível no site [maisdinheiro.com.br], consultado em 12/8/2013
Estamos criando uma insustentável cultura de tirar dos bem-sucedidos para assistir os desafortunados, como se o papel do lucro fosse ser distribuído à sociedade"
Sobre o verbo sublinhado no excerto é válido asseverar que: